Relembre alguns casos emblemáticos relacionados à censura de personagens LGBT em obras da Disney
Divulgação/Disney+ - 30.09.2022
Relembre alguns casos emblemáticos relacionados à censura de personagens LGBT em obras da Disney

A falta de  presença da comunidade LGBTQIAP+ em obras audiovisuais é um ponto que periodicamente levanta questionamentos e pauta debates sobre a importância de exaltar essas vivências sempre que possível, seja em  filmes, séries, desenhos ou animações. Quando a comunidade queer tem a oportunidade de ser retratada e criar identificação com essa parcela da população é sempre uma luz de esperança, mas em alguns casos a censura infelizmente exclui essas possibilidades. 

Não é de hoje que a indústria coloca  produções LGBT ou que abordam esta pauta de lado  e, para analisar de que forma isso é feito e quais foram os exemplos mais recentes, o iG Queer separou alguns casos que geraram polêmica e que valem a reflexão. Identificar essa problemática é um ponto de partida importante a fim de lutar e se posicionar para que não se torne um hábito – mais do que já é –, afinal o ramo audiovisual também depende muito do público. Está nas mãos dos consumidores fazer exigências e fiscalizar o que está sendo produzido e o que não está. 

Disney e as polêmicas

Falar sobre desenhos e filmes infantis é sinônimo de Disney,  querendo ou não. Em março deste ano, a revista ‘Variety’ publicou uma carta dos  “funcionários LGBTQIA+ da Pixar e seus aliados”, escrita em resposta ao pronunciamento do CEO da Disney, Bob Chapek, acerca do projeto de lei  “Don’t Say Gay” (“Não diga Gay”, em tradução livre) na Flórida (Estados Unidos). Em resumo, essa proposta proíbe os professores de escolas públicas do território falem sobre orientação sexual e identidade de gênero em sala de aula. 

Em uma declaração, Chapek escreveu: “E como essa luta é muito maior do que qualquer projeto de lei em qualquer estado, acredito que a melhor maneira da nossa empresa trazer mudanças duradouras é por meio do conteúdo inspirador que produzimos, da cultura acolhedora que criamos, e as diversas organizações comunitárias que apoiamos”. Porém, segundo os funcionários da Pixar, a Disney não está agindo como aliada em relação a conteúdos LGBT. 

A Disney também foi bastante criticada durante o desenvolvimento do projeto, principalmente por doar dinheiro aos apoiadores da iniciativa. Quando Chapek declarou que a Disney faria doações para organizações voltadas para os direitos LGBTQ+, como a Human Rights Campaign, a presidente interina da mesma, Joni Madison, respondeu com uma recusa à doação até que a Disney demonstrasse profundidade no compromisso com a igualdade.

Parte da declaração de Madison dizia: “[A Human Rights Campaign] não aceitará esse dinheiro da Disney até que os vejamos construindo seu compromisso público e trabalhando com defensores LGBTQ+ para garantir que propostas perigosas, como o projeto de lei 'Don't Say Gay or Trans' da Flórida, não se tornem leis. A Disney assumiu uma postura lamentável ao optar por ficar em silêncio em meio a ataques políticos contra famílias LGBTQ+ na Flórida – incluindo famílias que trabalham para a Disney”. 

Em resposta, os funcionários da Pixar escreveram: “Nós da Pixar testemunhamos pessoalmente belas histórias, cheias de personagens diversificados, sendo alteradas após as críticas corporativas da Disney e reduzidas a migalhas. Quase todos os momentos de afeto gay são cortados por ordem da Disney, independentemente de protestos tanto das equipes criativas quanto da liderança executiva da Pixar”. 

Após funcionários da Pixar acusarem a censura de personagens LGBT, o estúdio voltou atrás e incluiu um beijo entre duas mulheres no filme
Rperodução/Disney+ - 30.09.2022
Após funcionários da Pixar acusarem a censura de personagens LGBT, o estúdio voltou atrás e incluiu um beijo entre duas mulheres no filme "Lightyear", lançado este ano. A obra é baseada na história do emblemático personagem de "Toy Story", Buzz Lightyear

Oscar Isaac, por sua vez, disse em entrevista ao IGN que sugeriu que a relação entre o personagem dele em Star Wars, Poe Dameron, e o ex-stormtrooper Finn (John Boyega), se transformasse em um romance, mas os “responsáveis da Disney” não gostaram da ideia. “Acho que poderia ter sido uma história de amor muito interessante e com visão de futuro – aliás, nem mesmo como visão de futuro, e sim como pensamento atual, algo que ainda não havia sido explorado, particularmente na dinâmica entre esses dois homens que poderiam ter se apaixonado um pelo outro durante uma guerra”, explicou. 

Poe Dameron (à esquerda) e Finn (à direita), em
Reprodução/Disney+ - 30.09.2022
Poe Dameron (à esquerda) e Finn (à direita), em "Star Wars"

O ator continuou: “Eu até tentei pressionar um pouco nessa direção, mas os lordes da Disney não estavam preparados para isso”. Ele não foi o único a se queixar sobre algo do tipo: em uma entrevista de 2017 com Mary Sue, o criador de Gravity Falls, Alex Hirsch, falou da briga que teve com a Disney para incluir mulheres mais velhas e se beijando no episódio “O Deus do Amor”. Após incluir as personagens na cena, Hirsch disse que o momento “doce e casual” se transformaria “em uma grande briga com a Disney”. Ao deixar a cena no episódio, a Disney retornou  com uma nota: “A cena das duas velhinhas se beijando no restaurante não é apropriada para o nosso público. Por favor, revise”. 

Gravity Falls
Divulgação/Disney - 30.09.2022

Gravity Falls

Quando Alex Hirsch questionou o motivo pelo qual a cena é inapropriada, ele conta que os responsáveis não souberam exatamente o que dizer. “Eles estavam com medo de soar intolerantes - mas não acho que eles eram intolerantes, acho que eram covardes”, explica o criador da série. Ele acrescenta ainda que apesar da influência que possui, a Disney teme a resistência de espectadores homofóbicos. 

Hirsch desejava manter as senhoras se beijando porque “pequenas coisas como essa podem significar muito para as pessoas” e “qualquer um que ficasse chateado com a cena merecia ficar chateado”. Após seis reuniões, ficou claro que os responsáveis não iriam ceder, então a cena foi cortada. Contudo, quando o criador decidiu que dois personagens do mesmo gênero iriam declarar o amor um pelo outro no final da série, ele não recebeu nenhuma nota. “Acho que os censuradores finalmente tiveram menos medo das reclamações dos pais do que de ter que lidar com o quão irritante eu sou”, brincou.

No final das séries o Sheriff Blubs e o vice Durland declaram o amor um pelo outro. Ao se abraçarem, eles dizem:
Reprodução/Disney Channel - 30.09.2022
No final das séries o Sheriff Blubs e o vice Durland declaram o amor um pelo outro. Ao se abraçarem, eles dizem: "Estamos loucos pelo poder... e pelo amor"

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