Culturalmente, os homens sempre passaram bem longe das ceras ou lâminas quando o assunto é depilação, mas esse panorama desde que os atletas musculosos começaram a tirar todos os pelos do corpo e os homens gays, avessos aos pelinhos pretos, decidiram eliminar de vez esse “problema”. Uma das alternativas mais procuradas nas clínicas de estética é a depilação a laser, em que a pessoa se submete a sessões de aplicação a fim de eliminar os pelos permanentemente.
O mercado brasileiro de beleza é o segundo maior do mundo, atrás apenas dos EUA. Carol Cury, fisioterapeuta dermatofuncional da Espaçolaser, conta que até 2019 o público masculino representava apenas 5% dos atendimentos em toda a rede da clínica, mas esse número dobrou nestes dois últimos anos e agora os homens somam 10% do público.
“Se voltarmos um pouco mais no tempo, 10 anos atrás, era muito raro você ter um homem que desejasse ficar sem pelos. Hoje em dia eles leem mais sobre o assunto, têm mais contato com outras pessoas que já passaram pelo tratamento e isso despertou mais a vontade de ficar sem pelos”, diz.
A profissional explica que este método é irreversível e o público masculino ainda tem um “apego” aos pelos que estão em algumas regiões do corpo, portanto prefere manter em alguns casos. De todo modo, o paciente que passa pelas 10 sessões terá uma redução bem expressiva dos pelos, principalmente os escuros e grossos.
“Os pelos mais finos podem resistir ao tratamento. Dificilmente podemos dar uma previsão exata de que todos os pelos serão eliminados. A nossa garantia é que os pelos mais grossos e escuros serão eliminados”, descreve. “Eles têm fases diferentes de crescimento, então eu preciso trabalhar essa depilação ao longo dessas sessões que pode levar até um ano e meio, dependendo do paciente porque eles caem e temos de esperar eles crescerem. Ao longo do tratamento, dá para sentir que eles vão reduzindo em tamanho e espessura”, pontua.
Agatha Le Blanc, personagem drag queen do artista Lucas, diz que sempre quis não ter a obrigação de se depilar, nunca gostou de ter pelos e há anos já nutria essa vontade de tirá-los definitivamente. Então, ela acompanhou um amigo que ia passar pelo procedimento e decidiu também fazer o tratamento.
“Isso ajuda muito no meu trabalho como drag queen e a estética da minha personagem é mais feminina. Dentro deste universo, existem variadas estéticas de drag, como as mais peludas, mas a minha é sem pelos, sem enchimento, porque eu mostro muito a minha pele. Fazer essa depilação me ajuda muito e facilita até mesmo com relação aos pelos do rosto. Antes, quando eu precisava me depilar, tirar os pelos do rosto chegava a me machucar muito. Quando eu tinha vários trabalhos seguidos, todo dia eu tinha que passar uma lâmina no rosto”, narra.
Ela extraiu todos os pelos possíveis, com exceção apenas da sobrancelha, algo que nenhuma clínica faz. Agatha aponta que tirou os pelos indesejáveis da orelha, nariz, rosto, axila, peito, barriga, perna, bumbum e principalmente no rosto, algo que mais a incomodava. Carol explica que fazer o chamado “desenho da barba”, em que elimina os pelos na altura das maçãs do rosto e no pescoço, é o pedido mais comum entre eles.
“Essa região, a gente chama de maxilar, que é muito procurado junto com a faixa da baixa (no pescoço). Eles procuram quando querem ter esse desenho. Quando fazemos a avaliação, vemos o que está fora da área que eles querem”, afirma. “Os homens têm pelos em lugares bem diferentes do comum entre as mulheres, como entre as sobrancelhas, em cima do nariz e no lado externo das orelhas. Tem um impacto hormonal muito grande neles, principalmente quando a idade vai avançando”, completa.
O publicitário Pedro Henrique de Paula lembra que, ainda na adolescência, quando começaram a nascer os primeiros pelos, ele passava a lâmina de barbear para eliminar todos de uma só vez. Hoje, aos 24 anos, ele também decidiu começar a fazer a depilação definitiva há um ano, mas – ao contrário de Ágatha – não quis tirar 100% deles.
“Eu gosto de tê-los em alguns pontos, como por exemplo na perna e no braço. Essa é uma preferência minha, no meu corpo, e não significa que eu não ache legal nos outros. Eu fiz a depilação a laser na faixa da barba e também na região íntima”, delimita. “Estou muito satisfeito com o resultado porque não tenho mais a preocupação de passar a lâmina ou gastar dinheiro fazer com cera. O resultado de verdade a pessoa consegue perceber na terceira ou até quarta sessão, dependendo da área em que o laser será aplicado, tudo vai depender da espessura do fio”, dreforça.
Nível de dor
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Uma das maiores dúvidas na hora de fazer a depilação a laser é o nível de dor, já que a cera é popularmente conhecida com uma das maiores vilãs quando o assunto é depilação. Carol garante que o laser é menos dolorido do uma sessão de cera e a “dorzinha” é comparada a uma sessão de tatuagem, mas Pedro explica com detalhes o que sente quando a luz entra em contato com a pele.
“O que se sente mesmo é um choquinho que dá para suportar. A gente sente um pouco mais de dor onde tem um pouco mais concentração de pelo. Para quem faz depilação com cera, dá para suportar qualquer coisa”, se diverte. “Digamos que esse procedimento dá um choquinho ‘gostosinho’ e é muito rápido. Depois precisamos voltar lá mais algumas vezes porque você tem de esperar de 45 a 60 dias aquela área se ‘recuperar’ e os pelos voltarem a nascer para, novamente, fazer uma nova sessão”.
Biomédica da Laser Fast, Daniela Freitas explica que a sensibilidade é variável de pessoa para pessoa, porém o laser é confortável e tem uma ponteira resfriada, que traz um conforto maior e uma proteção da pele (epiderme) durante a aplicação.
“A depilação a laser é uma fototermólise seletiva, ou seja, o laser emite uma luz que gera calor e tem afinidade pela melanina do pelo. Esta melanina atrai o calor e o fio serve como um condutor, esquentando todo o folículo, local onde o pelo fica. Quando este calor aquece toda esta estrutura, ocorre a cauterização da raiz e papila, o que não permite que este pelo tenha nutrição, e desta forma ele nunca mais nasce”, disserta.
Ela enfatiza que o resultado também pode variar de região para região, pois algumas áreas do corpo sofrem grande ação dos hormônios, como virilha e axila, e isso interfere na espessura e na cor do pelo. Daniela também salienta que, caso o cliente queira, pode fazer o procedimento em todo o corpo de uma vez.
“Mas após a primeira sessão devemos realizar algumas áreas com intervalos diferentes, respeitando o ciclo do pelo para a obtenção do melhor resultado. Por exemplo, para a faixa de barba, temos 30 dias de intervalo, enquanto que para as coxas são 90 dias e para meia perna, 60 dias. Com o avanço das sessões e a obtenção dos resultados, os intervalos também ficam maiores.”
A biomédica esclarece que na Laser Fast, por exemplo, o laser utilizado é de diodo, com tecnologia de fibra óptica. Já Carol Cury explica que a EspaçoLaser prefere usar o laser de Alexandrite, que é conhecido como o melhor do mundo na absorção da melanina.
Contraindicações
Todos os equipamentos têm afinidade pela melanina, portanto se o disparo for feito em pelos despigmentado, como loiros, brancos e ruivos, a depilação não acontece. Pelo mesmo motivo do fotocontraste, não é possível trabalhar com alguns tipos de laser, como o Alexandrite, em peles negras com muita pigmentação. Se ele tem uma pele totalmente pigmentada, precisamos mudar técnica e partir para o laser do tipo nd yag.
“Este é um outro tipo, que também tem criogênio, que tem pouca afinidade com a melanina e tem tanta eficiência quanto a anterior”, diz Carol. “Para cada avaliação, a gente vai entender qual é o melhor tipo de laser para atender à realidade do cliente”, descreve Carol.
Ela finaliza que é necessário fazer uma avaliação prévia para entender se é possível fazer a depilação a laser. “Quem usa o remédio Roacutan, por exemplo, é uma contraindicação temporária. Se a pessoa tiver tatuagens, o laser vai buscar a melanina ali e pode machucar a pele e até mesmo danificar o desenho. Já quem tem herpes ativa ou estiver passando por um tratamento de câncer, também não se indica fazer a depilação. Se existe qualquer tipo de risco, a gente precisa conversar com o médico”, pontua.