O evento
Reprodução/Instagram @teresinashopping 11.01.2023
O evento "R(e)istências Trans" acontecerá no Shopping Teresina, no Piauí, entre 11 e 18 de janeiro.

Janeiro marca o mês da Visibilidade Trans  e como parte de uma campanha de conscientização o Shopping Teresina, no Piauí, irá promover a exposição "R(e)sistências Trans" , entre 11 e 18 de janeiro, que contará ainda com rodas de conversas. O que deveria ser motivo de celebração, acabou sendo alvos de ataques transfóbicos.

O shopping publicou a divulgação do evento em suas redes sociais e recebeu inúmeros comentários transfóbicos, especialmente sobre a palestra  "Uma Perspectiva Materna" , que ocorrerá nesta quarta-feira (11), às 19h.

A produtora de moda Amanda Pitta, mãe de uma menina trans de 12 anos, é quem comandará a roda de conversa. Ela contou ao iG Queer que ficou assustada com a repercussão transfóbica do evento.

"Soube dos ataques por um grupo de whatsapp que participo de mães e adolescentes trans. Fiquei assustada porque não esperava essa repercussão toda, até porque aqui em Teresina eu já falo sobre o assunto desde 2015 e isso nunca tinha ocorrido", explica a produtora de moda que acredita que a repercussão massiva se deu pelo fato de o evento ocorrer em um shopping.

Até a publicação desta matéria, o post havia sido curtido por quase 1300 pessoas e comentado por quase 690. O post anterior tem 62 curtidas e dois comentários.


Com os ataques, Amanda afirma que se sente receosa de participar do evento, mas que isso não a impedirá de continuar com seu trabalho de desconstrução sobre os estigmas relacionados às pessoas trans e travestis. 

"Eu estaria mentindo se eu dissesse que não eu não estou receosa, mas também estou ainda com mais vontade de fazer essa fala. A gente precisa ocupar esses lugares e as pessoas precisam se informar", diz a palestrante, que defende a educação e a informação como motores para mudanças significativas no mundo.

" O Brasil tá passando por todas essas questões , é um período bastante violento e eu acho superimportante abordar estes temas. Estou com medo, mas vou assim mesmo. O shopping se comprometeu em nos dar uma superestrutura e confirmou a realização do evento. Isso me dá mais tranquilidade", afirma Amanda.

O curador do evento e ativista trans Grax Medina diz que ficou horrorizado com os comentários violentos e agressivos. Sua primeira atitude foi a de entrar em contato com o shopping para entender como o evento poderia prosseguir garantindo a segurança dos palestrantes e dos visitantes.

"Infelizmente esta é uma realidade que nós pessoas trans vivemos todos os dias. Somos vítimas desses tipos de agressões verbais e às vezes, inclusive, físicas que culminam na morte, principalmente das mulheres trans pretas e de periferia", denuncia o curador.

Segundo o relatório "Mortes Violentas de LGBT+ no Brasil" , do Grupo Gay da Bahia , 300 pessoas LGBT+ sofreram morte violenta no Brasil em 2021. O número representa 8% a mais do que no ano anterior. Os números mostram ainda que houveram 276 homicídios (92%) e 24 suicídios (8%). O Brasil continua sendo o país do mundo onde mais LGBTs são assassinados: uma morte a cada 29 horas.


"É muito triste, lamentável que isso ainda hoje continue acontecendo. Nossa luta como pessoas trans é diária e de resistência. O simples fato de estarmos vivos já é uma resistência", continua Grax.

O curador conta ainda que, por conta da repercussão, além de reforçar a segurança, o shopping irá ampliar a espaço do evento diante das pessoas interessadas em apoiar a iniciativa - uma vez que o post também recebeu muitos comentários de apoio. Ele informa também que medidas judiciais serão tomadas contra os agressores: "As pessoas pensam que a internet é uma terra sem lei, mas não é".

"Reitero o quanto é importante que essas ações culturais e rodas de conversas aconteçam, e que todas essas movimentações de pessoas trans aconteçam, especialmente, durante o mês da Visibilidade Trans, mas também durante o ano todo. Eu como adulto trans fui uma criança trans e não tive suporte, nem minha família. Não tivemos acesso à informação", afirma o curador, que declara: "Não vamos desistir e não vamos voltar para esse armário do qual saímos".


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