Veja a importância de uma rede de apoio para mulheres trans
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Veja a importância de uma rede de apoio para mulheres trans


Celebrado dia 8 de março, o Dia Internacional da Mulher tem como objetivo comemorar as conquistas do movimento feminista ao longo dos últimos séculos, além de servir de alerta para a ainda constante necessidade de assistir às necessidades das mulheres e à marginalização que essa parcela da população ainda sofre. Dentro desse espectro, vale muito ressaltar a vivência de mulheres trans.

De acordo com a Antra (Associação Nacional de Travestis e Transexuais), em 2021 ocorreram pelo menos 140 assassinatos contra pessoas transgênero. Desse total, mulheres trans e travestis representam 135 casos. O dossiê aponta ainda que, de 2008 a 2021, a média de mortes de pessoas trans por ano é de pouco mais de 123, portanto o total do ano passado supera a média esperada. Em vista destes números, fica evidente a falta de amparo e o alto risco de vida que pessoas trans, em específico mulheres trans e travestis, sofrem. 

Além de reivindicar os direitos, ter a voz ouvida é essencial. Mais do que isso, contar com uma rede de apoio composta pelas semelhantes oferece aparato e conforto capazes de impulsionar a trajetória de mulheres trans. A assessora parlamentar Amanda Paschoal, por exemplo, conta que teve a possibilidade tanto de receber esse suporte quanto de oferecê-lo. Ela ressalta ainda o quanto essa troca é importante para a população trans que constantemente é alvo de invisibilização.

"Tive o apoio e a oportunidade de apoiar e trocar com outras mulheres trans e travestis presentes na minha trajetória. Foi e continua sendo de suma importância ter o suporte das nossas para que possamos crescer, aprender e resistir a uma sociedade que continua nos odiando”, diz.

Ainda de acordo com ela, essa união é sim muito presente dentro do movimento, embora também existam fatores que acabam enfraquecendo essa estrutura. “Assim como em outros grupos sociais, a união e a organização existem, bem como a rivalidade e outros fatores que enfraquecem o todo. Temos vários vínculos que nos unem, um deles seria a dororidade, como escreve a [ativista] Neon Cunha, a dor e as mazelas de estarmos vivendo em uma sociedade transfóbica, racista e cisheteronormativa, violências que muitas de nós vivemos”, explica. 

Para Amanda, a evolução na luta das mulheres trans é visível, e ela chama a atenção para o fato de que as demandas dessa população não ultrapassam as demais, pois esse é um tópico que normalmente gera divergências infundadas e coloca obstáculos na jornada social das mulheres como um todo.

“Avançamos consideravelmente em relação à representatividade em espaços, ações e datas como o Dia da Mulher. É importante entender que as pautas não se sobrepõem uma à outra, o que ocorre bastante e acaba gerando conflitos e desunião dentro do que deve ser uma luta de todas nós”, declara.

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Na luta para ocupar os próprios espaços, Marcia Dailyn, primeira bailarina trans do Theatro Municipal de São Paulo e atriz, conta que, apesar das possíveis diferenças de classe, todas as mulheres trans podem passar pelos mesmos desafios ou embates.

“A mais elitizada, com mais estudo, e a que não tem nenhum, passam por constrangimentos. Eu conheço muitas manas que apoiam a causa, principalmente na pandemia. Vejo muita parceria em projetos e redes de apoio”, conta. 

A artista declara ainda que se sente sim muito contemplada por todo esse movimento, e ressalta a importância das trajetórias transfemininas, especialmente aquelas que foram pioneiras e acabaram abrindo muitas portas para a comunidade como um todo.

“Nós não podemos nos esquecer da nossa história. Quando falamos das mulheres travestis, trazemos Rogéria, Jane Di Castro, Eloina dos Leopardos, Phedra de Córdoba e tantas outras. O nome de pioneirismo no nosso país é a Roberta Close. Ela revolucionou não só o Brasil, mas o mundo. Anos atrás, eu vi, ouvi ou li algum trecho de uma fala dela. Hoje, eu estar nesse mesmo meio artístico das manas dos anos 1970, 1980, 1990 e 2000, me faz sentir muito representada”. 

Para Marcia, o Dia da Mulher abrange todas aquelas que possuem uma história a ser contada, seja ela qual for. “Desde a do interior, de carpina, que vende pamonha, àquela que vai para a Paulista com metrô ou de carro e aquelas que enfrentam uma bancada machista, que têm dificuldade de estar com os filhos. Todas essas me espelham. São tantas as mulheres que me fazem ser quem eu sou. Dia 8 de março é quando comemoramos o ser”, comenta. 

Ao ser questionada pelo iG Queer sobre o que é ser uma mulher trans e travesti no Brasil atualmente, Marcia responde: “Desbravar todos os dias o espaço pelo qual temos que lutar e ainda provar quem somos. É difícil falar isso, principalmente em tempos nos quais se fala tanto de humanismo. Ainda vivemos esse peso de provar. Eu diria a todas as trans e travestis: não desistam”. 

Amanda também faz um apelo em homenagem ao Dia das Mulheres, levando em consideração a perspectiva de mulheres trans. “Busquem informação, aprendam com as muitas que hoje podem falar graças a tantas de nós que sucumbiram. Deem oportunidades de emprego, mais afetividades, e não nos vejam apenas pelas lentes do estigma e das limitações dos preconceitos”, conclui.

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