Mesmo no Brasil, o Halloween é uma data muito esperada para os fãs do universo do terror e tudo que o habita. Entre as atividades favoritas dos adeptos da data estão ir a festas com maquiagens aterrorizantes, ostentar fantasias de personagens e personalidades famosas ou encontrar os amigos para maratonar filmes de terror.
O terror é um gênero muito versátil que serve muito mais do que proporcionar medo e bons sustos, mas para criar simbologias para refletir temas que causam angústias e ansiedades. Alguns deles exploram o universo LGBTQIA+ , principalmente como forma de ilustrar as próprias inquietações para o público geral.
Seja para se divertir só ou com companhia, confira alguns filmes de terror que abordam temáticas queer ou com personagens LGBT para assistir neste Halloween.
1- Festim Diabólico (1948)
Onde assistir: Net Now
Um dos filmes mais reverenciados da filmografia de Alfred Hitchcock tem como protagonistas dois homens gays, Philip (Farley Granger) e Brandon (John Dall), que querem provar que conseguem cometer o crime perfeito. Para isso, eles estrangulam um amigo em comum e colocam seu corpo dentro de um baú. Mais tarde, eles recebem alguns amigos e servem o jantar em cima do móvel onde está o cadáver.
Esse é considerado o primeiro filme a representar dois homens gays nos cinemas, mas que não verbalizam essa orientação sexual em momento algum. O diretor tenta trazer essa relação pela maneira de estabelecer a proximidade e a intimidade de ambos por meio de gestos e formas de se comunicar. Portanto, é algo que pode passar despercebido para quem não prestar muita atenção na atuação dos atores.
Além dessa curiosidade histórica, o filme apresenta o melhor da trama hitchcockiana: é claustrofóbico, repleto de tensão e suspense. Sem contar que Hitchcock é considerado o mestre do suspense, o que torna a opção ainda mais certeira para o Halloween.
2- The Rocky Horror Picture Show (1975)
Onde assistir: Telecine
O musical é um filme a frente de seu tempo e apresenta, sem muitos pudores para a época, uma trama que é totalmente pautada em sexo e sexualidade. Mesmo que não seja nada assustador, Jim Sharman, diretor do filme, usou elementos do gênero do horror e do gótico para contar a história, sendo um dos filmes queer mais divertidos para assistir no Halloween.
O filme apresenta Brad (Barry Bostwick) e Janet (Susan Sarandon), um casal sem muita química sexual que fura o pneu na estrada, em uma tempestade. Eles buscam abrigo em um casarão misterioso onde vivem algumas pessoas assustadoras e não muito confiáveis. O principal deles é Frank N Furter (Tim Curry), uma travesti cientista que ostenta um homem musculoso chamado Rocky (Peter Hinwood), sua nova invenção.
As mensagens relacionadas à sexualidade e libertação sexual estão presentes não apenas no roteiro, mas nas coreografias, atuações e composições de duplo sentido. Apesar do fato de Tim Curry ter feito transfake ao interpretar Frank N Furter, a personagem foi muito importante para a época e é lembrada com carinho até hoje por fãs da obra. Em 2016, Laverne Cox foi escalada para interpretar Frank em um remake para a televisão.
3- A Hora do Pesadelo 2 - A Vingança de Freddy (1985)
Onde assistir: HBO Max
O segundo filme lançado sobre adolescentes que sonham com o maléfico Freddy Krueger é repleto de controvérsias, mas há quem diga que esse é “um dos filmes mais gays da história do cinema”. No contexto, Jesse (Mark Patton) e sua família são os novos residentes da casa em Elm Street. O garoto começa a ter os sonhos com o monstro, que tenta tomar seu corpo para matar crianças na vida real.
A forma como o filme retrata os sonhos e as sensações de Jesse fez com que o roteiro fosse encarado como uma tentativa de comentário social sobre homossexualidade. O contexto por trás das câmeras diz respeito ao período do lançamento, em que o mundo passava pela fase mais dura da pandemia da Aids e falar sobre homossexualidade na frente das câmeras era visto como negativo.
Anos depois, o próprio Patton, que é gay, chamou atenção para o fato de que Freddy mata apenas homens em seus sonhos, o que pode remeter a uma repressão do garoto relacionada à sexualidade e à própria Aids. Outro traço disso é o fato de que Jesse teria sido escolhido por Freddy para dar a ele um novo corpo para condizer com o senso comum de que “homens gays são monstros” ou associá-los à repulsa.
4- Hellraiser - Renascido do Inferno (1987)
Onde assistir: Amazon Prime Video
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A saga trash que conta a história dos demônios Cenobitas que têm como prazer causar dor e sofrimento às suas vítimas é um expoente do queer horror. O termo, que serve tanto para a literatura como para o cinema, diz respeito a enredos em que um personagem é LGBT e a problemática tem a ver com sexualidade.
O primeiro filme acompanha um homem viciado em sexo que encontra uma caixa que promete proporcioná-lo prazeres inimagináveis. Na verdade, a caixa é um portal para o inferno que o prende com os Cenobitas, incluindo Pinhead (Doug Bradley), o protagonista símbolo da franquia.
O universo foi criado pelo escritor Clive Barker, que é gay, com base na estética dos clubes e na prática do BDSM. Barker já explicou que o próprio look dos Cenobitas, principalmente os pregos nas cabeças de líderes demoníacos como Pinhead, foram inspirados nos clubes de prática sadomasoquistas.
"Eu pareço com alguém que liga para o que Deus pensa?"
Na época, o filme fez barulho na cultura underground e furou a bolha LGBT, conseguindo conversar com pessoas de todos os públicos. O sucesso foi tanto que chegou a inspirar a canção “Hellraiser”, da banda de rock Motörhead, que foi regravada por Ozzy Osbourne.
No ano que vem, os filmes ganharão um reboot com Jamie Clayton no papel de Pinhead. Jamie é conhecida por interpretar Nomi em “Sense 8”. A HBO também está trabalhando em uma série sobre o universo de “Hellraiser”.
5- O Filho do Chucky (2004)
Onde assistir: Netflix
O boneco assassino se tornou uma espécie de símbolo do terror da comunidade LGBTQIAP+. Isso porque, em alguns filmes da franquia Chucky, o personagem parece proteger crianças que experienciam traumas muito comuns à comunidade LGBT. Além disso, o personagem foi criado pelo roteirista e diretor Don Mancini, assumidamente gay.
No entanto, de todos os filmes da franquia, “O Filho do Chucky” é o que parece mais aberto à discussão sobre gênero. Nele, Glen/Glenda, o filho do boneco assassino, ressuscita o pai e a mãe, mas se arrepende ao perceber a perversidade dos dois. Assim, Glen precisa impedir que Chucky e Tiffany matem outras pessoas.
O longa marca a fase “debochada” da franquia e não é tão apreciada por quem prefere filmes de terror mais tensos e com um pé na realidade. No entanto, a identidade de gênero queer de Glen/Glenda foi importante na época para pessoas que se viam fora da margem heteronormativa ou que queriam sair do armário.
Caso você já tenha cansado de ver os filmes da saga, vale dar uma chance para a série “Chucky”, a nova série do personagem em exibição no Star+. Nela, o boneco assassino promete se vingar da pior forma de quem cometer bullying contra Jake (Zackary Arthur), um garoto gay de 14 anos. Aliás, a série confirmou a identidade de gênero não binária/gênero fluido do filho do Chucky .
6- As Boas Maneiras (2017)
Onde assistir: Globoplay
Representante do cinema brasileiro de horror nesta lista, “As Boas Maneiras” é guiado por Ana (Marjorie Estiano), uma mulher rica que se isola no interior quando descobre que está grávida. Clara (Isabél Zuaa) é enviada para ajudá-la durante a gestação, mas se torna guardião dela e do bebê, que é um lobisomem.
Além de ser um título louvável do cinema de terror do Brasil nos últimos anos, a trama ganhou reconhecimento por abordar o relacionamento lésbico que Ana e Clara acabam desenvolvendo. O longa carrega simbologias e metáforas que tratam de abordar o isolamento a que pessoas LGBT em geral precisam ser submetidas por suas orientações sexuais ou identidades de gênero.
7- Trilogia Rua do Medo (2021)
Onde assistir: Netflix
“Rua do Medo” foi lançado em três partes e adapta uma série de livros escritos pelo autor R. L. Stine, ícone do terror infanto-juvenil. A primeira se passa em 1994 e a apresenta um grupo de adolescentes liderado por Deena (Kiana Madeira), uma garota lésbica, que acorda o espírito da bruxa Sarah Fier, que faz parte da lenda urbana da cidade de Shadyside. A bruxa amaldiçoa a ex-namorada de Deena, Sam (Olivia Scott Welch), que começa a ser perseguida por monstros arrepiantes.
Para apresentar a história de forma mais profunda, os outros dois filmes, que se passam em 1978 e 1666, voltam ao passado para acrescentar contexto e apresentar pontos de vistas a partir das experiências de outras personagens (e para mostrar mais das entidades bizarras desse universo, claro).
Comandado pela diretora Leigh Janiak, “Rua do Medo” tem como proposta embarcar em gêneros queridinhos do horror, como slasher, sobrenatural, thriller e uma pitada de gore, e se inspira em títulos que vão de “Sexta-Feira 13” até longas mais recentes, como “A Bruxa”. O horror teen é uma experiência cheia de plot twists que pode ser divertida e assustadora sem deixar de lado a trama cativante e bons comentários sociais, principalmente sobre sexualidade.