Antes que o “Drag Race Brasil”
faça sua estreia por aqui, um brasileiro tem feito muito sucesso na versão original de “RuPaul’s Drag Race”
há cinco anos: Bruno Alcantara nasceu em Ilhéus, no interior da Bahia, se mudou para Salvador
, depois foi tentar a vida em São Paulo
e Rio de Janeiro
e agora vive na cidade de Los Angeles, nos Estados Unidos
, um dos redutos mais desejados por quem é fã de filmes e entretenimento estadunidense.
O sotaque cantado, as gírias baianas e as falas com um ritmo calmo não deixam dúvidas sobre as origens de Bruno. Em conversa com o iG Queer , ele conta que fez publicidade em uma universidade soteropolitana, depois trabalhou com moda na São Paulo Fashion Week e na Rio Fashion Week, ao lado de Paulo Borges, um dos maiores ícones fashion do país, até que percebeu que precisava muito aprender e ser fluente em inglês. Foi isso que o levou a se matricular em um curso nos EUA por apenas três meses, mas a vida lhe surpreendeu e hoje já vive no país há nove anos, tendo já trabalhado com Elton John e Madonna .
“Durante a turnê dela, eu conheci o chef Jaime Laurita que me ajudou muito e ele me conectou com a produção do ‘Drag Race’. Ele é amigo da Michele Visage , a equipe do programa entrou em contato comigo, a gente bateu um papo e eles resolveram me dar uma chance para trabalhar em um dos projetos, que naquele momento ainda não era 'Drag Race'”, detalha. “Logo depois, a gente começou a conversar sobre a possibilidade de eu fazer um ou dois episódios do programa e estou há cinco temporadas de ‘Drag Race’, mais umas cinco do ‘All Stars’ e mais ‘Celebrity Drag Race’, então alguns anos depois ainda estou lá e feliz pela oportunidade de estar crescendo tanto”.
No programa, ele é o único pit crew brasileiro e, pode-se dizer, que é um dos queridinhos da produção. Ele já participou do quadro “Snatch Game” no 4º episódio, da 15ª temporada, e foi o único assistente de palco até hoje que se sentou ao lado de RuPaul e Michele Visage, como jurado convidado do 8º episódio, da 15ª temporada, durante o "Lip Sync LaLaPaRuZa Smackdown".
A beleza, o sorriso e a simpatia de Bruno são contagiantes, mas ele confessa que não se sentia tão bonito assim quando era criança e adolescente e salienta a importância da representatividade .
“Naquela época, o modelo de beleza que eu via muito na TV era cabelo liso, olhos claros, peles superclara. Aquilo não era muito minha realidade. Nunca me achava bonito. Então, cuidar do meu corpo foi uma das maneiras que eu encontrei de me dar mais confiança. Depois disso, também percebi que cuidar só do corpo não é o suficiente. Tem que dar atenção para a mente. Tem de estar atento ao que se sente por dentro, olhar suas fraquezas, traumas e dores para se tornar uma pessoa bem resolvida consigo mesma e se aceitar para ser capaz de amar o outro.”
Ele afirma que gosta de se cuidar e acredita que, quando alguém está se sentindo bem fisicamente, isso também reflete no psicológico, no emocional e na própria autoconfiança. Bruno destaca que quem se cuida por dentro exala a beleza para o lado de fora.
“Tento ler bons livros e cuidar de mim para ficar consciente de como funcionar melhor, para ser uma pessoa melhor para mim mesmo e para os outros. Fisicamente malho, tento cuidar de tudo no meu corpo para que tudo esteja funcionando com harmonia. De dentro para fora, claro, mas também de fora para dentro, da mente, para que tudo funcione da melhor maneira possível e a nosso favor”, acrescenta.
Ele lembra que quando recebeu o convite para estar no reality, ficou muito em dúvida se aceitaria porque já havia sido avisado que estaria no palco apenas de cueca. Contudo, como Bruno mesmo comenta, para uma pessoa que nasceu e cresceu na Bahia, um lugar quente, com praias únicas e que estava sempre de sunga, esse não era um problema tão grande.
“Eu gosto de me exibir, eu gosto de atenção, então está tudo certo. É claro que já ouvi comentários mais maldosos como ‘isso é um tipo de coisa meio vulgar’, mas no fim das contas a gente é quem decide. Cada um pensa e faz o que quiser. É assim que a gente tem que ser feliz! A gente não vai estar aqui para sempre”, diz.
Fãs brasileiros
“RuPaul’s Drag Race” é mais do que um reality show voltado para o público LGBTQIA+ , pois ele ultrapassa a barreira do gênero. Entre as drag queens participantes, o programa já deu oportunidade para homens cis e trans, mulheres cis e trans e até homem heterossexual, o que deixa o programa ainda mais plural. A atração move tantos fãs pelo mundo inteiro que, quando alguém pergunta “como é assistir a uma final de ‘Drag Race’ em um bar?”, a resposta mais precisa é sempre “já viu homens héteros assistindo à final de um campeonato? É igual”.
No Brasil, a legião de fãs do programa é gigante e tem se tornado cada vez maior porque a WOW Presents está produzindo uma versão brasileira que deve estrear em breve. Enquanto isso, Bruno representa o país nos Estados Unidos e recebe todo o carinho de seus fãs com mensagens positivas de todas regiões do país, com textos dizendo que se sentem orgulhosos e felizes por verem alguém daqui fazendo sucesso ao lado de RuPaul Charles .
“Sou feliz com isso, me faz me sentir muito bem. Inclusive agradeço a todas as pessoas que me mandam esse suporte com mensagens incríveis”, salienta. “A minha experiência com os fãs é muito boa".
O único problema é que alguns desses fãs são mais ousados ou, pode-se dizer abusados, e mandam todo tipo de imagens para a caixa de mensagens de Bruno, inclusive os famosos nudes. O pit crew tenta ver com leveza essa situação, mas ele destaca que é preciso ter respeito.
“Uma vez ou outra tem alguém que fica mais animadinho, mais saidinho. Eu nunca tive experiência muito ruim, mas já aconteceu de me mandarem fotos não solicitadas e inesperadas, sabe? Mas está tudo certo. Faz parte desse universo. Eu só acho que, independentemente de quem você esteja lidando, é bom ter um pouco de bom senso porque todo mundo quer ser amado, ser respeitado. Seguindo esse preceito, dá tudo certo e todo mundo fica feliz”, avisa.
E por falar em Brasil, claro que viver esses anos todos longe de sua terra natal traz uma saudade muito grande de tudo o que ficou para trás. Ele diz que o Brasil é um país muito único, de uma energia singular, o que é reconhecido inclusive pelos estadunidenses. Entre os pontos que ele mais sente falta, claro que não poderiam faltar a família, os amigos e a comida, mas o que bate mais forte no coração desse baiano são as músicas e as festas.
“A gente sabe fazer festa como ninguém, sinto falta dessa energia brasileira, dessa ousadia e da leveza, sabe? A gente tem uma leveza que é incrível”, fala. “Eu amo Carnaval, inclusive acabei de voltar de Salvador, geralmente eu estou em todo Carnaval aí na Bahia e eu sou apaixonado pelo axé, pela música, por tudo que o Brasil representa, pelas praias e tudo mais".
Depois de quase 10 anos em solo norte-americano, Bruno conquistou o direito de ser reconhecido como um cidadão de lá, mas a possibilidade de voltar às origens não está descartada. O pit crew confessa que já pensa em uma vida mais tranquila, com um marido ao lado, talvez em uma casa à beira-mar em uma praia baiana.
“Quem sabe no futuro eu quero, em algum momento, casar e sei lá viver uma vida tranquila de repente. Será que é possível? Eu estou aberto às possibilidades futuras, em algum momento, voltar para o Brasil. Quem sabe do futuro? Vamos deixar as possibilidades abertas. Eu amo o Brasil, mas agora estou feliz que os Estados Unidos me receberam de braços abertos também”, finaliza.
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