É com humor e bastante energia que Nany People, 58, já começa respondendo a primeira pergunta desta entrevista: "Como você não cansa de manter um ritmo constante de trabalho?"
“Eu faço o que eu amo, por isso toda a oportunidade de fazer o que amo aparece, eu aceito. Desde muito novinha eu fui assim, saí de Minas Gerais , vim pra São Paulo e desde os meus 20 anos não parei, seja em espetáculos nas boates [LGBT+] da época, na televisão ou no teatro.”
Uma das maiores referências do humor brasileiro, Nany People é mineira de Machado, mas cresceu em Poços de Caldas de onde mudou-se cedo para São Paulo com o objetivo de estudar Artes Cênicas e conquistar seu espaço.
Cursou interpretação na Unicamp e estudou Teatro no Teatro Escola Macunaíma. Como artista multifacetada, quebrou barreiras e foi uma das pioneiras da televisão brasileira. Integrou o elenco de diversos programas como "Goulart de Andrade", "Programa Hebe", "Xuxa Meneghel", "Flash", "A Praça é Nossa", "Cante Se Puder", entre outros.
Atualmente, participa do Caldeirola no “Caldeirão com Mion” (TV Globo) e do humorístico “Vai que Cola” (Multishow), além da novela “Fuzuê” (TV Globo), vivendo a Mariângela. Está em turnê com os espetáculos “TsuNANY”, “Nany é Pop!” e “Sob Medida — Nany Canta Fafá”.
Parece uma lista intensa, mas a artista ainda tem outro evento importante no seu portfólio atual. No dia 26 de janeiro, às 21h, Nany se apresentará no Qualistage, na Barra da Tijuca (RJ), com o “Então… Deu No que Deu”, um espetáculo que reúne trechos de seus três solos de stand-up atualmente em cartaz em todo o país. Uma oportunidade única de se divertir com a humorista mineira que conquistou o país, e que atualmente, além de todos os projetos citados, também está no ar no "MesaCast BBB" do reality show "Big Brother Brasil" (TV Globo).
Com quase 50 anos de carreira, ela começou no teatro aos 10 anos, e foi aos 26 que decidiu iniciar sua transição de gênero para se afirmar como uma mulher trans. “Pude colocar na drag toda a minha feminilidade, pois nunca me entendi como homem gay. Quando eu ia me apresentar, eu já chegava pronta, enquanto as outras drags se montavam no camarim”, conta ela ao iG Queer .
Nany se consolidou como uma das drag queens mais bem pagas do Brasil durante os anos 90. Porém, quando decidiu externalizar a identidade trans, percebeu que a comunidade LGBTQIAP+ não a abraçou como esperava. “Por incrível que pareça, foi o público hétero que mais me aceitou.”
O humor na sua vida
Para ela, o humor é também uma ferramenta importante para desarmar as pessoas, e por isso consegue falar sobre assuntos sensíveis com leveza.
“O humor te escolhe, e ele me escolheu”, afirma ela. “Sei que não agrado todas as pessoas da comunidade LGBTQIAP+ da nova geração, mas elas precisam entender que eu já passei por tudo, vivi na época da chamada ‘peste gay’, e perdi muitos amigos. Naquela época, era quase impossível uma pessoa gay alugar um apartamento para morar. Eu tive que pedir para o meu irmão alugar para mim, porque só de me olharem, eu já tinha a porta fechada na minha cara.”
Maturidade e a nova geração LGBTQIAPN+
Embora reconheça o passado violento, Nany, também celebra a maturidade da carreira. “Muitas pessoas me perguntam se eu não vou fazer procedimentos estéticos no meu rosto porque já estou envelhecendo, mas eu não me incomodo”, diz celebrando também a nova geração de artistas LGBTQIA+.
“ Pabllo Vittar , Gloria Groove são ícones, e elas representam uma mudança enorme, porque antes ser drag era muito manual, alternativo. Hoje, elas estão no cenário pop, que é sobre produzir em massa.”
Nos anos 90, Nany se juntava às personalidades como Rogéria, Roberta Close, Jorge Laffond e Clodovil, destaques à época da comunidade LGBTQIAP+ e que sempre traziam debates relacionados ao grupo na mídia brasileira. Hoje, do conjunto, apenas ela e Roberta ainda estão vivas. “Para gente sobreviver, é preciso também não dar palco para maluco.”
Com um olhar maduro e bastante diverso da sociedade brasileira, Nany também reflete acerca da juventude atual.
“Os jovens estão se cobrando muito, eles não aceitam o fracasso. Na minha época, a gente não pensava muito sobre fracassar ou não fracassar, mas o que a gente precisava era apenas trabalhar. Hoje, eles pensam muito antes de agir. Se eu fosse jovem hoje, não teria esse pensamento de que preciso vencer sempre.”
Ela também destaca que as boates LGBTQIAP+ estão escassas no cenário atual, em sua opinião. “O que a gente tem são festas, mas não temos espaços. Antigamente, tínhamos quarteirões inteiros de boates gays”, diz. As boates possibilitavam que muitas drags e travestis trabalhassem na arte, não precisando recorrer à prostituição , relata a artista.
“Eu sei que fui feliz e realizada. Passei por tantos lugares, viajei, vivi tudo, e da arte, o que sempre quis”, finaliza Nany.
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