A cantora Jaloo lança nesta quarta-feira (25) seu terceiro álbum solo "Mau", que finaliza uma trilogia após os discos “#1”, — de 2015, que aborda o nascimento e a infância da artista e a retrata como pessoa andrógina — ; e “ft. (pt. 1)”, — de 2019, que representa o amadurecimento e exalta a masculinidade de Jaloo. O novo álbum celebra o lado feminino da artista e coloca no centro temas como o prazer, a liberdade e o risco.
Em 2020, ela estreou na direção musical no segundo álbum de Gaby Amarantos. No disco, além da direção, Jaloo produz, compõe e ainda canta em uma das faixas: "tchau". Já em 2021, assumiu uma nova persona, “Amado”, e montou com ele uma banda: Os Amantes.
Após gravar parcerias com nomes como o da conterrânea Gaby Amarantos, MC Tha, Felipe Cordeiro, Badsista, entre outros, Jaloo volta à cena com um trabalho 100% autoral. “É um disco fresco, refrescante”, inicia ela em entrevista ao iG Queer.
“Eu parei, mas não parei 100%. Gosto de me recolher, eu percebo que se não estou lançando alguma coisa artística minha, não tem o porquê eu estar dando minha cara a tapa na internet. Acho meio gratuito exposição sem propósito. Prefiro que tenha um propósito, até em relação aos artistas que eu gosto”, adiciona a cantora.
A feminina em “Mau”
Jaloo se vê como um ser mutante. Surgiu andrógina, adotou cabelos mais longos, assumiu a cabeça raspada e não parou por aí. As mudanças poderiam ser apenas estéticas, mas nenhum movimento é solitário.
“Tudo faz parte de um ciclo, de um momento e também do meu processo criativo. Vivo em constante movimento” comenta a artista que se identifica como gênero fluído .
Na nova era, ela abraça o feminino que há dentro dela e traz à tona assuntos do nosso tempo. “O feminino saiu de fato. Ele já saiu há um tempo, só que eu não havia dividido com o público. Mas esse processo [de incorporar o gênero feminino] eu já estou vivendo há três anos. E minha relação com gênero é antiga, a primeira vez que tomei hormônio foi em 2012 [quando tinha 25 anos]."
Ao olhar para trás, a artista afirma que percebeu que um dos motivos que mais a freou foram os seus relacionamentos amorosos, pois acreditava viver muito em função do outro, já que o que eles queriam dela era uma masculinidade.
“E eu me propunha a isso. Mas, assim que eu me vi sem um relacionamento pela primeira vez em alguns anos, eu olhei e falei: ‘Tá? O que você quer?’ E foi aí que decidi seguir esse caminho [de incorporar o feminino].”
Jaloo acredita que o momento casou com o desejo de lançar o terceiro álbum.
No segundo disco — "ft (pt.1)" — ela menciona que “emulava um masculino”. No entanto, agora, ela afirma que é tão natural ter adotado o feminino, e tem sido mais tranquilo de vivenciar e mostrar.
“O lugar de mulher trans não me cabe porque gosto do meu masculino, ele não me atravessa, nunca me atravessou [negativamente]. Quando as pessoas usam o pronome masculino, eu não me sinto tão invadida, mas, ao mesmo tempo, estou vivendo o feminino de uma forma muito intensa. Então o pronome, agora, é ‘ela’, com certeza. Porque é isso, eu acredito que habitam em mim os dois [gêneros] e eles ficam meio que intercalando”, pontua.
Faixas ousadas
As músicas foram escritas ao longo dos últimos quatro anos, mas Jaloo compartilha que algumas faixas de “Mau” foram aproveitadas de um projeto antigo da carreira, o “ft (pt. 2)”, que ainda não tem previsão de ser lançado. “Pode” é um exemplo de uma das faixas que integra o novo álbum, porém, nasceu antes dele.
“Mau” nasce com referências que vão desde o phonk, um ritmo importado da Rússia, até hyperpop, ska e calypso, e o álbum traz canções que revelam a verdade da Jaloo e tocam em assuntos profundos. “É sobre fazer música eletrônica do meu jeito e com as minhas ferramentas e habilidades conquistadas nos últimos anos”, revela.
O disco possui dez músicas, sendo oito inéditas e duas recém-lançadas: os singles “Mau”, que dá nome ao projeto e abre o álbum, e “Quero te ver gozar”.
“Todas as músicas têm esse caráter nonsense, meio bobo, tens uns palavrões, mas, ao mesmo tempo, têm subtextos enormes dentro delas. ‘Mau’ é sobre saúde mental , mas também sobre ciclos de repetição, vícios, redução de danos, sobre responder à pergunta: ‘O que é ser gente’, e a resposta é: ‘Ninguém sabe’. E é isso que é legal em viver. No fim, todas tratam de temas urgentes.”
Entre as referências dessa fase, Jaloo destaca também a cantora Rosalía . “Ela coloca só o necessário na faixa, e eu acho muito legal essa forma que ela trabalha a voz com outros elementos só para compor, sem excessos. A faixa que mais reflete isso em ‘Mau’ é ‘Ah!’, que não tem quase nada na música e ela abre espaço para voz”, exemplifica a artista, que também não abandona as referências nacionais. Em “Quero te ver gozar”, Jaloo se inspirou na música “Loirinha”, da Banda Calypso.
Um disco extremamente íntimo
“Às vezes as referências da gente estão mais aqui no Brasil do que lá fora, mas as internacionais gritam também no meu disco”, destaca. Para ela, "Mau" é um disco extremamente íntimo, tendo sido feito no computador e gravado no quarto dela. “Acredito ser eletrônico, intenso, brasileiro e urgente”, conta.
Entre as faixas, “Pode” é uma balada com sonoridade latina brasileira, cheia de amor e sexo; “Pra que amor”, é um forró eletrônico que, segundo Jaloo é: “Safada e triste”; “Tudo passa”, fala de um término de relacionamento de forma simples, direta e divertida; “Ah!”, aborda o desejo sexual; “Phonk-me”, apresenta letra com três línguas: português, francês e inglês, e pretende descrever o momento de um orgasmo.
O disco segue com a faixa “Profano”, que tem referências nos anos 1980 e traz um tom de balada de amor, embora a mensagem passada seja de certa tristeza. “Ocitocina”, segundo a cantora é: “Sobre amar ter ficado longe dos holofotes. É nostalgia e melancolia pura”; e “A verdade é que a cidade vai me matar”, fecha o álbum e fala sobre como a cidade grande — inspirada em São Paulo — pode engolir o ser humano.
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