As confraternizações de fim de ano trazem consigo a busca pelos looks perfeitos, seja para comemorar em família, com os amigos ou com o namorado ou namorada. Em vista disso, vale pensar em qual vai ser a proposta deste ano para saber no que apostar e como se jogar em diferentes modelos e cores.
“O ano todo foi bem colorido, e no Natal e Ano Novo não será diferente”, pontua a designer de moda Karine Rodrigues. “Os tons variam dos mais intensos para os mais claros, mas o destaque mesmo são os metalizados coloridos ou clássicos – prata e dourado. Eles trazem toda a elegância com um toque moderno e cheio de estilo”, indica ela.
Pensando nas peças, é possível encaixar looks agênero nas festas de fim de ano, principalmente porque o conceito de ir além das normas de gênero ultrapassa o simples conceito das peças e se configura na proposta como um todo. Karine Rodrigues destaca alguns elementos pelos quais é legal começar.
“As modelagens mais amplas têm seu destaque, além das peças agênero estarem cada vez mais presentes na moda. Camisas, alfaiataria e elementos em linho ou mais despojadas como camisetas e jeans são boas de apostar, seguindo o princípio hi-low (peças mais despojadas combinadas com outras mais refinadas)”, aconselha a especialista.
Marcos Copitelys é formado em design de moda e, como homem gay, preto, afeminado e adepto do estilo afropaty, conta ao iG Queer que a liberdade da moda agênero e do rompimento dos padrões é uma tendência forte para o final de 2022. De acordo com ele, o fato desse ser o primeiro Natal e Réveillon menos restritivos desde o começo da pandemia alimenta ainda mais a gana por buscar novos estilos e propostas.
“Estamos vindo de anos em que consumimos muitos produtos de plataformas on-line”, explica. “Roupas, sapatos, acessórios… acredito que os guarda-roupas encheram durante a pandemia, até mesmo de forma compulsiva. Estamos recheados de novidades, como a era das calças pantalona e das jaquetas mais largas, além de roupas mais aconchegantes pelo tempo em que passamos em casa por conta do isolamento”.
Ele ressalta ainda que todas essas “sobras” da pandemia podem continuar vigorando e serem aproveitadas. “Como estamos em um tempo meio frio e chuvoso ultimamente, podemos pegar essas roupas acolhedoras e montar vários looks confortáveis, e até aproveitar a tendência de usar pijama e customizar um”.
Em termos de moda agênero, Marcos Copitelys reconhece que as novas gerações já estão vindo com conceitos mais flexíveis com relação às roupas, e que o movimento para desmistificar o binarismo (homem x mulher) na moda segue a todo vapor.
“Estamos entendendo que roupa não tem gênero, e sim um nicho. Você gostou? Se sentiu leve, alegre e feliz? Use. Acho que essa dinâmica que a sociedade coloca entre masculino e feminino precisa ser revista. Hoje podemos usar o que quisermos. Vemos muitos garotos usando croppeds e bodys, e as meninas se desprenderam da ideia de que era algo marginalizado as mulheres andarem de boné ou calças largas. Era comum em datas comemorativas as meninas usarem roupas formais, saltos, vestidos. Atualmente, elas podem muito bem recorrer a um tênis e uma camisa esportiva”, diz.
Marcos usa o próprio exemplo para ressaltar que, ainda que esse movimento ganhe cada vez mais força, nem todas as pessoas o encaram com bons olhos, o que não deve ser um fator impeditivo, por sua vez. “O que importa é se empoderar. Quando eu coloco um vestido, recebo olhares por ser um garoto gay, negro, periférico e afropaty. Alguns são reprovadores, outros são cheios de alegria e admiração”, exemplifica.
Ao ser questionado sobre de que forma pessoas que nunca tiveram contato com a moda agênero podem começar a investir em novas possibilidade, Copitelys ressalta que tudo varia de momento. Para ele, essa migração é natural e deve ser feita de acordo com o que atrai a pessoa de tempos em tempos, justamente para reforçar a ideia de liberdade que a moda agênero carrega com tanto afinco.
“Você entra em uma loja, um bazar, um brechó ou uma loja on-line e consegue ter visão de vários nichos. Tem uma peça ou outra que vai chamar atenção, mas o que sempre ressalto é a influência: quem você segue nas redes sociais. Acredito que o Instagram, YouTube, Pinterest e outras plataformas entregam muitas referências boas, até com looks prontos, com passo a passo. Hoje encontramos tudo com facilidade, então depende muito das referências que você tem”, explica.
Para Marcos Copitelys, os materiais e conceitos que guiam as pessoas, que as motivam e que transmitem uma mensagem capaz de influenciá-las são extremamente responsáveis pela noção de liberdade na moda, e nesse final de ano vale tentar inovar neste sentido. “Como pessoa negra, as influências da cultura preta para mim pesam demais”, diz ele. “Eu tinha muita vergonha de usar roupas ‘masculinas’ e no outro dia querer usar peças ‘femininas’. Comecei a ouvir muito a Beyoncé, e vindo de uma família evangélica isso já foi um impacto para mim. Depois, passei a acompanhar Lil Nas X, e foi outra influência forte”.
Sobre as cores, Copitelys aposta muito no verde, vermelho e amarelo, mas ressalta que surpresas podem sempre aparecer. “Se procurarmos bem, hoje em dia achamos pessoas passando o Réveillon de preto, e antigamente isso era totalmente contra um costume dominante. E, claro, tem o branco, que é belíssimo, mas estamos com mais liberdade de explorar cores diferentes, porque os padrões são cada vez mais questionados”.
Uma característica positiva na visão dele para quem quer começar a aderir às composições agênero é o fato de que as roupas estão sendo fabricadas com um propósito “coringa”, ou seja: desenvolvidas para ornarem com uma gama de acessórios e combinações. Além de permitir que uma peça esteja presente em vários looks, essa tendência possibilita que as roupas sejam ressignificadas com mais facilidade, pois estão livres dos marcadores de gênero.
“Posso usar uma calça de alfaiataria cinza, um cropped amarelo, um All Star preto e já entregarei um conceito”, diz Marcos. “As peças conseguem se encaixar em vários conceitos”. Contudo, ele alerta que muito do que se vê hoje quanto ao avanço da moda agênero se baseia em movimentos e tendências que já eram cultivados pela comunidade LGBTQIAP+ há décadas, portanto é importante conferir à essa parcela da população o reconhecimento por essas transformações.
“Temos que exaltar as travestis, as mulheres trans e os garotos afeminados, que são a comissão de frente de todas essas composições que desafiam as normas de gênero e que hoje são aderidas pelos hétero-cis famosos. Fomos nós que tivemos o primeiro impacto, principalmente dentro da comunidade preta nos anos 1990”.
Karine Rodrigues conclui ao pontuar que a indústria está apostando na moda agênero, e que para esse fim de ano vale pensar fora da caixinha para cessar uma gama de possibilidades que podem ou não estar vinculadas às cores e conceitos tradicionais do Natal e Réveillon.
“As peças agênero são a grande aposta do futuro da indústria da moda. Muitas marcas estão investindo nisso, o que a torna mais acessível ao mercado, mas a grande dificuldade persiste nos tamanhos que nem sempre são plurais. [Nesse fim de ano] é interessante fazer um mix de peças, inserir depois no dia a dia e ter roupas coringa como alfaiataria, jeans e camisetas para aderir a essa tendência de vez”.
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