BENJAMÍN em cena do clipe
Luciana Barreto
BENJAMÍN em cena do clipe "sinto muito"

Da música ao audiovisual, Benjamin de Castro Damini, mais conhecido pelo nome artístico, BENJAMÍN, é o primeiro artista  transmasculino a assinar com a gravadora Sony Music Brasil e a protagonizar uma série da HBO Max.

Ele descobriu a ligação com a arte ainda criança, quando batia panelas em casa e montava shows de circo e fantoche para a família. Durante as aulas de bateria, aos 8 anos, se apaixonou pela música e logo aprendeu a tocar violão e piano de forma quase autodidata, apenas ao observar outras pessoas tocando.

Anos mais tarde, em 2020, o sorocabano se formaria em Artes Cênicas pela CAL (Casa das Artes de Laranjeiras), e se tornaria o primeiro protagonista transmasculino de uma série inteiramente produzida e gravada no Brasil lançada por uma gigante do streaming, a HBO Max.

Ariel, o menino comum 

BENJAMÍN em cena da série
Reprodução/Instagram - 08.11.2023
BENJAMÍN em cena da série "B.A."

BENJAMÍN, escrito em maiúsculas, como ele prefere, dá vida a Ariel na obra juvenil "B.A. — O Futuro Está Morto”. A série, criada por Mariana Youssef e Peppe Siffredi, tem oito episódios e é inspirada em “O Beijo Adolescente”, HQ do quadrinista Rafael Coutinho.

A trama conta a história de um grupo de adolescentes que escondem uma sociedade secreta — O Beijo Adolescente (B.A.) — de  estudantes do ensino médio com poderes especiais em um universo distópico, no qual a poluição já tomou o céu do Brasil, o B.A. é a moda entre a galera: uma marca criada por Palhaço (Shaolin Shabba), LinLin (Giulia Del Bel) e Tomás (Pedro Goifman).

Com a chegada de Ariel (BENJAMÍN) ao B.A., uma onda de assassinatos de jovens toma conta da cidade e a vontade de Ariel encontrar o seu dom aumenta cada vez mais.  

O que os adultos não sabem, é que nessa sociedade escondida, cada adolescente tem um dom, que vem do maior desejo ou medo. Ao chegarem aos 18 anos, os jovens perdem as cores devido a um fenômeno misterioso chamado de monocromatismo, e a apatia toma conta.

“Vejo muita coisa dos adultos de B.A. nos adultos de hoje em dia, até porque viver no Brasil que vivemos hoje adoece qualquer um, acho que conforme envelhecemos vamos também adoecendo, porque é como o sistema funciona.”

Interpretando Ariel, o ator não teve a identidade de gênero inserida como um foco narrativo, o que é bastante comum dentro e fora do Brasil. Contudo, ele afirma ao iG Queer que não acharia problema se Ariel fosse um menino trans na série. “Inclusive acho que até agregaria para o personagem, mas isso nunca foi uma questão na produção.”

Ariel é um adolescente comum: tímido, desajeitado, solitário. “É fundamental que sejamos vistos e considerados pelo trabalho que fazemos e não pela nossa identidade de gênero, mas acho importante ressaltar que o caminho para isso não é invisibilizar ainda mais as nossas vivências e ignorar a nossa identidade, e sim proporcionar espaços seguros para que possamos fazer nosso trabalho sendo quem nós somos”, afirma o artista de 24 anos.

BENJAMÍN também reconhece que os artistas transmasculinos são muito invisibilizados nas artes tanto dentro como fora do Brasil. “No audiovisual , percebo que só agora, e a passos de formiga, estamos sendo considerados para personagens que não têm a especificação transgênero na descrição.”

A faceta ator e cantor 

BENJAMÍN em foto de divulgação para música
Reprodução/Instagram - 08/12/2020
BENJAMÍN em foto de divulgação para música "gela"

Antes de “B.A.”, ele atuou na última temporada de “Malhação”, de 2019, no papel da vilã Martinha, e fez ainda participações na série da Disney Plus, “Tá Tudo Certo", em 2023, e "Assédio", de 2018, da Globo. 

“No teatro minha inspiração vem muito das atrizes e atuantes que passaram pela minha vida, mas também me inspiro muito em Boal e também no Artaud, que não por acaso também é o nome do meu cachorro”, brinca.

Em 2020, lançou seu primeiro single autoral “gela”. Após o breve período de hiato — em que também realizou a transição de gênero e compartilhou os documentos retificados em outubro de 2020.

Agora, em outubro deste ano, o artista fez o retorno dele à cena artística em dose dupla: protagonizando a série da HBO Max e lançando o segundo single “sinto muito”, que ganhou um videoclipe dirigido por Mariana Youssef, uma das criadoras e diretoras da série “B.A.”, e produzido por Giulia Del Bel, que também atua ao lado de BENJAMÍN na obra.

Musicalmente, BENJAMÍN é uma das poucas vozes transmasculinas nacionais de destaque, em comparação com uma gama de artistas transfemininas que já existem, desde a Linn da Quebrada à Alice Marcone. Dentro da indústria mainstream, ele também é o primeiro homem trans brasileiro a assinar um contrato com uma gravadora multinacional, a Sony Music Brasil. Na música, ele tem se sentido bastante inspirado por Gal Costa , Maria Bethânia, Jorge Ben Jor e  Liniker.

“Não me incomoda ver artistas transfemininas tendo visibilidade, fico, inclusive, muito feliz, porque significa que estamos ganhando espaço, mas me incomoda muito a invisibilidade transmasculina no cenário artístico brasileiro, sim. Existe uma transfobia que é específica aos homens trans e pessoas transmasculinas que está enraizada não só no cenário musical, mas também no mercado de trabalho de forma geral e na sociedade”, explicita o jovem.

BENJAMÍN na praia
BENJAMÍN e seu cachorro de estimação
BENJAMÍN na série "B.A."
BENJAMÍN em "sinto muito"

Com dois singles lançados, ele planeja lançar o primeiro álbum em 2024, mas prefere não falar do projeto antes da hora. “Posso dizer que é um trabalho muito sincero e de muita entrega, passei alguns anos maturando o conceito dele e acho que minhas composições também amadureceram bastante nesse tempo. Não vejo a hora de poder falar mais sobre esse projeto, tô bem empolgado para 2024”, divide.

Identidade de gênero

BENJAMÍN celebrando 24 anos
Reprodução/Instagram - 08.11.2023
BENJAMÍN celebrando 24 anos

Em setembro de 2020, BENJAMÍN compartilhou a  identidade de gênero dele para o público. Contudo, meses antes, em julho daquele ano, foi que ele nasceu oficialmente, pelo menos perante o Estado. Quando anunciou o gênero com o qual se identificava nas redes sociais, recebeu bastante comentários transfóbicos em meio aos de parabenização. Em junho de 2022, ele também compartilhou fotos do RG.

“Embora isso fosse previsível, acho muito triste que existam tantas pessoas se incomodando com a minha existência. Transfobia é crime, mas isso parece não ser suficiente para impedir essas pessoas de destilar ódio nos espaços virtuais, acho que falta um comprometimento das próprias redes em criar ferramentas que combatam esse crime", defende.

No processo de retificação, ele também relembra que foi bastante tranquilo e bem rápido. Mas destaca que essa não é uma realidade para muitas pessoas trans.

“Sei que muitas pessoas trans ou não têm acesso a esse direito, ou enfrentam vários empecilhos durante o processo.Além disso, não acho que os órgãos públicos estão preparados para essa demanda, mas acho fundamental que instruam melhor os postos de atendimento e cartórios, porque ainda hoje nosso direito a retificação ou inclusão do nome social é questionado ou negado”, conclui.

Agora você pode acompanhar o iG Queer também no  Instagram!

    Mais Recentes

      Comentários

      Clique aqui e deixe seu comentário!