Saiba como a pandemia influenciou no desenvolvimento da fobia social
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Saiba como a pandemia influenciou no desenvolvimento da fobia social


Com as flexibilizações continuando e mais gente ocupando os espaços de convívio e lazer pelas cidades, a volta da “vida social” tão negligenciada durante a pandemia acabou sendo um bálsamo para muitos que sentiam falta de se reunir com os amigos e compartilhar de momentos descontraídos. Por outro lado, ao passo em que uma parcela da população se precipita para fora de casa, outra parcela adquiriu o medo, receio e até fobia de estar em locais públicos, de lazer e interação social.

Passar mais de um ano em isolamento social decerto confere consequências à saúde emocional de algumas pessoas e aos hábitos que precisaram ser totalmente reformados com o advento da quarentena. A psiquiatra  Jaqueline Bifano explica que o contexto da pandemia virou muitas rotinas e mentes de cabeça para abaixo, o que explica os problemas relacionados à fobia social que muitas pessoas acabaram desenvolvendo durante esse período. 

“Com a pandemia, essas situações de socialização foram subtraídas do dia a dia de todos, sendo assim, a etapa da terapia de exposição deixou de ser realizada. Isso tem consequência no ritmo de evolução do tratamento. A situação foi de muita sobrecarga, o que acabou impulsionando o agravamento e surgimento de diversos tipos de problemas emocionais. O medo da morte e a sensação de constante insegurança esteve ligada a ambientes de convívio social, já que o contágio ocorre de pessoa para pessoa. Sendo assim, quem já tinha a tendência a desenvolver uma fobia social se deparou com um catalisador externo muito significativo, que pode ter levado ao aparecimento da doença”, esclarece. 

A psiquiatra ressalta ainda que uma das maneiras de lidar com esse problema é expor o paciente ao trauma aos poucos, para que seja enfrentado gradativamente, mas ressalta a importância do cuidado e atenção por parte do profissional de saúde mental que se responsabilizará por isso. “Uma das etapas do tratamento de uma pessoa com fobia social é a terapia de exposição, que é a exposição controlada da pessoa à fonte da fobia, nesse caso, a situações de convívio social. Obviamente, o profissional de saúde mental vai prepará-la para isso, com técnicas para que ela consiga manter a ansiedade e medo sob controle”. 

Nathalia Letícia é pansexual e conta que a pandemia a induziu a acostumar-se com a solidão devido ao isolamento, o que gerou consequências com as quais ela ainda tenta lidar da melhor forma que pode. “Eu moro sozinha, então estar com outras pessoas se tornou uma atividade desconfortável, especialmente se tratando de pessoas que não fazem parte da minha bolha. O simples ato de sair de casa tornou-se desgastante. Tive muitas crises de ansiedade, até mesmo quando ia comprar ração no pet shop para o meu gato. Precisar atravessar a rua, às vezes, era uma tortura”, conta.

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Ela acrescenta que está fazendo terapia para conseguir superar esses obstáculos. Nathalia destaca que no começo não conseguia identificar a origem do problema, tampouco o que a levava a ter crises. “Foi uma situação degradante e muito complicada porque eu nunca conseguia saber ao certo o porquê eu estava tendo aquelas crises e passando por isso. Tudo foi bem estressante”. 

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Jaqueline pontua que uma das principais dificuldades que os pacientes enfrentam em momentos de crise é justamente manter a ansiedade sob controle e lidar com ela, principalmente porque ela pode vir acompanhada de muitos outros sentimentos que por si só geram comoção, e quando unidos a situações de estresse podem tornar-se difíceis de digerir e manter sob domínio. 

“As pessoas ficaram por quase dois anos sem esse contato e a necessidade de fazer isso agora pode causar muita ansiedade e insegurança. O medo da morte e as incertezas com relação ao futuro também estão presentes e tornam-se um grande desafio no dia a dia dessas pessoas”, conta. 

Nathalia explica como estão sendo suas experiências ao frequentar locais de lazer atualmente e como está guiando essas situações para evitar a frequência dos desconfortos e crises. Ela destaca que a presença de outras pessoas LGBT acaba sendo uma vantagem nesse sentido.

"Ainda não estou conseguindo frequentar locais muito abertos, então ambientes fechados e reservados são ideais para mim por enquanto. Além disso, preciso estar com pessoas com as quais me sinto à vontade para conversar, que geralmente fazem parte do movimento LGBT, pessoas da minha bolha. Não me sinto bem com indivíduos que não conseguem conversar comigo sobre coisas que me afetam”. Ela também acrescenta que não está pronta para frequentar lugares mais abertos por enquanto. “Vou precisar fazer um pouco mais de terapia porque está bem difícil”. 

Jaqueline reitera a importância de procurar atendimento especializado para conseguir identificar as principais causas da fobia social e das dificuldades de convivência. A partir daí, cada paciente será orientado da melhor maneira em prol da superação dessas limitações. Ela também pontua que exercícios de relaxamento normalmente são uma boa técnica para suavizar os momentos de estresse e crise. 

Jaqueline Bifano
Leca Novo

Psiquiatra Jaqueline Bifano

“É essencial que seja mantido o acompanhamento psicológico e/ou com psiquiatra, além disso, também podem ser usadas técnicas de relaxamento e respiração. A prática regular de atividades físicas também vai ajudar muito. As técnicas de relaxamento e respiração costumam ajudar muito no tratamento de fobias, inclusive da fobia social. Esses exercícios vão trazer mais segurança e ajudarão a pessoa a se expor gradativamente a situações de convívio social. É muito importante também que essas pessoas mantenham uma rotina de exercícios físicos, que vão ajudar nesse controle, e que todos mantenham o uso de máscara e respeitem as medidas de segurança, como o distanciamento mínimo e a higienização frequente das mãos”, finaliza.

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