Mais um ano se passa e as memórias do que aconteceu durante o período começam a ganhar vida novamente, especialmente quando nos preparamos para o ano que chega.
Em 2023, infelizmente, perdemos diversas personalidades, tanto nacionais quanto internacionais, que influenciaram e atuaram na causa LGBTQIAPN+ ao longo dos anos, se destacando por sua importância para a comunidade.
Relembre algumas delas:
Kaká di Polly
No início deste ano, Kaká di Polly , uma renomada drag queen , faleceu aos 63 anos devido a uma parada cardíaca. Kaká era conhecida como "a dona da cidade" e era uma das principais estrelas da arte transformista de São Paulo . Ela se tornou um ícone LGBTQIA+ nas décadas de 80 e 90.
Kaká, sempre subversiva, foi uma das principais responsáveis pela realização da 1ª Parada do Orgulho LGBT de São Paulo, em 1997, que se tornou uma das maiores do mundo.
Na ocasião, a ativista simulou um desmaio para distrair a polícia, que queria interromper o cortejo, permitindo que a multidão continuasse o trajeto pela avenida Paulista.
Georgina Beyer
Georgina Beyer , uma política da Nova Zelândia que se tornou a primeira deputada abertamente transgênero do mundo, faleceu aos 65 anos devido a problemas renais.
Georgina, que já foi atriz, drag queen, trabalhadora do sexo e apresentadora de rádio, nasceu em Wellington, mas se mudou para a Austrália quando era jovem. Após retornar à Nova Zelândia, ela se interessou pela carreira política e, em 1995, tornou-se prefeita de Carterton, uma cidade agrícola localizada a 80 km a nordeste de Wellington.
Nas eleições gerais da Nova Zelândia em 1999, Georgina abriu novos caminhos ao ganhar a cadeira de Wairarapa com uma maioria de 3.033 votos. No entanto, ela renunciou ao cargo em 2000, o que mais tarde disse ter sido um de seus maiores arrependimentos.
Georgina foi reeleita como deputada de Wairarapa em 2002 e permaneceu no parlamento até 2007. Suas políticas progressistas incluíam a luta pelos direitos LGBTQ+ e pelos direitos das trabalhadoras do sexo.
Darcelle XV
Darcelle XV, a drag queen mais velha em atividade segundo o Guinness World Records, faleceu aos 92 anos em março deste ano. A artista manteve um cabaré por mais de 50 anos em Portland, Oregon, nos EUA.
Antes de se apresentar como drag, Darcelle era conhecida como Walter W. Cole, Sr., e foi gerente de uma rede de varejo, dirigiu um café chamado Caffe Espresso, além de vários outros bares.
Em 1967, Walter comprou a Demas Tavern, no então violento bairro de Portland. Foi nesse momento que Darcelle XV surgiu, quando o artista tinha 37 anos. Ele afirmou que se tornar uma drag queen melhorou e até salvou sua vida.
Rachel Pollack
Rachel Pollack, criadora da primeira super-heroína transgênero da DC e autora de quadrinhos famosos da Patrulha do Destino, faleceu em abril deste ano aos 77 anos.
Rachel foi uma mulher trans e é considerada uma inspiração para diversos autores. Ela fez história ao criar a personagem Kate Godwin, conhecida pelo nome "Coagula", a primeira heroína trans da DC.
Rachel também levou assuntos relacionados à sexualidade e questões de gênero aos quadrinhos de Patrulha do Destino, quando assumiu os roteiros das publicações em 1993.
Andre Pomba
O jornalista, produtor cultural, DJ e ativista Andre Luiz Cagni, mais conhecido como Andre Pomba , nos deixou aos 59 anos em abril deste ano.
Andre foi baixista da banda de rock Vodu, produtor da banda Viper e lançou a revista Dynamite. Nos anos 1990, foi sócio do Dynamite Pub. No final da década de 90 criou a festa Grind, que recuperava hits do pop, rock e techno pop dos anos 80. A festa transformou-se no clube A Lôca, na rua Frei Caneca.
A Grind foi durante vários anos a principal festa da noite LGBT+ do domingo da cidade de São Paulo e reunia gays, lésbicas, héteros e celebridades. No seu clube, muitos artistas LGBT+ surgiram porque tinham a oportunidade de mostrarem sua arte, seja dentro da performance ou como DJ.
David Miranda
O ex-deputado federal David Miranda faleceu em maio deste ano, aos 37 anos, após passar nove meses internado. A morte se deu devido a uma infecção gastrointestinal e uma pancreatite.
David nasceu na favela do Jacarezinho, na zona norte do Rio de Janeiro , e perdeu a mãe aos 5 anos. Ele estava casado há 17 anos com Glenn Greenwald.
Foi eleito vereador pelo Rio em 2016. Ele e Marielle Franco (PSOL), assassinada a tiros em 2018, se tornaram os primeiros vereadores LGBTQIA+ assumidos na história da cidade e viraram amigos. Na Câmara, ele aprovou um projeto de lei que assegura o uso do nome social a pessoas transgêneros em toda a administração direta ou indireta da cidade.
Alexandre Ribondi
O artista Alexandre Ribondi , dramaturgo, diretor, ator, jornalista e sócio–fundador do Espaço Multicultural Casa dos Quatro, em Brasília , voltado à militância LGBTQIA+, faleceu em junho deste ano aos 70 anos.
Nascido no Espírito Santo , Alexandre desenvolveu sua carreira nos anos 1970, no Distrito Federal, escrevendo e atuando em peças teatrais de temática LGBTQIA+ como "Filó Brasiliense"(1975), "Os Rapazes da Banda" (1981), "Crépe Suzette, o Beijo da Grapette" (1980), "Abigail é Mais Velha que Procópio" (1986), "No Verão de 62" (1985), "A Última Vida de Um Gato" (2002), "Virilhas" (2005), "Felicidade "(2015) e "Mimosa" (2018).
Foi também colaborador do jornal Lampião, publicação LGBTQIA+ de circulação nacional, e membro fundador do Grupo de Luta Homossexual Beijo Livre. Escreveu os romances, com a mesma temática, "Na Companhia dos Homens" e "Da Vida dos Pássaros".
Zé Celso
Em julho deste ano, faleceu aos 86 anos , o ícone das artes cênicas brasileiras, o dramaturgo, diretor, ator e encenador José Celso Martinez Corrêa, conhecido como Zé Celso , que faleceu após um incêndio em seu apartamento, no bairro Paraíso, zona sul da capital paulista. Ele teve 53% do corpo atingido por queimaduras.
O dramaturgo, que nasceu em Araraquara, interior paulista, em 1937, ficou conhecido pela maneira excêntrica e ousada de montar suas peças de teatro e provocar e interagir com a plateia.
Fez história ao criar uma arte experimental, política e sensorial, que sempre dialogou com seu tempo e outras manifestações artísticas, como a música, a poesia e o audiovisual. Zé Celso também ficou conhecido por levar o modernismo e o tropicalismo para a dramaturgia brasileira.
Carmen Xtravaganza
Carmen Xtravaganza , estrela do documentário " Paris is Burning ", faleceu aos 62 anos após uma intensa batalha contra um câncer de pulmão em agosto deste ano.
Nascida na Espanha , a matriarca da House of Xtravaganza foi modelo, cantora e grande propulsora da cultura Ballroom em todo o mundo, levando-a ao reconhecimento das comunidades, quando em 1999 foi nomeada para o Ballroom Hall of Fame.
No documentário histórico de 1990 "Paris Is Burning", Carmen aparece numa cena ao lado da sua irmã Brooke Xtravaganza. Nela, a dupla está conversando sobre as suas transições de gênero.
Brooke descreve as operações pelas quais passou e Carmen começa a rir: “Exceto essa voz ainda está lá” [“except that voice is still there”]. Mais tarde, ambas cantam “I Am What I Am”, de Gloria Gaynor. A cena se tornou emblemática.
Lorna Washington
Lorna Washington , também ícone drag queen no Brasil, nos deixou aos 61 anos em outubro deste ano. Lorna brilhou em shows desde os anos 1980 e fez história em boates LGBTQI+ que marcaram época, incluindo Papagaio, Incontrus e Le Boy, na capital carioca. Lorna era conhecida como a Fernanda Montenegro do mundo drag.
O nome de batismo de Lorna Washington era Celso Paulino Maciel. Fora dos palcos, mantinha a identidade masculina, mas era chamado pelo nome artístico. Em 2016, Lorna foi a estrela de um documentário, "Lorna Washington – Sobrevivendo a supostas perdas", dirigido por Leonardo Menezes e Rian Córdova. Era uma grande defensora de pessoas com HIV/Aids.
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