A professora Sophia Domingos se assumiu trans após sua exoneração
Reprodução/Instagram
A professora Sophia Domingos se assumiu trans após sua exoneração

A professora Sophia Domingos Pereira, de 40 anos, afirma ter sido exonerada da Escola Municipal Maria Theresa Nascimento Garcia, em Mambucaba, bairro de Angra dos Reis, no estado do  Rio de Janeiro , por motivo de transfobia. A exoneração partiu do secretário de Educação de Angra dos Reis , Paulo Fortunato. A professora era concursada há 15 anos e atuava como diretora na unidade escolar.

Em entrevista ao iG Queer  a docente relata que um funcionário da escola invadiu seu computador pessoal, durante o horário de trabalho, e teve acesso a fotos privadas em que Sophia aparece trajada com vestimentas femininas. O caso ocorreu em agosto do ano passado e na época a transição de gênero da professora ainda não era pública.

As fotos foram encaminhadas para a vereadora Titi Brasil (MDB-RJ), que faz parte da Comissão Parlamentar de Educação de Angra, que teria afirmado ter recebido as imagens de pais de alunos, que alegavam ser inaceitável manter uma pessoa transexual na direção da escola. A vereadora recomendou a exoneração de Sophia, que foi avisada de sua demissão em uma reunião em que as fotos foram impressas e mostradas a ela, denuncia a professora.

A deputada estadual Dani Balbi (PCdoB-RJ) entrou, na última segunda-feira (19), com uma ação no Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro denunciando o caso.


Durante a reunião em que houve a exoneração, segundo ofício protocolado por Dani Balbi, o secretário de Educação declarou que manter Sophia no cargo prejudicaria a imagem da prefeitura, do prefeito Fernando Jordão (MDB-RJ) e do secretário de Governo Cláudio Ferreti.

Além disso, o próprio secretário teria perguntado a docente se ela teria votado em Lula (PT) para presidente do Brasil, afirmando que "o Parque Mambucaba não era de eleitor da esquerda". Fernando Jordão e a vereadora Titi Brasil são aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

No ofício, a deputada cita a Ação Direta de Inconstitucionalidade por Omissão (ADO) 26, aceita pelo STF também no ano passado, em que os casos de transfobia foram igualados ao crime de racismo, definido pela lei nº7.716, de 1989.

Há também no documento menções à Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 4275, de 2018, que reconhece que o direito à igualdade sem discriminação abrange a identidade ou expressão de gênero.

Após caso, professora revelou sua identidade trans

Após a demissão, Sophia decidiu revelar publicamente ser uma mulher transgênero. “Então foi a partir dessa dor, dessa demissão injusta, dessa transfobia que eu sofri, foi quando eu tive forças para poder dizer não. Eu não aceito, mas também vou me revelar a pessoa que eu sou e não vou me esconder mais”, afirma ela em entrevista ao iG Queer.

Ela diz também que recebeu auxílio jurídico do Centro de Cidadania LGBTI do estado, e que passou a ser acompanhada por um psicólogo e um psiquiatra da cidade.

“Comecei a ter uma assessoria jurídica sobre o que tinha acontecido se tratar de fato de uma transfobia, e aí eu comecei a correr, a me movimentar, a não me calar. Procurar ecoar minha voz, ainda que fosse tão pequena, para que o que aconteceu comigo não passasse despercebido”, revela.

Para Sophia, toda a repercussão foi uma surpresa. “A transfobia precisa ser combatida, em nome de tantas outras trans. Diante de uma situação de tanta injustiça, eu não podia me calar”, finaliza.

O iG Queer tentou contato com a prefeitura de Angra dos Reis e com a Escola Municipal Maria Theresa Nascimento Garcia, mas até o fechamento desta reportagem não houveram retornos. O Ministério Público ainda está analisando a denúncia.

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