O médico Fred Nicácio, ex-participante do BBB 23, falou sobre como foi a jornada de descoberta sobre sua homossexualidade, ainda quando adolescente. Ele revelou que na época vivia em um ambiente conservador evangélico e que chegou a buscar "cura gay" por não aceitar sua sexualidade.
"Fui criado em Igreja Evangélica Batista, mas no fim da adolescência eu me entendi como um homem gay. A narrativa é de que a homossexualidade é pecado. Tentei buscar curas, até entender que eu era amado por Deus do jeito que sou. Foi dolorosa a ruptura", afirmou Nicácio em entrevista Canal Extra.
Foi nesse momento que o ex-brother encontrou a religiosidade de matriz africana e se aproximou do Culto de Ifá.
"Ao perceber que não tinha nada de errado comigo, comecei a abrir minha mente para outras coisas. Em 2021, uma amiga me convidou para conhecer o Culto de Ifá. Na primeira reunião, teve uma espécie de 'batismo' de um bebê, uma consagração para os orixás cuidarem dos caminhos dele, mas o que chamou minha atenção foi que os pais eram homens gays. Aquilo encheu meu coração, me senti acolhido", disse Fred na entrevista.
O médico ainda aproveitou para comentar sobre o episódio de intolerância religiosa que sofreu dentro do reality show da TV Globo.
"Foi desconfortável, até porque o que eles [os participantes do BBB 23 Cristian e Gustavo] fizeram se chama racismo religioso . É crime. E achei importante frisar isso [durante a participação no 'Domingão do Huck'], porque entra no que disse sobre minha missão. Eu sofri o racismo de forma explícita. E, ao abordar isso num horário nobre, domingo à tarde, fiz desse episódio uma utilidade pública. Falas como a deles aniquilam muita gente", enfatizou Nicácio.
Contudo, Fred ainda não sabe se irá prestar queixa contra os ex-colegas de confinamento. "Ainda é cedo, tem muita coisa para digerir", disse ele.
"O mais importante, e é o que digo para outras pessoas pretas, é devolver o constrangimento para quem o criou. Quando falo no 'Domingão' com todas as letras que não era jogo, mas racismo, rolou ali um constrangimento pedagógico. Ninguém merece passar por isso, e não quero romantizar, mas que bom que ocorreu comigo, que estou preparado", afirmou.
Médico já foi ameaçado pelo pai
Ainda quando estava no reality, Fred revelou um episódio de LGBTfobia que sofreu do próprio pai , que o ameaçou de morte.
"Ele me ligava, dizia que ia quebrar todos os meus dentes. Mandava áudio, dizia que ele ia fazer uma merda comigo e que o demônio ia me encontrar. Coisas terríveis". A sister Domitila, que ouvia a conversa, se espantou com as revelações. "Meu Deus! Traumatizantes".
Nicácio prestou, então, uma queixa contra o pai porque "não iria virar estatística".
"[Eu] não seria mais um filho morto pelo pai porque é gay", disse o médico, que ainda afirmou que não fala com o pai há cerca de sete anos.
"Fui à delegacia com um amigo meu, fiz um Boletim de Ocorrência, e aí começou todo o processo. A última vez que eu vi meu pai tem anos, sei lá, tipo sete. Um juiz deixou claro que a Lei Maria da Penha iria me proteger. Ele não poderia se aproximar mais do que 200 metros de mim, não poderia me ligar ou mandar mensagem", afirmou o médico.
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