Junho é o mês do orgulho LGBTQIAP+ e os criadores e precursores da linguagem neutra no Brasil , o Instituto [SSEX BBOX] e a [DIVERSITY BBOX], realizam nesta sexta-feira (9), no Largo do Arouche, em São Paulo, das 11h às 21h, a 6ª Marcha do Orgulho Trans com o tema “Transformação”.
O evento, que já teve três edições presenciais e duas on-line, é considerado o maior em protagonismo de travestis, pessoas transgêneros binária e não binárias da América Latina. Neste ano, estão confirmados para o evento o ministro dos Direitos Humanos e da Cidadania do Brasil, Silvio Almeida, a secretária Nacional dos Direitos da População LGBTQIA+, Symmy Larrat, a codeputada estadual de São Paulo Carolina Iara e a deputada federal Erika Hilton.
“A Marcha do Orgulho Trans surgiu em 2018 porque percebemos que o Brasil não estava inserido no mapa das Marchas de Orgulho Trans que ocorrem em todo mundo. Inserir a pauta trans e a Marcha da cidade de São Paulo no mapa global foi o norteador na criação do evento que já acontece há seis anos”, explica Pri Bertucci, cocriadore da linguagem neutra em português e produtore executivo da Marcha do Orgulho Trans.
Ativistas como Neon Cunha, a presidenta da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra) Keila Simpson, a ex-deputada estadual de São Paulo Erica Malunguinho, a psicóloga e professora universitária Jaqueline Gomes de Jesus e a cofundadora da TransEmpregos Márcia Rocha também estarão presentes na edição deste ano.
Jaqueline Gomes de Jesus , presidenta da Associação Brasileira de Estudos da Trans-Homocultura (Abeth), esteve presente em todas as edições da Marcha do Orgulho Trans de São Paulo. Neste ano, fará uma fala de abertura ao lado de Symmy Larrat, que está à frente da Secretaria Nacional dos Direitos das Pessoas LGBTQIA+.
“Vai ser uma alegria reencontrá-la [Symmy] mais uma vez neste espaço importante de ocupação pelos nossos direitos e nossas vidas. A Marcha possibilita ilustrar, mudar e criar outros imaginários sobre nossas vidas, sobre as nossas potências, e é fundamental ocupar as ruas para tornar público nossos afetos, existências e as nossas identidades”, argumenta Jaqueline.
Três milhões de pessoas que moram no Brasil se identificam como travestis, pessoas transgênero binárias e não binárias, conforme revelou um estudo feito pela Faculdade de Medicina de Botucatu da Universidade Estadual Paulista (FMB-Unesp) e, desde 2018, a Marcha do Orgulho Trans visa protagonizar e celebrar essas vivências.
“Existem temas muito básicos que precisam ser garantidos para as pessoas trans. O principal deles é o acesso aos recursos. Por isso, temos essa relação com as marcas e, sempre uma semana antes da Marcha, realizamos, no último sábado, por exemplo, a Feira Trans, com foco em empreendedorismo e empregabilidade para as pessoas da comunidade trans, pois não há justiça social sem justiça econômica”, defende Pri.
Para a celebração deste ano haverá também shows de artistas transgêneros e travestis como Kaique Theodoro, Lumma, Julie Rios, Narcaso, Winnit, Mc Xuxú, Mc Trans, Irmãs de Pau, Jasper Okan, Azula e Batucada.
Erica Malunguinho, ativista e ex-deputada estadual de São Paulo foi a escolhida para encerrar a noite do evento. Em seu discurso, ela divide com antecedência ao iG Queer que planeja compartilhar uma mensagem de força e poder para restauração das nossas humanidades. “Quero trazer elementos da cultura afro-brasileira para invocar a ancestralidade e nos situar dentro de uma realidade LGBTQIAP+ potente e transformadora”, cita.
‘A Parada sempre teve um foco maior nos homens gays’
As marchas e caminhadas para comunidades específicas da sigla LGBTQIAP+, não só no Brasil, mas no mundo inteiro, ocorrem porque falta espaço nas tradicionais paradas que têm como foco homens gays.
“A Parada sempre teve um foco maior nos homens gays, tanto que as pessoas ainda chamam o evento de Parada Gay, e não Parada do Orgulho LGBT+. Só nos últimos anos que podemos ver trios específicos para a comunidade de pessoas bi, mulheres lésbicas e pessoas trans. Mas isso só aconteceu porque protestamos ano após ano”, pontua Pri.
Pri conta ainda que a proporção da Marcha Trans é menor que a Parada do Orgulho LGBT+ não só na questão de visibilidade, mas também no âmbito financeiro, pois é sempre um desafio achar patrocinadores para o evento, e eles precisam pagar os artistas, funcionários, equipamentos etc.
Erica Malunguinho também soma o debate inserindo que a Parada já tem um lugar garantido no imaginário e na cultura.
“É importante que outros protagonismos aconteçam para que as especificidades de cada grupo se tornem visíveis. Uma situação não está em detrimento a outra, elas são complementares e espero que a sociedade e patrocinadores entendam que fomentar a diversidade não é apenas na grande celebração da Parada, mas em todos as narrativas que constituem o orgulho LGBTQIAP+”, evoca.
Neste ano, a Marcha conta com o apoio de marcas como Beats, TikTok, Doritos e Ben & Jerry’s, Dell Technologies, Uber, TV Globo, Pacto Global da ONU, Eletromidia e Instituto Ethos.
A realização do evento é assinada pelo Instituto [SSEX BBOX], pela [DIVERSITY BBOX] e pela incubadora LGBTQIAP+ [SOCIAL BBOX].
Assim como a Marcha do Orgulho Trans de São Paulo ocorre na sexta-feira (9), a Caminhada de Mulheres Lésbicas e Bissexuais de São Paulo, que já existe há 20 anos, também acontece no sábado, a partir das 15h no Masp, na Avenida Paulista, pelo mesmo motivo: falta de protagonismo dessa comunidade nas tradicionais paradas.
Além disso, Erica também destaca a realização da 4ª edição da Parada Preta de São Paulo, que ocorreu nesta quinta-feira na região do Bixiga, com realização do coletivo AMEM junto com a Batekoo e a Casa1.
“Isso revela a reivindicação por mais visibilidade dentro da sigla. Todos esses movimentos precisam crescer para que seu sentido, que é a luta e a celebração, possa romper as discriminações com profundidade e interseccionalidade, uma vez que a sociedade hierarquizou as opressões”, completa Erica.
Novas perspectivas
Paralelamente, o evento acontece após quatro edições sendo realizadas no governo Bolsonaro. Apenas a 1ª edição foi feita quando ele ainda não estava no cargo de presidente, e agora a 6ª é no governo Lula.
“É extraordinariamente relevante a 6ª edição da Marcha ocorrer após esse período difícil que vivemos. É um momento de refresco, mas também de apontar caminhos necessários, porque as coisas não estão resolvidas, temos muito o que enfrentar, mas agora com uma perspectiva mais positiva”, adiciona Jaqueline.
Recentemente, o Governo Federal anunciou a mudança na Carteira de Identidade Nacional (CIN) para torná-la mais inclusiva eliminando o campo referente ao sexo e terá apenas um campo para nome, sem distinção entre nome de registro civil e nome social. Além da reformulação da Secretaria Nacional dos Direitos das Pessoas LGBTQIA+, extinta nos anos anteriores.
Jaqueline acredita que o maior desafio agora é articular uma política mais criativa, que fuja de moldes antigos, e isso só é possível com um debate público atrelado a movimentos sociais, intelectuais e políticos transgêneros sendo protagonistas. “É fundamental ocupar as ruas da maior cidade da América Latina na Marcha Trans, pois é um evento que se traduz em espaço de saúde, de potência da nossa população e de cura para a sociedade brasileira”, finaliza.
SERVIÇO
6ª Marcha do Orgulho Trans de São Paulo
Data: 9 de junho, sexta-feira
Local: Largo do Arouche — República, São Paulo
Horário: das 11h às 21h
Para conferir mais informações, acesse aqui.
21ª Caminhada de Mulheres Lésbicas e Bissexuais de São Paulo
Data: 10 de junho, sábado
Local: Museu de Arte de São Paulo (MASP) — avenida Paulista, 1578 — Bela Vista, São Paulo
Horário: 15h
Para conferir mais informações, acesse aqui.
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