A atleta olímpica Dame Kelly Holmes
Reprodução/Instagram 19.06.2022
A atleta olímpica Dame Kelly Holmes

A ex-atleta olímpica Dame Kelly Holmes, de 52 anos, abriu o jogo publicamente e revelou que é lésbica em uma entrevista ao jornal britânico Sunday Mirror, publicado neste domingo (19). A lenda do atletismo disse que "finalmente se sente livre" depois de se assumir homossexual.

“Às vezes eu choro de alívio. No momento em que isso for publicado, estou essencialmente me livrando desse medo", disse. “Houve muitos momentos sombrios em que desejei poder gritar que sou gay, mas não consegui”.

Kelly lembrou que a primeira vez que percebeu que era lésbica foi com 17 anos, quando era soldado do exécito na Inglaterra. Naquela época, uma colega de pelotão deu um beijo nela na ala dos banheiros e ela se sentiu muito confortável com aquele sentimento.

“Percebi que devia ser gay naquela época porque me senti bem. Parecia mais natural, me senti confortável."

Um dos primeiros pensamentos de Kelly era sobre o que a família iria pensar, então escreveu uma carta ao padrasto, a quem considerava como pai, revelando tudo, mas ele recebeu a notícia de braços abertos. 

"Eu disse que conheci uma garota e não sabia o que fazer. Eu estava confusa e um pouco assustada com o que isso significava e nervosa para contar a ele. Mas ele aceitou imediatamente”, lembra.

Apesar de ter apoio da família, a ex-atleta teve medo de ser descoberta pelas Forças Armadas porque, na época, ser LGBTQIA+ era proibido, sendo passível de receber punições, inclusive a prisão. Os militares chegavam a fazer revistas periódicas para encontrarem as lésbicas secretas e expô-las.

“Eles tiravam tudo do nosso armário, reviraram as camas e gavetas, liam cartas – tudo – tentando nos pegar, para que pudéssemos ser presas, levadas à corte marcial e potencialmente ir para a cadeia. É humilhante, é degradante – parece desrespeitoso quando você está servindo seu país e está fazendo um bom trabalho. Você se sente violada, tratada como se fosse uma grande vilã. Aqueles momentos me marcaram porque eu não queria perder meu emprego e sentia que a lei estava errada."

Em 1997, Kelly contou seu segredo para toda a família e recebeu apoio de todos. No mesmo ano, ela resolveu deixar o exército para se dedicar ao atletismo. Durante a carreira, ela ouro nos 800 m e 1.500 m nas Olimpíadas de de Atenas, em 2004. Um ano antes das medalhas, aos 33 anos, ela foi atormentada por lesões e sua saúde mental despencou. 

“Quando eu me machucava ou ficava doente, eu chorava o tempo todo porque tudo o que eu precisava fazer era voltar a correr. Se eu não fizesse isso, meu cérebro estava enlouquecendo. Eu estava em um banheiro de acampamento e literalmente queria gritar tão alto que coloquei a torneira para entorpecer minhas lágrimas. Eu não queria mais estar aqui. Me cortei nos braços e nas pernas porque senti que não tinha controle sobre mim mesma", detalha. "No entanto, ao mesmo tempo, eu tinha essa força para ter sucesso, pensando que, se eu ganhasse o ouro, tudo ficaria bem”, comenta.

Kelly ganhou o título Dama em 2005 e se tornou Coronel Honorário do Regimento de Treinamento do Royal Armored Corps. Em 2020, um líder militar LGBTQ+ informou para ela que não sofreria sanções caso se assumisse lésbica e ela resolveu abrir o jogo publicamente agora.

“Senti que poderia respirar novamente. Uma pequena ligação poderia ter salvado 28 anos de mágoa”, contou.

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