Documentário 'Não é a Primeira Vez que Lutamos Pelo Nosso Amor' é dirigido por Luis Carlos de Alencar.
Paula Monte
Documentário 'Não é a Primeira Vez que Lutamos Pelo Nosso Amor' é dirigido por Luis Carlos de Alencar.

O documentário "Não é a Primeira Vez que Lutamos Pelo Nosso Amor" , realizado pela Produtora Couro de Rato, dirigido por Luis Carlos de Alencar e produzido por Vladimir Seixas, acaba de ser selecionado para o Festival do Rio 2022 e fará sua estreia mundial na Première Brasil: Competitivas - Longas documentários, no próximo sábado (8).

A exibição ocorre às 17h, para convidados, no Shopping da Gávea, na zona sul da capital fluminense. No domingo (9), às 10h30, será realizada a sessão para o público, no Cine Odeon, no centro da cidade, seguida de debate com o diretor.

O longa relata histórias de perseguições e violências contra a população LGBTQIAPN+ durante a ditadura brasileira , e como as suas lutas por resistência formaram o Movimento LGBTQIA+ brasileiro.

Além do resgate dessas lutas do passado, o filme também se volta para os contrastes dos tempos atuais. Ao mesmo tempo em que milhões de pessoas saem às ruas todos os anos para participarem das Paradas do Orgulho LGBTQIA+ , o Brasil é um dos países com o maior índice de violência contra as minorias sexuais , com grande avanço do neoconservadorismo cristão e das políticas morais da extrema direita, ideologicamente contrários ao modo de ser e de viver das pessoas LGBTQIA+.

"Este documentário visa justamente lembrar aos jovens que nossa história de resistência é muito antiga e que precisamos conhecer nossa memória para elaborar melhor nossa luta atual, mantendo  e ampliando nossa liberdade. Eles vão passar, nós vamos continuar", diz o diretor da produção, Luis Carlos de Alencar.

Para o cineasta o trabalho narra, principalmente para as gerações mais novas, que não é a primeira vez que as minorias sexuais e de gênero, passam por esses problemas e que precisam lutar pelo direito de amar.


Pesquisa para o documentário

A pesquisa para o documentário teve início em 2015, motivada pela ausência desse recorte na cinematografia brasileira. Conta com imagens raras fornecidas, em muitos casos, pelas próprias pessoas entrevistadas, como fotos pessoais, registros de reuniões, matérias de jornais alternativos e trechos de audiovisuais.

Há também conteúdos de pesquisadores acadêmicos, acervos mantidos por militantes LGBTQIAPN+, além de outros documentos de fotojornalistas e cineastas brasileiros que registraram momentos fundamentais do período retratado no filme.

A produção conta com membros de diversos grupos e frentes da luta LGBTQIA+ ao longo das últimas décadas, como o escritor João Silvério Trevisan, a historiadora e ativista Marisa Fernandes, o ativista LGBTQIA+ e pioneiro Jorge Caê Rodrigues - os três do Grupo SOMOS - RJ; os ativistas Wilson Mandela e Luiz Mott - do Grupo Gay da Bahia -; e Alexandre Ribondi, do Grupo Beijo Livre (Brasília).

Além dos personagens brasileiros, o filme conta com membros de grupos internacionais como o escritor Gary Alinder, do Gay Liberation Front de São Francisco; Karla Jay, pioneira no campo dos estudos de lésbicas e gays nos Estados Unidos e membra do Gay Liberation Front de Nova Iorque; e Marcelo Benítez e Nestor Latronico, membros da Frente de Liberación Homosexual, de Buenos Aires.

Outras participações importantes são de Jaqueline Gomes de Jesus, professora universitária e presidente da Associação Brasileira de Estudos da Trans-Homocultura; Sissy Kelly, coordenadora da Rede Trans Brasil (Minas Gerais); Rita Colaço, historiadora integrante do Grupo de Atuação e Afirmação Gay, no Rio de Janeiro e uma das consultoras de roteiro; e Renan Quinalha, professor universitário e autor do livro "Contra a moral e os bons costumes: A ditadura e a repressão à comunidade LGBT". 

Filmagens foram antecipadas devido às eleições presidenciais de 2018

Logo após o resultado das eleições presidenciais de 2018, e diante do avanço de grupos e de ideais fascistas, as filmagens foram antecipadas como uma resposta de resistência.

Foi contra o clima crescente de medo e de terror instalado à época que a equipe, formada por pessoas LGBTQIA+, iniciou não somente a construção do filme, mas também a própria experiência de seu reerguimento pessoal diante da crescente opressão contra as minorias.

As filmagens foram realizadas em seis cidades: São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador, Belo Horizonte, Buenos Aires, Nova Iorque, São Francisco e Los Angeles. Entre 2020 e 2021, em meio às restrições sanitárias da pandemia da Covid-19. 

"O retorno ao passado ditatorial do país, com esse recorte da luta LGBTQIA+, nos oferece olhares significativos sobre a nova onda conservadora que cresce desordenadamente e mostra que não é a primeira vez que lutamos e resistimos. Uma sociedade só é livre e uma democracia só é plena se os desejos forem vividos socialmente, como uma dimensão política da própria vida em sociedade", finaliza o diretor. 

"Não é a Primeira Vez que Lutamos Pelo Nosso Amor" é dedicado à memória de Priscila, Laysa Fortuna e Kharoline, pessoas trans assassinadas às vésperas das eleições presidenciais de 2018, em diferentes cidades brasileiras, por homens que gritavam o nome de Jair Bolsonaro.  O então candidato à presidência do Brasil em toda sua carreira política incitou a violência contra a população LGBTIQA+. 

O longa também concorre ao Prêmio Félix, que volta ao Festival e celebra os filmes de temática LGBTQIA+ em toda a programação, e foi coproduzido pelo canal CINEBRASILTV, com fomento do Fundo Setorial do Audiovisual / Prodav.

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