Na última semana, a jornalista Miriam Leitão, do jornal O Globo, divulgou
áudios do Superior Tribunal Militar que relatam tortura contra presos durante a ditadura
no Brasil.
São mais de 10 mil horas de gravações de sessões de julgamentos da época em que os ministros detalham torturas físicas e psicológicas sofridas por presos políticos.
O material mostra que a alta cúpula do Judiciário Militar tinha pleno conhecimento das torturas realizadas naquele período, diferente do que sempre foi argumentado pelos amantes do regime.
37 anos se passaram desde o fim da ditadura no Brasil e até hoje os militares do regime nunca foram julgados. Isso porque tivemos uma lei de anistia que os livrou de qualquer tipo de julgamento.
E a história que não é julgada nem contada volta a se repetir. E hoje temos no comando do país um ex-militar que defende o regime, que já afirmou diversas vezes acreditar na tortura como solução e prestou homenagem para torturador no Congresso Nacional. Por isso não podemos deixar nunca de falar sobre o que aconteceu naquele tempo tão sombrio do nosso país.
LGBTs eram perseguidos pelos militares
Quando os militares tomaram o poder, em 1964, eles representavam uma elite de direita e conservadora, que enxergava os homossexuais como um "desvio de conduta moral".
O Brasil sempre foi um país LGBTfóbico, mas naquela época era ainda mais forte o preconceito contra essa população, que ganhou força com os militares no poder.
Segundo o relatório final da Comissão Nacional da Verdade (CNV), produzido em 2014 e entregue para então presidente Dilma Rousseff, durante a ditadura, os LGBTs foram alvos constantes dos militares e sofriam mais em torturas e perseguições, assim como negros e mulheres.
Mesmo dentro dos partidos de esquerda, que faziam oposição ao regime, os LGBTs não eram bem-vindos e suas lutas eram consideradas menores que as outras.
O relatório mostra também que militantes gays da época eram humilhados nos interrogatórios e torturados. Entre as principais violações destacadas pelos pesquisadores estão as rondas policiais sistemáticas para ameaçar e prender travestis, gays e lésbicas, cuja prática de "higienização" levou ao menos 1,5 mil pessoas à prisão somente na cidade de São Paulo.
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Especialistas sobre o tema falam que a homofobia foi uma política de estado durante a ditadura militar no Brasil.
O movimento LGBT tem uma história de luta, resistência e apagamento. Precisamos honrar a nossa trajetória e entender que a nossa pauta deve ser ampla, incluindo a luta contra os amantes da ditadura, que querem manter o poder nas mãos de um ex-militar abertamente LGBTfóbico. Não vamos deixar isso acontecer.
Para isso, vou deixar aqui alguns materiais para que possamos estudar mais sobre o movimento LGBT na ditadura militar brasileira e nos inspirar na luta por liberdade do nosso povo. Ditadura nunca mais.
::: Filme “Temporada de Caça” (1988), de Rita Moreira , que trata da onda de assassinatos de homossexuais que assolava São Paulo e Rio de Janeiro nos anos 80.
::: Catálogo da exposição “Orgulho e Resistências: LGBT na Ditadura” , do Memorial da Resistência. A mostra foi realizada em parceria com o Museu da Diversidade Sexual e com curadoria de Renan Quinalha.
::: Livro do professor Renan Quinalha "Contra a mora e os bons costumes: A ditadura e a repressão à comunidade LGBT" .