Família Pessoa Tardivo e Transgestante
Reprodução/Instagram
Família Pessoa Tardivo e Transgestante


Dia dos Pais  é uma data de celebração para muitas pessoas, entretanto é preciso falar sobre as mais de 5 milhões de pessoas sem o nome do genitor no registro de nascimento, fora as pessoas que sofrem com o abandono paterno. Infelizmente, a realidade de muitas pessoas da comunidade LGBTQIAP+ é marcada pela não aceitação e exclusão familiar . Assim,  essas datas comemorativas precisam ser ressignificadas à medida que os anos passam , tanto para evitar o próprio sofrimento quanto para se permitir viver os próprios sonhos.

Desconstruir e construir  novos conceitos pessoais e sociais de paternidade é um desafio e quebra de padrões.  O iG Queer conversa com duas famílias que têm histórias diferentes e encontraram formas de mostrar sua realidade e inspirar as pessoas pelas mídias sociais. Ambas relatam que, apesar de algumas toparem com discurso de ódio, ao final do dia o saldo de amor é maior. Conversamos com o  Cleyton Bitencourt, conhecido como transgestante no Tiktok, e com Paulo Tardivo e Tiago Pessoa, do  @familiapessoatardivo , sobre a data e a campanha que decidiram abraçar.

Transgestante

Cleyton Bitencourt, de 26 anos, é pai de Álex, de apenas quatro meses, fruto do seu relacionamento com Fabiana Santos, de 28 anos. Ele é um homem trans e sua mulher também. Com a pandemia, o auxiliar administrativo decidiu partilhar com as pessoas a realização de um sonho pessoal: ser pai.

"Eu tive de lidar com a regressão da minha hormonização, com os hormônios da gestação, as mudanças do meu corpo que eu sempre quis. No início foi bem complicado, eu procurei até um psicólogo para poder manter o foco, mas com o tempo eu fui resignificando algumas coisas aqui", conta.

Dividir este processo na internet não foi viver somente em uma bolha de amor, mas foi a forma que Cleyton encontrou de partilhar e trocar informações sobre sua gestação, paternidade e desafios em criar uma criança.

"As pessoas trans são muito sexualizadas, tanto que existem muitas pessoas buscando pornografia com mulheres e homens trans na internet. A maior dúvida que a galera tem e eu não respondo de jeito nenhum é como que eu e minha esposa fazemos na cama. O que ela faz comigo? O que eu faço com ela?", questiona indignado.

Ele aproveita para lembrar que, mesmo tendo gestado Álex, não se sente mãe da criança - e que isso gera comentários preconceituosos. Questionado se ser um homem trans traz algum diferencial como pai, Cleyton fala que sente ter um cuidado mais intenso do que outros pais. Como mensagem, ele fala que não quer causar confusão na cabeça da própria filha nem de ninguém, apenas levar uma mensagem de amor e empatia que reverbere para o futuro.

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Família Pessoa Tardivo

Paulo e Tiago estão juntos há dez anos e são pais de Sara (7) e Davi (2) desde 2019.  Os filhos vieram via adoção em 2019 - e nós já contamos a história deles aqui. Eles comentam que, graças à internet, o casal alcança pessoas de todo o mundo, especialmente quem deseja adotar ou já está na fila de adoção e outros pais - da comunidade LGBTQIAP+ ou não.

"A nossa situação, o foco vai na contramão da paternidade convencional porque a gente lutou muito para ter nossos filhos. Eles não apareceram de repente na nossa casa, foi uma luta muito grande. Houve muito planejamento. A gente vê esses números altíssimos de abandono em algumas camadas dentro da sociedade que é muito delicado junto com o machismo e o patriarcado", conta Tiago.

"A nossa sociedade tem essa cultura com essas mães ou esses pais que entregam o seu filho para adoção do tipo: 'Meu Deus do céu, isso é coisa de outro mundo, você vai direto para o inferno'. Na verdade, esse é um ato de amor para o seu filho, o qual você não pode cuidar e está entregando ele para uma adoção em que outras pessoas vão cuidar. A gente não pode condenar essa mãe que entregou o filho porque, às vezes, ela não tem condições de criar e ela também é tão vítima quanto a criança que está sendo entregue. Todos os dias, antes de dormir, eu faço uma oração para essas pessoas porque foram elas que permitiram que eu fosse pai, foi por meio delas que eu conheci os meus filhos. Então, eu só tenho que transmitir amor para elas", complementa Paulo.

Os dois também falam que ser pai é presença, estar junto com os filhos independente de qualquer situação. Eles também buscam passar uma mensagem de acolhimento não só para os filhos, mas para quem busca o seu conteúdo, pois é isso que vai levar amor para o futuro.

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