A designer e costureira Pamella Vieira e a escritora Miriam Squeo compartilham suas experiências de descoberta da bissexualidade na vida adulta
Arquivo pessoal e Reprodução/Instagram 22.09.2023
A designer e costureira Pamella Vieira e a escritora Miriam Squeo compartilham suas experiências de descoberta da bissexualidade na vida adulta

Nascida no Sul da Itália , mas com "alma brasileira", como costuma dizer, a escritora Miriam Squeo descobriu sua bissexualidade na vida adulta, aos 28 anos, assim como ocorre com milhares de pessoas LGBTQIAP+ .

Foi no Rio de Janeiro que a italiana pôde viver a liberdade emocional que tanto precisava para experienciar um amor livre de preconceitos. Sua experiência em busca de entender sua sexualidade resultou no romance sáfico "Por Trás dos Meus Cabelos", obra baseada nas experiências de Miriam, que ela espera que ajude outras mulheres bissexuais a se empoderarem.

“O livro nasceu com o propósito de trazer uma perspectiva realista sobre a
descoberta sexual e sobre relações entre mulheres em idade adulta [...] A obra trata do processo de descoberta, do amadurecimento, da conquista da liberdade e da aceitação pessoal na busca da felicidade”, revela a escritora, que está com 37 anos.

“É uma viajem repleta de emoções que começa no sul da Itália, passa por Paris , chega ao Rio de Janeiro e também 'dá um pulo' em Fernando de Noronha . Vários encontros e desencontros, em destinos paradisíacos que são panos de fundo da história, revelam uma aventura através de várias formas do amor e traz uma reflexão muito importante sobre coragem e amor próprio.”


Para celebrar o  Dia da Internacional da Celebração Bissexual , Miriam conversou com o iG Queer e deu mais detalhes sobre seu processo de autodescoberta, que ela chama de "completamente inesperado."

"Eu nunca tinha pensado em ficar com uma mulher e não tinha ao meu redor lésbicas ou bissexuais. Eu morava na Itália, que ainda é um país muito conservador, e eu tinha quase 30 anos", inicia a escritora o relato.


"Estava em um relacionamento heterossexual de mais de dez anos, quando a minha melhor amiga tentou me beijar pela primeira vez. Isso provocou em mim sentimentos contrastantes, entre a fuga e o desejo."

Miriam continua narrando que um mês após seu primeiro beijo em outra mulher, sua relação com a amiga ficou como uma  “amizade colorida” , contudo, sem nunca conversarem sobre o que estava ocorrendo entre elas.

"Depois dessa experiência, eu fiquei me interrogando muito sobre a minha sexualidade e quis entender se o que eu sentia era pelo fato dela ser minha amiga ou se algo estava mudando em mim. Foi assim que me abri a outras experiências e entendi mais sobre a minha sexualidade, mas por muito tempo foi um processo solitário e escondido."

Medo da LGBTfobia

Como muitas pessoas LGBTs, Miriam, ao se entender uma pessoa bissexual , teve medo de compartilhar a sexualidade e sofrer bifobia .

"Eu tinha muito medo do julgamento dos outros, de começar a ser vista como
'diferente', de até perder os meus amigos e os meus afetos, ou que pudesse
mudar a percepção de mim no meu trabalho."

A escritora relata que só se sentiu confortável para compartilhar sua sexualidade quando se mudou para Paris, na França, um ano depois da "amizade colorida", e "somente com poucos amigos no início, principalmente aqueles da comunidade LGBTQIAPN+."

"É complicado ter que explicar 'o que mudou' quando você foi heterossexual na maioria do tempo da sua vida adulta. Houve amigos super receptivos e outros que estranharam, isso faz parte", relata a italiana que conta também como foi o processo de "sair do armário" para a família.

A escritora Miriam Squeo
Alessandra Lima

A escritora Miriam Squeo com o livro 'Por Trás dos Meus Cabelos'

"Meus pais são do Sul da Itália, bem no interior e são extremamente católicos. Então, estava com muito medo de não ser aceita e de perder o afeto deles. Consegui fazer o meu 'coming out' [a expressão 'sair do armário' utilizada em língua inglesa] só três meses atrás, em concomitância com o lançamento de 'Por Trás dos Meus Cabelos'. Eu não queria mais me esconder e o livro, de alguma forma, representa a minha abertura para o mundo", relata Miriam.

"Sair do armário com eles foi doloroso e emocionante ao mesmo tempo porque ouvir um 'a gente vai te amar independentemente de qual for a sua 'preferência sexual' foi inesperado e muito acolhedor" [Lembrando que a expressão correta a se usar é orientação sexual].

Para a designer e costureira Pamella Vieira o processo de autodescoberta sobre a bissexualidade também ocorreu na fase adulta. Ela conta que aos 20 anos começou a perceber um interesse afetivo romântico também por mulheres.

"Desde de adolescente eu desejava estar mais próxima de pessoas do mesmo sexo, só que não entendia de que forma e nem podia procurar entender por conta da religião em que estava inserida", conta Pamella, que está com 24 anos.


A escritora italiana Miriam Squeo no Rio de Janeiro
A escritora italiana Miriam Squeo em Fernando de Noronha
A escritora italiana Miriam Squeo com seu livro 'Por Trás dos Meus Cabelos'
A escritora Miriam Squeo com o livro 'Por Trás dos Meus Cabelos'
A designer e costureira Pamella Vieira se entendeu bissexual aos 20 anos
A designer e costureira Pamella Vieira com uma de suas criações de customização da marca Abs
A designer e costureira Pamella Vieira

"Guardei, e por vezes reprimi, até meus 20 anos, quando decidi que era hora de experimentar", conta a designer, que tem uma loja de customização de roupas.

"Depois que me abri e vivi minha primeira experiência, tive a certeza que realmente gostava do mesmo sexo também. Cada nova interação com ambos os sexos me mostrava que, embora de formas diferentes, tinha interesse por me relacionar tanto com mulheres quanto com homens."

Ela conta que hoje sente "mais paz por ter certeza e vivência [na bissexualidade]. "Saio e fico com pessoas sem medo do julgamento alheio e sem o peso do meu próprio", diz.

Episódios de bifobia

mulher de costas, com fundo laranja, vestindo jaqueta pintada
Arquivo pessoal

A designer e costureira Pamella Vieira com uma de suas criações de customização da marca Abs

Tanto Pamella quanto Miriam afirmam que já viveram episódios de bifobia.

A costureira relata que chegou a ser ofendida em público pela mãe de uma menina que estava ficando.

"Estava voltando de um 'date' com uma garota e a mãe dela nos encontrou perto da pousada que elas estavam hospedadas. A mulher saiu gritando na rua, avançando em mim, e perguntando quem eu era, e o que a filha estava fazendo comigo. Ela dizia: 'O que você está fazendo com essa garota nojenta, minha filha? Vocês não estavam se beijando não, né? Chegando em casa você vai ver", relata Pamella.

Já a escritora conta que vive episódios LGBTfóbicos "constantemente". "Quando leio a surpresa nos olhos da pessoa quando falo: 'Eu sou bi', por exemplo, a resposta normalmente é: 'Você?'.

"O fato de eu ser muito feminina cria esses tipos de respostas que eu acho tão retrógradas em 2023. Como se por gostar de mulheres você poderia somente ter uma aparência masculina. O que mais me incomoda é também quando ouço
respostas de pessoas querendo me 'converter' ou quando começam a criar fantasias sexuais. A bissexualidade e homossexualidade femininas são muito sexualizadas na cabeça dos homens."


Miriam finaliza refletindo que escrever a ajudou a olhar de maneira sincera seus 
sentimentos e emoções: "A ser eu de verdade."

"Se sentir livre para ser quem somos é fundamental no processo de descoberta. Escrever me deu coragem de me assumir para o mundo e para minha família. E espero que essa história consiga dar coragem para outras pessoas também."

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