Todo ano, os fãs de realities shows ficam ansiosos pelos programas de mais destaque do país e, entre eles, está "A Fazenda", da Record TV. Em sua 14ª temporada, a edição que está a menos de duas semanas no ar já causou muita polêmica e atitudes preconceituosas e criminosas por parte dos participantes, como xenofobia, machismo e LGBTfobia.
Em uma discussão, os integrantes Tiago Ramos e Thomaz Costa utilizaram suposições de que ambos teriam se envolvido sexualmente com o ex-diretor da Band, Rodrigo Branco, como uma ofensa , o que configura uma atitude LGBTfóbica.
Em um momento da discussão, Ramos questionou: "Eu fui pra Disney, né?", e Costa ironizou em seguida: "Foi mesmo, com o Rodrigo Branco". Além de ex-diretor da Band, Branco também é conhecido por servir como guia turístico de famosos em visitas à Disney.
Na sequência, Ramos, que é modelo e ex-namorado da mãe do jogador Neymar, começou com as insinuações: "E você foi com quem? Você estava na casa de quem agora?". O ator e ex de Larissa Manoela respondeu: "Estava na dele [Rodrigo Branco], ele é meu amigo".
Em seguida, o ex-padrasto de Neymar retrucou fazendo um gesto obsceno se referindo a sexo: "Teu amigo? Eu sei o amigo". "Sabe, né? Por que você sabe?", rebateu Thomaz.
As ofensas homofóbicas persistiram durante a discussão. Em seguida, Ramos provocou o ator: "Quem ficou na casa dele lá três dias, sozinho?". Costa respondeu: "Eu fico vários dias lá, fico meses". "Você fica, né? Claro que você fica…", completou o modelo insinuando mais uma vez, de forma perjorativa, que existe uma relação sexual entre o ator e Branco.
Os outros peões que presenciaram a discussão endossaram as atitudes LGBTfóbicas ao reagirem de forma surpresa às insinuações. O iG Queer procurou as assessorias de Tiago Ramos e Thomaz Costa, mas até a publicação desta matéria não houve retorno.
Diante da repercussão Rodrigo Branco se manifestou: "O Thomaz ficou quase um mês hospedado na minha casa, assim como Deborah Secco, Simone, e diversos famosos já ficaram… É tudo fofoca, gente. Eu não teria o menor problema em falar que eu tive um relacionamento com o Thomaz, mas isso não é o caso. Eu conheci ele com 17 anos, na época que ele estava com a Larissa Manoela. Uma pessoa muito legal e estamos torcendo por ele", disse em um vídeo de resposta a uma caixinha de perguntas no Instagram.
Ativista aciona Polícia e Ministério Público contra Vini Büttel
Outro participante de "A Fazenda 14" que já se envolveu em muitas confusões e teve atitudes problemáticas é o modelo e influenciador digital Vini Büttel.
Além de ter produzido falas gordofóbicas e machistas , o carioca também já foi LGBTfóbico dentro do reality ao se referir ao participante Alex Gallete, um homem gay cis, de "gazela". O integrante também já declarou que queria "arrancar a cabeça" do integrante queer.
A coluna do Gabriel Perline, no Portal iG, revelou com exclusividade que o presidente da Aliança Nacional LGBTI+ e candidato a deputado estadual por São Paulo, Agripino Magalhães, acionou seu time de advogados para processar o influencer pelo crime de LGBTfobia.
O ativista também protocolou nesta quarta-feira (21) uma queixa-crime no Ministério Público com pedido de urgência para o início das investigações e intervenção policial na sede do programa, uma vez que Büttel ameaçou por diversas vezes Gallete, inclusive de agressão física.
"Acreditamos que o silêncio estimula a violência e que não há mais espaço social para a segregação de direitos legítimos. Convidamos a todos para, juntos e juntas, caminharmos nessa luta diária para que as pessoas vivam livres e iguais em dignidade e direitos", disse o ativista à coluna.
"Acabou o tempo que pessoas poderão ofender os LGBTI+ como querem, chamando isso de 'liberdade de expressão'. LGBTfobia é crime, e que homofóbicos paguem por isso. Violência não é liberdade de expressão", reforçou.
LGBTfobia é crime e deve ser denunciada
Segundo o Dossiê de Mortes e Violências contra LGBTI+ no Brasil, elaborado pelo Observatório de Mortes e Violências LGBTI+ no Brasil, durante o ano de 2021 ocorreram 316 mortes LGBT+ de forma violenta no país. Dessas mortes 285 foram assassinados (90,19%), 26 suicídios (8,23%) e 5 outras causas (1,58%).
Ainda segundo o relatório, as mortes LGBT+ no Brasil aumentaram 33,3% no último ano, em comparativo com 2020. Em 2021, o Brasil assassinou uma pessoa da comunidade queer a cada 27 horas.
Embora ainda não exista uma lei exclusiva, a LGBTfobia é considerada crime desde 2019, quando foi incluída no crime de racismo por decisão do Supremo Tribunal Federal (STF). Para denunciar um crime do tipo, é preciso ter provas de que houve as seguintes situações: agressões psicológica, moral, física e sexual; e negativa a direitos nas esferas públicas e institucional.
É importante que se tenha algum registro que comprove o crime, como áudio, vídeo ou mensagem de texto, contudo, a falta de provas tangíveis não impede a denúncia - caso existam outras formas de comprovação.
A denúncia pode ser feita em qualquer Delegacia de Polícia ou unidade especializada, além também dos telefones Disque Denúncia, Disque 100 e 190. Uma informação importante é que o crime pode ser denunciado tanto pela vítima quanto por uma testemunha.
A pena prevista para o crime de LGBTfobia é de um a três anos de reclusão, que pode se estender para cinco, caso ocorra a divulgação do ato LGBTfóbico de forma pública. O crime é inafiançável e imprescritível.
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