A finalista de 'Drag Race Brasil', Hellena Malditta
Reprodução/Instagram 09.11.2023
A finalista de 'Drag Race Brasil', Hellena Malditta

Hellena Malditta, finalista da primeira edição de “ Drag Race Brasil ”, — a única representante do Nordeste na competição —, entregou beleza, carisma, emoção e posicionamentos firmes durante sua jornada no reality.

Ela emocionou o público ao revelar ser uma pessoa que vive com HIV . Outro ponto pessoal sobre a drag queen de Salvador é que ela se identifica como uma pessoa não binária .

“Ainda no terceiro ano estava passando por uma confusão mental de não me entender enquanto um menino gay e também não me entender como uma mulher trans”, conta a drag em entrevista exclusiva o iG Queer.

“Já quase comecei processo de hormonização, porque acreditei que eu era uma coisa ou a outra. No ensino médio, assisti uma palestra sobre diversidade e sexualidade, e percebi que a comunidade vai além do LGBT+.”

Ela continua: “Percebi também que está tudo bem eu estar naquele lugar de desconforto, de não conseguir performar uma masculinidade 100% e também não me entender uma mulher.”

Hellena conta que hoje em dia abandonou um pouco sua estética conectada ao não binarismo, “até mesmo por proteção”: “Eu não saio na rua mais de qualquer jeito, dependendo do lugar que eu vou. Às vezes a gente veste aquela camuflagem e vai. Independentemente do que a gente esteja vestindo, acho que [o mais importante] é como a gente se sente por dentro.”

“Eu parei muito de me cobrar também”, declara a queen. “Eu passei por um período de cobrança que acreditava que tinha que performar androgenidade o tempo inteiro por ser uma pessoa não binária. Não estava mais sendo sobre quem eu sou, mas sim sobre o que as pessoas estavam querendo que eu fosse, por causa do rótulo que eu estava estampando.”

Cena drag de Salvador

Apesar de estar rodando todo o Brasil levando sua arte drag, Hellena não se esquece de onde veio. “A cena drag de Salvador, para mim, foi uma escola. É um tipo de relação que eu não vejo com outras drags de outras cidades. Eu não sei explicar, só vivendo.”

“A relação pessoal que a gente tem lá em Salvador é muito grande, porque não parece um monte de drag competindo por espaço, mesmo com poucas casas para trabalhar”, acrescenta a queen. “Acaba que não rola essa competição entre a gente em si. Há uma irmandade muito grande.”

Hellena também afirma que há “uma cultura de concurso muito forte” na cidade baiana — característica que influencia sua drag conhecida pela postura de miss. “As drags que são mais antigas ficam querendo puxar os anos de ouro da rua Carlos Gomes o tempo inteiro. Elas não querem deixar isso se perder e querem passar para a próxima geração.”

A artista explica que a rua Carlos Gomes fica localizada no Centro Histórico de Salvador e concentra a maioria dos bares LGBTs abertos há mais de 15 anos na região. “Apesar de hoje o fervo mesmo acontecer no Rio Vermelho, mais à orla”, segundo Hellena, “o Centro Histórico ainda tem um peso.” 

“De terça a domingo tem bar aberto na [rua] Carlos Gomes para você assistir show de drag”, conta a queen em um tom convidativo. “Tem drag de nova geração, novos estilos de drag, mas sempre se permanece aquela coisa da tradição drag, de famílias drag, de concursos que duram três meses… Semana após semana, a gente está lá, nos bares, fomentando a cultura.”

A gênese de Hellena

A finalista de 'Drag Race Brasil', Hellena Malditta
A finalista de 'Drag Race Brasil', Hellena Malditta
A finalista de 'Drag Race Brasil', Hellena Malditta
A finalista de 'Drag Race Brasil', Hellena Malditta
A finalista de 'Drag Race Brasil', Hellena Malditta
A finalista de 'Drag Race Brasil', Hellena Malditta
A finalista de 'Drag Race Brasil', Hellena Malditta
A finalista de 'Drag Race Brasil', Hellena Malditta
A finalista de 'Drag Race Brasil', Hellena Malditta
A finalista de 'Drag Race Brasil', Hellena Malditta
A finalista de 'Drag Race Brasil', Hellena Malditta
A finalista de 'Drag Race Brasil', Hellena Malditta
A finalista de 'Drag Race Brasil', Hellena Malditta
A finalista de 'Drag Race Brasil', Hellena Malditta
A finalista de 'Drag Race Brasil', Hellena Malditta
Hellena Malditta utilizou a temática da prevenção ao HIV para fazer seu look inspirado em Carmen Mirando em um dos desafios de 'Drag Race Brasil'
Hellena Malditta é uma das finalistas da primeira temporada de 'RuPaul's Drag Race'
Hellena Malditta é uma das candidatas a entrar para o elenco do "Drag Race Brasil"



A drag queen compartilha na entrevista um dos momentos mais emblemáticos para toda artista deste tipo de performance: o nascimento da persona drag.

Hellena conta que descobriu que havia se tornado uma pessoa vivendo com HIV quando terminava o terceiro ano do ensino médio, entre 16 e 17 anos. Na sequência ela prestou o vestibular para cursar Moda, seu sonho.

“Eu consegui passar [no vestibular], consegui a bolsa, tive o meu diagnóstico [de HIV+] e comecei meu tratamento. Esse turbilhão todo de uma vez. Tinha uma professora que era muito liberal, e ela levou algumas drags, que eram alunos da universidade, para dar uma palestra sobre essa arte. Até então, eu só conhecia drag do programa [RuPaul’s Drag Race], e eu achava que nunca ia conseguir ter acesso para fazer uma drag daquela qualidade.”

A partir do contato com as drags locais, a artista percebeu que sim, era possível também sair do lugar de fã da arte para vivenciá-la na prática.

“Quando eu conheci as drags na universidade, e vi essa possibilidade, de outras formas de fazer drag, — como as monstras, as clubbers, as misses, as mais garotas —, eu percebi que tinha vários outros estilos e que no Brasil eu não precisava estar com uma peruca no teto, porque o que importa é estar fazendo a arte e se expressando de alguma forma.”


Uma miss clubber 

Hellena Malditta é uma das finalistas da primeira temporada de 'RuPaul's Drag Race'
Reprodução/Instagram
Hellena Malditta é uma das finalistas da primeira temporada de 'RuPaul's Drag Race'



“Artisticamente, me sinto muito clubber”, declara Hellena. “Eu me sinto muito confortável no palco quando eu estou numa coisa clubber, animal, mas esse universo de concurso me fez entender que as pessoas cobram padrão estético e se você não atende esse padrão, elas não vão te dar a oportunidade de você mostrar sua arte no próximo desafio.”

“E se você está [caracterizada de] uma coisa que é de difícil entendimento, difícil de gerir, e a pessoa não está aberta, o jurado vai te fazer rodar naquela noite. Acabei entendendo que para ser julgada [nos concursos] eu tinha que dar menos parâmetros possíveis para os olhos dos outros”, finaliza.

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