Thiessa Woinbackk é uma mulher trans que já passou por diversos tipos de transfobia
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Thiessa Woinbackk é uma mulher trans que já passou por diversos tipos de transfobia

E aí, meus tchutchucos! Como é que cês tão? Cês tão beleza?

Eu vou contar para vocês sobre o dia em que eu fui ameaçada de morte. Hoje levo essa história com mais tranquilidade, mas na época eu achava que realmente fosse morrer.

Alguns anos atrás eu não contava às pessoas que eu ficava que sou uma mulher trans . Comecei a ficar com um menino, as coisas estavam se desenrolando, ele contou para a família sobre o meu gênero e me pediu em namoro . Foca nessa parte: ele me pediu em namoro. O relacionamento aconteceu, eu comecei a achar que estava tudo uma merda e resolvi terminar com o cara. Ele era um ranço! Logo que isso aconteceu, eu apaguei todas as fotos que a gente tinha juntos nas redes sociais.

Os anos foram passando, eu fui morar na mesma cidade dessa pessoa, nem tinha mais notícias dele, até que fiquei sabendo que ele estava namorando uma outra menina e isso não mexeu comigo de forma alguma. Mas a vida é uma caixinha de surpresas e, certo dia, eu estava em casa tranquila, numa fase mais de paz e recebi uma mensagem da mãe dele no Facebook. Não a reconheci de imediato, mas o nome me era muito familiar.

Ela me dizia “oi, Thiessa! Tudo bem? Eu queria muito que você excluísse as fotos com ele no Instagram porque essas imagens estão dando muito problema aqui em casa”. Eu me perguntei “que foto no meu Instagram?”. Eu achava que já tinha excluído todas essas imagens. Sempre que termino com alguém, no mesmo minuto, eu já vou lá e apago tudo. Eu respondi que não tinha mais nada e ela me mandou um print. Detalhe: percebi que quem tinha tirado esse print era a atual do meu ex-namorado. Ela estava surtando por causa dessa foto. Não tive dúvidas e apaguei.

Uma “amiga minha” (depois você vai entender o motivo das aspas) me deu um alerta: “Thiessa, olha esse Twitter rapidinho”. A conta pertencia à atual do meu ex e ela falava muita coisa sobre mim, comentava que ia me bater na rua, que ia me matar, me chamava de travesti,  traveco e nunca tinha vindo falar comigo antes. Ela chegou a escrever o meu nome lá na rede social, acredita? Bom, também descobri que a tal “amiga minha”, na verdade, era amiga dessa menina e só me mostrou para que eu visse e ficasse alerta diante do que poderia acontecer.

A atual realmente não era uma boa pessoa. Ela era envolvida com pessoas perigosas da cidade, inclusive esse era o motivo do meu medo. Vale lembrar que o Brasil é o país que mais mata pessoas LGBTQIA+ do mundo . Chamei uma amiga minha para ir à delegacia, nós registramos um boletim de ocorrência .

Certo dia, eu fui para uma balada e fiquei sabendo que a tal menina tinha ido à porta da boate com um pessoal armado. Eu fiquei chocada e com muito medo. Consegui sair de lá sem passar por ela e corri para minha casa. Pensei em nunca mais sair de casa na vida.  

O tempo passou um pouco mais e comecei a namorar novamente. Estava feliz ao lado desse novo menino, achando que já não tinha mais aquela menina no meu encalço, quando ela começou a tretar com meu namorado no Twitter. Eu entrei no meio da discussão, claro. Ela me chamou no inbox e pediu meu telefone para conversarmos. Eu, inocentemente, passei meu número, ela me ligou e começou a me chamar de “filha da puta” para baixo. Fiquei muito assustada com o ódio que ela tinha de mim até que ela começou a discursar:

- Eu não quero saber do meu namorado ter ficado com uma travesti. Porque você é uma travesti e não existe esse negócio de transexual. Se você colocar o nome do meu namorado na boca, você vai morrer, vai parar debaixo da terra.

Eu achava que realmente iria morrer.

- Vamos fazer o seguinte: eu não falo o nome do seu namorado nunca mais e você esquece que eu existo. Simples assim.
- Bom mesmo. Se eu ficar sabendo que você falou mais alguma coisa sobre a gente, eu vou te matar.

Eu não duvidava que isso poderia acontecer. Hoje consigo levar essa história com leveza (mesmo não sendo), mas na época eu não conseguia mais sair de casa para ir trabalhar, minha amiga passava para me pegar porque eu não conseguia mais ficar só. Eu tinha medo de morrer.

Eu não vou negar que até hoje eu tenho medo de falar dessa história porque a menina pode sair das cinzas e voltar a me ameaçar. Eu nem moro mais naquela cidade. Não tenho o menor orgulho de falar que namorei com aquele menino. Tenho dó dela por ter ciúme de um cara como ele. Quando a gente namora com alguém, você acha que ela é incrível, mas depois vai vendo como é de verdade e descobre que não vale a pena. Não me orgulho de tê-lo namorado e até prefiro dizer que nunca tive nada com ele.

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