![Johnny Hooker falou com exclusividade ao iG Queer sobre ter sido cortado de festival em Roraima Johnny Hooker falou com exclusividade ao iG Queer sobre ter sido cortado de festival em Roraima](https://i0.statig.com.br/bancodeimagens/av/gw/lu/avgwluofvjx8t8p2nggi606fc.jpg)
Após receber a notícia de que fora excluído da programação do Mormaço Cultural 2023,
evento que está na 2ª edição e que ocorre em Boa Vista, capital de Roraima
, Johnny Hooker diz que ficou "devastado", ao mesmo tempo que precisou lidar com a perseguição de um público conservador.
Ao iG Queer , ele afirma que a extrema direita e os religiosos fundamentalistas sempre desenterram um vídeo, como uma forma de manipular as pessoas, em que o artista afirma que Jesus era uma pessoa queer .
Desde então, como consequência, ele é boicotado e tem sua manifestação artística censurada. "Eles querem ser donos de Deus, uma pessoa que foi das ruas", critica o cantor, que seria o único artista abertamente LGBT+ e de esquerda no evento, que ocorre entre os dias 26 de setembro a 1ª de outubro.
“É uma perseguição contra a população LGBT+. Eu, inclusive, era o único LGBT+ que faria parte da programação. E eles encontraram uma maneira de eu ser afastado.”
Por meio de suas redes sociais, o prefeito de Boa Vista, Arthur Henrique (MDB), publicou um vídeo para anunciar o cancelamento do show de Johnny. Entre os argumentos, o parlamentar usou termos como "respeito" e "segurança". Em nenhum momento do pronunciamento, o prefeito cita o nome do artista.
"Jesus é travesti"
Johnny afirma que o vídeo que causou a decisão do prefeito de Boa Vista em cancelar o show, que fora decidido pelo público previamente, foi postado no perfil do Instagram do deputado federal Antonio Carlos Nicoletti (União-RR), que resgatou a fala de 2018 do cantor e a tirou de contexto, segundo o artista.
Com a propagação do vídeo, Nicoletti incitou os conservadores que seguem ele a irem à página do prefeito de Boa Vista exigir que o artista fosse retirado do evento.
“Na postagem do deputado, ele afirma ainda que nos meus shows sempre há insultos e provocações contra a religião. Isso é mentira. Eles pegam aquele caso isolado, em que protestei a favor da minha amiga e atriz trans Renata Carvalho, e tentam difundir isso como algo frequente nos meus shows, mas, desde lá, eu nunca mais falei de religião nas minhas apresentações”, enfatizou o cantor.
![atriz em peça](https://i0.statig.com.br/bancodeimagens/9e/u0/fo/9eu0fojsfvq4psrtd4rocvoi9.jpg)
Renata Carvalho na peça 'O Evangelho Segundo Jesus, Rainha do Céu'
Johnny enxerga na atitude do deputado federal, ao divulgar o vídeo, uma forma de atrair mais ódio à comunidade queer e construir uma base de eleitores para o próprio parlamentar.
“Se a extrema direita parar de distorcer as pautas LGBTQIAP+ , feministas e raciais, eles [os deputados do espectro político] não terão mais o que fazer para se manter por ser só o que têm a oferecer".
O vídeo usado para censurar Johnny foi gravado em julho de 2018, no Festival de Inverno de Garanhuns.
À época, o artista protestou contra a tentativa da prefeitura da cidade pernambucana de proibir a exibição da peça “O Evangelho Segundo Jesus, Rainha do Céu”, estrelada pela atriz trans Renata Carvalho, que interpretou Jesus Cristo como uma mulher transgênero. Em sua manifestação, Johnny declarou: "Jesus é travesti sim, Jesus é transexual sim, Jesus é bicha, p*rra."
O artista afirma que o prefeito de Boa Vista agiu sem analisar o caso de maneira crítica, cedendo apenas à pressão dos fundamentalistas e conservadores.
“Ele não considerou a vontade da própria população LGBT+ de Roraima que votou para eu estar lá. As pessoas que pediram para eu ir, são as pessoas que frequentam o festival. Já as que começaram a pedir para eu ser retirado, são apenas religiosos conservadores que não sabem lidar com as diferenças”. Johnny faria apresentação em Boa Vista no sábado (30), com show em homenagem a Marília Mendonça.
Cantor chegou a ser denunciado, mas foi inocentado
O cantor também defende que as pessoas que pediram pela retirada dele do festival “apenas viram uma oportunidade de despejar o fanatismo religioso sobre uma situação que, inclusive, já foi anulada pela Justiça”.
O caso em que ele afirma ter sido inocentado foi quando, em 2018, o advogado Jethro Silva Júnior entrou com uma notícia-crime, no Recife (PE), pedindo a prisão preventiva do artista, contudo, Johnny conseguiu provar sua inocência.
“O Estado é laico, e isso todos já sabem. Se uma pessoa na política ceder apenas às pressões religiosas, e não buscar ouvir outros grupos, sem saber lidar com as diferenças, ela não deveria estar ocupando esse cargo.”
Johnny afirma que está recebendo o apoio da equipe jurídica da deputada federal Sâmia Bomfim (PSOL-SP) e que tomará algumas medidas judiciais contra o prefeito de Boa Vista e o deputado Nicoletti, entre elas, acionar o Ministério Público de Roraima para que o prefeito seja responsabilizado pelo crime de homotransfobia e pelo ato de censura artística aplicado.
“Estamos no processo de protocolar uma notícia-crime contra a prefeitura, o prefeito e contra o deputado Nicoletti, pelos crimes de calúnia, censura, difamação, ataques de ódio e LGBTfobia ”.
Na trajetória enquanto artista, este não foi o primeiro boicote que Johnny sofreu. Em 2018, ele criticou também o cancelamento do seu show na 17ª Parada da Diversidade de Teresina (PI). O cantor, que seria atração principal do evento, foi substituído por Pabllo Vittar após ter sofrido ameaças por conta da mesma fala que o fez ser retirado do festival em Boa Vista.
Procurada pelo iG Queer para novas explicações , a prefeitura de Boa Vista não se manifestou até a publicação do texto. O espaço segue aberto.
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