“Invisível”, chega aos palcos de São Paulo no próximo sábado (13). Com texto de Moisés Bittencourt, direção de Fernando Gomes e atuação de João Côrtes , o monólogo se debruça nas complexidades de um relacionamento abusivo entre dois homens.
A peça teve a criação do texto e a estreia realizados no ano passado no Fita — Festival Internacional de Teatro de Angra dos Reis , durante o mês de outubro, e os ensaios foram feitos em quatro semanas, incluindo uma semana de "mesa", para a leitura do roteiro. Agora, chega a São Paulo com apresentações no Teatro Renaissance, durante os meses de janeiro a março.
A trama apresenta a história de Eduardo, cuja vida é marcada por uma convivência dolorosa com seu parceiro, Michel. Eduardo vive em silêncio, suportando a violência física e psicológica, uma realidade que se agrava quando o casal decide morar junto.
Após muito tempo sofrendo em silêncio, Eduardo toma a corajosa decisão de denunciar seu agressor, levando o caso às autoridades. No entanto, o descaso e o preconceito , que deveriam ser combatidos, criam uma barreira entre o grito de socorro e o medo de se expor, perpetuando a violência.
A peça aborda temas urgentes e atuais, levantando questões como a vergonha e o medo de denunciar, a falta de apoio das autoridades e a fragilidade da vítima em relações tóxicas. Além disso, o espetáculo também convida o público a uma profunda reflexão sobre o comportamento humano nos dias atuais.
Estrelando o primeiro monólogo da carreira, João Côrtes conta ao iG Queer que o processo todo foi desafiador e, ao mesmo tempo, superestimulante. “É um território completamente novo para mim. Nunca tinha estado sozinho no palco antes. E eu estava buscando isso. Esse exercício de um protagonismo maior, de me provar — para mim mesmo — como ator.”
“Acho que um dos principais desafios é não ter com quem trocar em cena... É só você o tempo todo. E a plateia, claro. O estímulo vem dela, e não de outro ator. Outro desafio grande foi encontrar o ritmo da história, o dinamismo, como fazer um monólogo sem parecer uma palestra, sabe? Tem que ser interessante, estimulante de assistir”, continua ele.
João destaca que a peça fala também de solidão , de acolhimento, da busca por um amor, por ser amado, por ser aceito e ser visto. São questões que, segundo ele, afetam qualquer ser humano, em algum gênero, número ou grau.
“Quando li pela primeira vez, fiquei profundamente emocionado. Inclusive, o desafio também está em interpretar sem deixar a emoção tomar conta completamente”, diz ele, que também foi indicado ao Prêmio Fita 2023 como Melhor Ator do Ano devido a produção, além de estrelar nas séries “Rio Connection” e “Encantado’s” – esta última que chega à segunda temporada em fevereiro. Ambas séries são da Globoplay.
“Eu já vivi um relacionamento abusivo, que não foi nem de perto parecido com o que a minha personagem vive no espetáculo, mas não deixa de te corroer de alguma maneira. De te marcar. Então eu tenho um pouco esse registro, mas acho que muito além disso, o abuso é universal. Ele está presente em todas as relações, não só as românticas.”
O ator exemplifica sua afirmação: “Pai e filho, mãe e filha, irmãos, tios, avós, amigos, colegas de trabalho... E acho que o espetáculo toca muito nesse lugar. Do quão contraditória, confusa, dolorosa, complexa é uma relação abusiva.”
Embora tenha passado por um relacionamento tóxico, João acredita que, como ator, não precisa necessariamente se conectar com a ideia de abuso, mas sim com o sentimento primal por trás, que no caso desse espetáculo é de dor.
“De um desejo profundo de ser amado, de sentir amor, de ser validado enquanto homem gay, de ser aceito e acolhido. E eu consigo me reconhecer e identificar com tudo isso.”
Para ele, o monólogo surge ainda como uma demanda de anular também a invisibilidade do debate dos relacionamentos abusivos entre casais homoafetivos. Durante a apresentação, o público também pode esperar cenas com coreografia.
“Muito se fala sobre relacionamentos abusivos, violência doméstica. Mas, na grande maioria das vezes, quando ocorrem em casais heteronormativos. Eu, por exemplo, nunca tinha assistido a nenhum filme ou peça que falasse sobre um relacionamento abusivo entre dois homens. E é algo muito mais comum e presente do que a gente imagina. Infelizmente.”
Ele enfatiza também que a visão que se tem sobre relacionamentos gays ainda é muito unilateral e erotizada. E uma das propostas da peça é trazer essa complexidade e multiplicidade para um relacionamento entre dois homens. “Não é um espetáculo só para pessoas da comunidade. É para todo mundo. No fim, eu espero que possamos gerar reflexões e provocações no público.”
O autor Moisés Bittencourt também defende que a conscientização vem por meio da emoção. Para o escritor, quando o público se emociona com o que está vendo automaticamente se sensibiliza e inevitavelmente se põe no lugar do outro. “É assim que funciona e o nosso espetáculo tem os ingredientes necessários para que o espectador seja tocado”, conclui.
A temporada de "Invisível" está programada para ter início em 13 de janeiro de 2024, aos sábados, às 21h, e domingos, às 20h, até 13 de março de 2024, excluindo os dias de Carnaval. Os ingressos já estão disponíveis, com preços de R$ 100 (inteira) e R$ 50 (meia). A classificação etária é de 16 anos.
SERVIÇO
“Invisível”
Quando
: 13 de janeiro, às 21h (estreia)
Onde
: Teatro Renaissance — Alameda Santos, 2.233 — Jardins, São Paulo
Horários
: Sábados, às 21h; domingos, às 20h
Temporada
: 13/01/2024 a 13/03/2024 (exceto nos dias de Carnaval)
Ingressos
: R$ 50 a R$ 100; compre aqui
Classificação
: 16 anos
Acompanhe o iG Queer também nas redes sociais: Instagram , X (Twitter) e Facebook