A jornalista e influenciadora Nadia Bochi
, que já foi repórter do ‘Mais Você’, na Globo, e a mulher, Silvia Henz
, influenciadora da área de moda, estão casadas há dois anos e nunca tiveram problemas em demonstrar carinho e afeto nas redes sociais. Contudo, as duas foram vítimas de LGBTfobia
depois de compartilharem um post de Réveillon em que aparecem dando um beijo na boca
.
O post, originalmente publicado por Silvia caiu como uma luva nas mãos de uma parcela LGBTfóbica que destilou todo o preconceito nos comentários da rede social. Assustada, a influenciadora apagou as mensagens de ódio e bloqueou os internautas que estavam atacando as duas, mas Nadia confessa que sentiu muita tristeza por presenciar a maldade tão grande dessas pessoas que fizeram questão de demonstrar o nojo por elas.
“Depois de postar a foto, tivemos dois momentos de tristeza: um quando veio a chuva de unfollow e os comentários homofóbicos e depois quando vieram as primeiras notícias repercutindo o assunto”, comenta. “A imprensa em geral deslocou o foco da agressão que foi sofrida por minha esposa e jogou para mim”, descreve.
Em entrevista exclusiva ao iG Queer , Silvia também destaca a surpresa com a reação dessas pessoas porque o preconceito sempre existe , porém de uma forma velada. Dessa vez, esses haters não tiveram pudores de deixar explícito o ódio pela comunidade LGBTQIA+, deixando até emojis de vômito para elas.
“Antes as pessoas só paravam de seguir, mas parece que elas precisavam deixar um vômito ali , uma palavra de ódio ou dizer que devia postar só conteúdo de moda. [Me espanta] O mix desses comentários e a falta de vergonha das pessoas que fizerem isso com o perfil delas, às vezes profissional, me chocou bastante. No primeiro dia do ano! Fiquei muito triste e com muita raiva. Como eu ‘passo’ de mulher hétero , minha vida é sair do armário. A cada novo trabalho, círculo social, já vou avisando que sou lésbica para não fazerem piadinhas na minha presença como se eu fosse um deles”, comenta a influenciadora.
Nadia conta que já tinha sofrido ataques anteriormente, o que – segundo ela – não tira o peso da dor, mas confessa que se sentiu mais violentada quando as agressões partiram para cima da mulher, Silvia.
“Ela é criadora de conteúdo e ajuda milhares de mulheres a aprender a se vestir, nunca imaginou que as próprias mulheres que a seguem pudessem ter uma reação homofóbica a um simples beijo . Isso foi o que mais nos entristeceu”, lamenta.
Silvia também é jornalista por formação, mas agora foca exclusivamente seu trabalho como influenciadora de moda, e diz que se sente pouco aceita e representada dentro do universo fashion, já que é muito comum ver homens gays atuando na área e quase nunca se vê uma mulher lésbica no mesmo posto.
“ Não tem grandes lésbicas da moda . Consigo pensar na Jenna Lyons, em alguns nomes de modelos, mas a exceção só confirma a regra. Moda é minha área e eu não cresci vendo exemplos de sucesso. Sou a primeira influencer lésbica da [empresa] FHits e várias vezes sou a primeira lésbica dos espaços. A gente não vê em programas de TV com lésbicas ensinando os caras a se vestir. Quantos programas nesse formato são homens gays ensinando a parte de moda não só para homens, mas para as mulheres? Como se o bom gosto pertencesse só a eles”, pontua.
Falta de sororidade
Nadia e Silvia ficaram decepcionadas ao perceberem que a grande maioria dos ataques vinha justamente de mulheres que deveriam estar ali justamente para apoia-las, mas preferiram o ataque. Nadia diz que é lamentável ver a repercussão do caso em que Silvia, uma mulher, a principal vítima dos ataques, ainda é colocada apenas na posição de “esposa da ‘ex-Globo’", e não como uma pessoa que foi alvo de LGBTfobia.
“Acreditamos que somos e merecemos muito mais do que isso! É preciso que as mulheres lésbicas formadoras de opinião em nosso país de fato tenham o espaço que elas merecem e vamos lutar por isso. Não vamos deixar uma onda de preconceito nos frear. Nosso trabalho segue sendo para todos na internet.”
Já a influenciadora descreve que se “sentiu um lixo” ao ver mulheres a atacando com palavras e emojis preconceituosos. Silvia lembra que o Brasil é o país que mais mata pessoas LGBTQIA+ no mundo , de acordo com os dados do relatório “Mortes Violentas de LGBTI+ no Brasil – 2021”, divulgados pelo Grupo Gay da Bahia (GGB) em 2022.
“O lixo do resto do lixo. Desculpa se ainda falo de um lugar de dor sobre tudo isso. Eu senti primeiro como uma rejeição. Mas daí lembrei das vezes que houve comentários sobre algo que disse, alguma opinião e uma perda de seguidores por conta disso. Não doeu tanto porque era sobre visões de mundo diferente, o que dói é o preconceito mesmo, é a punição por achar que minha forma de amar está errada ou ofender ou é escandalosa e devia ser escondida”, afirma.
“Eu só estava postando uma foto de beijo de Ano Novo como várias outras influencers estavam fazendo. Só estava fazendo igual a todo mundo, daí o mundo veio me lembrar que eu não sou todo mundo, que sou lésbica e que a gente está no país que mais mata LGBTQIA+ do mundo ”, continua.
Atualmente, o casal vive entre os estados de São Paulo e Paraíba e viajam oferecendo cursos em todo Brasil. Silvia segue seu trabalho na moda, enquanto que Nadia foca na comunicação e juntas oferecem cursos que ensinam mulheres a se vestirem estrategicamente e se comunicarem a fim de alcançar seus objetivos de vida.
A jornalista afirma que as duas se aproximaram ainda mais durante o período da pandemia da Covid-19, inclusive foi nesse período que elas decidiram se casar após quatro anos de namoro. Agora elas estão à frente de um trabalho social de cinema comunitário na vila de Barra de Camaratuba, na cidade de Mataraca (PB) e lançarão um podcast juntas.
“Acreditamos que o amor tem a ver com respeito, admiração e cultivar espaços de individualidade, em que possamos nos lembrar de quem somos, independentemente da outra. Desse jeito, dá sempre vontade de ficarmos juntas ”, se derrete Nadia.
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