Rafael Brunelli e Larissa Ferreira
Reprodução/Instagram - 22.11.2023
Rafael Brunelli e Larissa Ferreira

Discutir sexualidade ainda é um tema sensível, especialmente quando se trata de pessoas com deficiência (PCD). A falsa noção de que esses indivíduos são incapazes de sentir prazer, formar famílias, desfrutar de direitos sexuais, entre outras práticas, prejudica e mina uma discussão crucial para a inclusão dessa população no Brasil.

O apresentador e influenciador Rafa Brunelli, uma pessoa não binária e pansexual, destaca a questão do corpo como foco central quando se trata de sexualidade e desejo.

Ele observa como a sociedade estabelece um padrão único de corpo desejável, criando barreiras para aqueles que fogem desse ideal. O próprio influenciador enfrentou desafios para se permitir ser desejado, demorando para se abrir afetiva e sexualmente.

“A gente foi criado para pensar que o desejo está ligado a um único tipo de corpo, que é o corpo dito bonito, padrão, que é o corpo magro, musculoso, corpo cis, sem deficiência e por aí vai.”

Ele acredita que qualquer pessoa que fuja desse padrão sofre uma barreira nas relações afetivas sexuais. No entanto, Rafa conta que conseguiu modificar essa crença e passou a se permitir ser um corpo desejado. 

A produtora cultural Larissa Ferreira, também pansexual, só teve percepção do quanto o capacitismo a afeta com mais clareza já adulta. Para ela, desde o momento em que começa a sentir interesse em alguma pessoa, já começa a sentir uma insegurança por ter medo da reação alheia.

Os questionamentos surgem desde o medo de ser vista como abjeta a possibilidade de não viver esse relacionamento de forma plena e pública. “É sempre em estado de negação, de ser menos capaz, de não ter o direito de me relacionar.”

Larissa explica que sente todas as barreiras, inclusive as próprias que criou ao longo da vida, mesmo destacando que não foi porque ela quis, mas uma consequência da sociedade: “São poucas as pessoas com quem me relaciono."

Atualmente, ela está namorando uma mulher negra cis, mas destaca que antes nunca houve isso em sua vida. “Todo mundo é capacitista”, critica. “É doloroso enxergar essa minuciosidade do capacitismo no dia a dia." 

A produtora cultural, sendo negra, também enfatiza que isso lhe atravessa. Contudo, ela pondera que é preciso ser gentil consigo mesma e não aceitar menos por conta do seu corpo, pois há uma plenitude nela independentemente da sua deficiência.

Rafa, enquanto pessoa não binária, conta que antes era visto apenas como uma bicha afeminada, e isso também lhe atrapalhou no processo de construir uma vida afetiva e sexual, pois carregava duas questões que a sociedade não gosta: a deficiência e a performance de gênero que foge da masculinidade. 

Rafael Brunelli
Reprodução/Instagram - 22.11.2023
Rafael Brunelli

Roupa, cabelos, maquiagem, tudo isso Larissa utiliza como forma de chamar atenção. “As pessoas já me olham, então vou fazer com que elas me olhem da forma que eu gosto e quero”. A autenticidade é uma forma que ela encontrou de não ser percebida apenas como um corpo PCD, assim como Rafa Brunelli.

“Eu aprendi a me pautar na minha personalidade, encontrar a minha beleza, seja por meio de roupas ou até forma de me comunicar”, afirma o influenciador.

PCDs também transam 

Rafa destaca que lidar com ser PCD e adotar uma vida afetiva sexualmente é visto como tabu para muitos. Isso é construído por diversos motivos, desde a representação negativa na mídia à falta de debates acerca da humanidade de pessoas com deficiência, que muitas vezes têm essa humanidade negada, sendo vistas apenas como “um corpo deficiente”.

“Falar que pessoas PCDs transam é superimportante, porque rasga esse véu de uma pseudoverdade", defende Larissa. 

Nos aplicativos

Quando o assunto é o uso de aplicativos de encontro, Rafa destaca que nunca se sentiu contente nesses espaços, principalmente quando o aplicativo é para sexo casual.

No entanto, quando é para conhecer alguém com mais calma, ele usa e acredita que é um caminho, pois encontra formas de se apresentar e falar sobre a sua deficiência com mais calma.

Larissa, por outro lado, opta por não usar aplicativos de relacionamentos. Antes do atual namoro, ela sempre desistia de procurar uma relação afetiva e sexual. O processo de ensinar a outra pessoa a respeitá-la lhe causa dor. 

Larisa Ferreira
Reprodução/Instagram - 22.11.2023
Larisa Ferreira

Para ela, os aplicativos são "um ambiente muito opressor vinculado apenas a imagem". Ela acrescenta: "É um lugar que pode multiplicar todas as minhas inseguranças.”

Além disso, ela escolhe não contar que é uma pessoa PCD. "Isso é um absurdo e extremamente capacitista. Eu sou uma mulher negra e não preciso falar isso sempre que preciso me apresentar pra alguém.”

Ambos enfatizam como a linguagem médica e do dia a dia pode contribuir para a perpetuação do capacitismo, apontando termos como "defeito congênito" ou "deficiente" como exemplos de como a sociedade desqualifica e apaga a experiência das pessoas com deficiência.

“Tudo na sociedade gira entorno para esse apagamento e desqualificação das pessoas com deficiência”, argumenta Larissa.

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