Marcela Porto, também conhecida como Mulher Abacaxi , desfilou com os seios à mostra no Carnaval da Marquês de Sapucaí na última sexta-feira (17) e disse que havia esquecido de levar a parte da fantasia para a avenida. Contudo, a caminhoneira trans de 48 anos, que entrou como rainha de bateria da Acadêmicos de Niterói, recebeu uma chuva de críticas pelas redes sociais e disse que está sofrendo preconceito.
"Etarismo e transfobia. Se fosse uma mulher cis e nova isso iria acontecer? Mulheres cis maravilhosas, como Luma de Oliveira, minha eterna musa inspiradora, Viviane Araújo, maravilhosa, e outras já saíram com os seios de fora. Por que eu não posso ter essa liberdade? Por que sou uma mulher trans e madura?", questionou.
Entre os comentários maldosos, muitas pessoas questionavam qual era a necessidade de deixar essa parte do corpo em evidência. "Depois cobram respeito dos homens", escreveu uma internauta. "Qual a necessidade disso? Chega ser caótico de se ver", opinou outra. "Que coisa sem cabimento", avaliou mais uma. "A gente não quer ver silicone, mais, sim, samba no pé", disse outra no vídeo postado por uma página de samba em conjunto com a própria caminhoneira.
Além disso, Marcela também comentou que as pessoas preconceituosas são uma minoria e diz que não irá se abalar com isso. "O povo me ama muito. Só tem uns recalcados transfóbicos que me criticam. Isso é pouco perto do carinho do povo e vida que segue", finalizou.
Em entrevista ao iG Queer no ano passado, a caminhoneira contou que os primeiros sentimentos surgiram ainda na infância quando se sentia inadequada ao que lhe era imposto. Ainda criança, ela já enfrentava questões com o espelho e se achava feia.
"Não gostava de roupas ‘masculinas’ ou de cortar o cabelo. Eu me perguntava por que não tinha seios e uma vagina. Era muito complicado, eu não conseguia me encontrar. Me sentia reprimida, pois não era feliz 100%. Mesmo tendo muitos homens na minha família, nunca gostei das mesmas conversas deles ou dos mesmos hábitos. Apesar disso, só realizei a transição na fase adulta.”
A caminhoneira declarou ainda que tinha medo de como seria recebida no ambiente profissional após se assumir, mas ressaltou que, contrariando as próprias expectativas, os colegas de trabalho mostraram-se receptivos e ela nunca sofreu nenhum ataque transfóbico direto.
“As pessoas já me conheciam desde antes da transição, então eu temia perder o respeito delas. Os caminhoneiros foram muitos respeitosos, e costumam me ajudar bastante. É como se tivessem conhecido outra pessoa e esqueceram quem eu era antes da transição. Não sabia que conseguiriam reconhecer a mulher que eu sou, mas conseguiram e me compreenderam”, declarou.
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