Grag Queen, a apresentadora da edição brasileira do reality show de drag queens mais famoso do mundo, “RuPaul’s Drag Race” , foi uma das convidadas da websérie "+A(xila) com Maisa", produzida pela Dove desodorantes. No episódio em que a cantora participa, ela pôde tratar sobre um tema importante que a atravessa tanto em sua vida pessoal quanto profissional: a autocuidado.
“Quando mandaram o projeto, eu achei incrível. Desde o começo da minha carreira eu faço questão de frisar essa função do cuidado e do auto amor. É sempre muito gostoso quando a gente faz um trabalho que tem tudo a ver com a gente”, diz a artista em entrevista exclusiva ao iG Queer.
Além de Grag, Klara Castanho e Clara Moneke também participam do projeto, em episódios diferentes. As três dialogam diretamente com a Geração Z, público importante para a campanha e que Grag também considera relevante para sua carreira.
“Eu me vejo falando com a Geração Z, por ela estar na era digital e por eu fazer parte de programas que ela consome, principalmente os integrantes da comunidade LGBTQIAPN+ ”, diz a drag queen que reflete que a experiência é “uma oportunidade de estar formando opinião e mudando paradigmas que nos foram ensinados”. Sem perder a piada, Grag acrescenta: “Me sinto uma tia”.
Ela continua: “Através da arte a gente vai tentando mudar [os preconceitos ], porque por mais que já tenha mudado muito, a gente ainda tem um grande caminho pela frente. Ainda há coisas muito doidas acontecendo nesse mundo. Eu quero emprestar a minha voz e a minha arte para falar sobre a importância dos cuidados e juntar vozes também, como as das meninas [Clara, Klara e Maisa] que são incríveis no que fazem.”
“Eu estou em uma fase muito me cuidando porque essa vida de ser drag, de ser artista no Brasil é bonita, mas é corrida e ingrata. [É difícil] tentar comer na hora, daí tem show às 3h da manhã, daí você tem que comer um hambúrguer”, confessa a drag.
“Essa vida acaba nos fazendo cair em limbo de falta de cuidado. Então, por isso que a gente está sempre com o cuidado redobrado [...] Quando eu não estou trabalhando é massagem ali, é academia aqui, um suco de fruta... Adoro coisa orgânica. Eu estou 'toda-toda' nesse momento”, brinca Grag.
Relação com a mãe
Durante a entrevista com a Maisa, Grag aproveita o tema do programa para falar da relação com sua mãe. Durante o bate papo, a artista revela que sua mãe foi crucial para a vitória no “Queen Of The Universe”, competição musical de drag queens que catapultou Grag ao estrelato mundial.
“Todas as perucas vieram danificadas, eu já estava conformada que ia para o programa daquele jeito. Mas sem nem mesmo pedir, minha mãe que é cabeleireira disse ‘filha minha não vai feia’ e refez todas em um dia. Hoje em dia meu troféu está com ela, porque vencemos a competição juntas”, detalha Grag.
Ao iG Queer a artista conta que ela e sua mãe são “amigas, amigas” e que falam “de tudo, de assuntos políticos a assuntos, tipo, mal dos outros. Nós temos uma amizade.”
A drag continua revelando que nunca teve uma conversa direta com os pais sobre sua sexualidade, uma vez que acredita que “quem se ‘assume’ se bota no lugar de espera de uma aprovação ou desaprovação”.
“Eu sou lá do Rio Grande do Sul , um lugar extremamente tradicional. Ela não sabia muito bem como lidar [com a sexualidade de Grag]. A minha relação com a minha mãe é o meu termômetro do que é o amor. Eu sempre senti que o amor era muito maior do que um monte de coisa que acontecia”, compartilha.
“Até hoje ela me agradece muito pela oportunidade de eu não ter desistido de ensinar as coisas para ela. Ela também faz questão de sempre falar o quanto não nasceu preparada, perfeita e pronta, assim como todas as mães.”
Além da história de afeto com a mãe que Grag compartilhou na entrevista com Maisa, a drag queen também divide outra lembrança afetiva ao iG Queer.
“Eu fui expulso de duas escolas quando era pequeno. Lembro que na primeira escola eu ia muito para a diretoria e minha mãe chegava em prantos. Um monte de professora dizendo: ‘Você tem que ver o que o seu filho tem, ele tem que ir pra psicóloga’. Ela diz que lembra até hoje que ouviu: ‘Seu filho tem que decidir o que ele quer ser. Se ele vai ser menininho ou se vai ser menininha’. Minha mãe ficava extremamente vulnerável, sem entender nada, na frente do meu pai.”
Embora o episódio possa ter sido traumático, Grag conta que houve uma reviravolta na história. “Depois eu entrei em um musical lá [em Canela , RS] e daí, enfim, eu me tornei um dos artistas mais bem pagos da minha cidade, com 17, 18 anos [...] No final de uma apresentação veio a diretora falar ‘ai que lindo, nosso gurizinho’. Minha mãe respondeu: ‘Não, nosso gurizinho não. O meu gurizinho’. A diretora saiu morta de vergonha.”
Drag Race Brasil
Aos 28 anos, Grag ficou conhecida como a host mais nova a apresentar uma franquia de “Drag Race”. Com um sonho realizado tão cedo, a drag logo percebeu que tamanha visibilidade faz surgir adoradores, mas também haters que não poupam críticas ao trabalho, mesmo que muitas vezes infudadas.
“Esse hate todo é o anexo que a gente não lê. São as letras miúdas”, começa a artista em tom de brincadeira. “Você vai ficar feliz realizada, vai sentir que realizou seus sonhos, que está representando o Brasil, porém, às vezes vai ser odiada por isso, por estar ali.”
“Para gente, enquanto corpos que já estivemos ocupando lugares de hostilização, repressão, opressão, é muito fácil se reconectar com essa vulnerabilidade [...] É muito difícil a gente achar pessoas da nossa comunidade que genuinamente se amam e se cuidam. Não é assim. Nós somos corpos que foram ensinados a se odiar e ver a nossa comunidade falando de uma forma para machucar, cometendo até crimes de racismo, de gordofobia e ameaças é muito doloroso. Isso faz parte do babado. É o que a gente ouve, é o jogo.”
Grag Hearts
Além de estrelar a franquia brasileira de “Drag Race”, Grag Queen também ganhou um spin-off para chamar de seu. “Grag Hearts” visita pontos importantes da cena queer brasileira e conta ainda com a participação das concorrentes da edição tupiniquim.
A cantora revela que a ideia inicial não era produzir uma série, mas apenas umas pílulas para o Instagram. Contudo, a criatividade brasileira deu o seu recado e o projeto teve um resultado maior que o esperado.
“Eram para ser alguns videozinhos para os reels [no Instagram]. Só que daí eu inventei de chamar o Vitinho Alencar, que é um amigo meu diretor que não sabe brincar. Ele, então, fez uma obra de arte. A gente já pensou num roteiro. Eu ia falando o texto na hora”, conta.
“Foi muito rápido de gravar e muito gostoso”, acrescenta Grag. “Fomos fazendo turismo pelos lugares. Salvador , por exemplo, eu nunca tinha conhecido e conheci de graça, o que é muito importante”, brinca a drag. “Conheci os melhores lugares queer de várias regiões do país e ainda fui montada. Começou a ficar tão rico de detalhes, todo mundo foi amando tanto o projeto que eles disseram ‘vai ter que ser um spin off’. Espero que tenha uma segunda temporada.”
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