Dicésar acredita que, se pudesse se montar dentro do BBB, seria muito mais famoso hoje
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Dicésar acredita que, se pudesse se montar dentro do BBB, seria muito mais famoso hoje

Dicésar Ferreira, hoje com 55 anos, foi um participante que chamou a atenção do público na 10ª edição do "Big Brother Brasil" ao se apresentar com suas perucas, maquiagem e vestido de sua personagem icônica: Dimmy Kieer. Única drag queen que já entrou no reality, ele lembra em entrevista ao iG Queer que a produção do programa não permitiu que ele se montasse muitas vezes na casa.

"Não pude levar roupas da Dimmy. Acho que se eu me montasse todo dia na casa, em toda festa, minhas personagem seria a Pabllo Vittar hoje em dia”, acredita.

Para o ex-participante do reality, a edição atual, que bateu recorde em 2021 no número de brothers e sisters LGB , 6 no total, os gays estão muito apagados neste ano. Ele ainda afirma que, se tivesse a “liberdade” que existe hoje em dia, aproveitaria para fazer ainda mais sucesso com sua drag queen.

“Falar de sexualidade e gênero está muito mais forte hoje em dia. Na minha época, a gente não tinha Instagram e o Twitter não era o ‘boom’ que é agora. Era tudo muito diferente. Se eu entrasse hoje no BBB, não mudaria a minha postura, mas se pudesse levar as roupas da Dimmy, por exemplo, ia me ajudar muito. Imagina se eu me montasse todo dia na casa, toda festa, a Dimmy ia ser a Pabllo Vittar hoje em dia, conhecido no mundo todo. Ou sairia de lá contratado para um filme, uma novela ou Netflix porque hoje está tudo muito mais aberto. Nós quebramos muitas regras e tabus”, declara.

“Acabei de ser contratado por uma empresa, Los Panchos, para gravar cinco funks. Só não entrei em estúdio ainda por causa da pandemia, mas se eu estivesse saindo agora do BBB e lançando músicas com a Dimmy Kieer, seria um sucesso total. Entraria na novela”, completa.

Dicésar e Dimmy Kieer
Divulgação/TV Globo
Dicésar e Dimmy Kieer



Afiado, o ex-brother critica a edição atual do programa, que considera estar chata, com muitas confusões. Ele diz que "tem muito mi-mi-mi" e alfineta que os próprios gays que estão no programa estão se anulando.

"Eu acho que 'as gay' têm que por a mão na cintura: ‘Epa, aqui não!’ Elas estão muito 'mandadas'. Alguém grita, alguém fala alguma coisa, elas ficam mudas, ‘fazem a pêssega’. Eu acho que eles têm que ter mais atitude. Infelizmente não vão repetir a nossa fórmula [do trio colorido no BBB10 ]”, opina Dicésar.

“Atualmente eu gosto do Gil. Gosto do jeito dele, brincalhão, divertido, espalhafatoso, de bem com a vida. Também gosto da simplicidade do Caio. Tô torcendo para o Gil, Juliette e Sarah”, diz.

O ex-participante teve apenas uma chance de vestir sua personagem, em uma festa, e saiu do Big Brother em um paredão histórico contra o seu rival dentro da casa, Marcelo Dourado, que foi acusado de homofobia pelo que dizia e por suas atitudes no programa.

Depois disso, Dicésar trabalhou durante quatro anos no programa da Eliana, no SBT. Ele era dono de um quadro chamado “Adogo”, que fazia referência à palavra “adoro”, mas falado com a língua presa – característica marcante de Dicésar.

Dicésar trabalhou durante 4 anos no programa da Eliana
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Dicésar trabalhou durante 4 anos no programa da Eliana



“Muita gente passou a me conhecer não só pelo Big Brother, mas pelo programa da Eliana. Então, todos os programas de TV me chamaram depois disso. Fiz muita coisa, Pânico na TV (RedeTV!), Estrelas (Globo), com a Angélica, uma participação no Altas Horas (Globo), na Praça é Nossa (SBT). A participação em todos esses programas de TV abriu muitas portas para mim”, opina.

O ex-brother diz que, antes do programa, viajava muito pelo Brasil a trabalho para ficar na porta de boates, como Dimmy Kieer, recebendo convidados, mas que recebia pouco pelo serviço, o que mudou após ganhar a visibilidade do reality.

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“Antes do BBB, o cachê mais caro era R$ 600. Depois do Big Brother, já cheguei a ganhar de R$ 2 mil a R$ 5 mil. Deu uma mudada brusca. Abriu todas as portas para mim, me ajudou muito”, revela. 

Com 28 anos de carreira, Dimmy já fez shows em diversos países como Panamá, Espanha e Portugual, além de todo o Brasil. Como maquiador, a situação também não era fácil antes da fama.

“Eu mandava currículo para tudo quanto é empresa, nunca me pegavam. Depois que eu saí do Big Brother, eu ganhei prêmios e prêmios como melhor maquiador e como influenciador”, completa.

De 2017 até o início da pandemia de Covid-19 no Brasil, Dicésar também trabalhou com espetáculos teatrais. No Teatro Paiol, que fica em São Paulo, encenou a peça “Eu sou ela? Eu sou ele?”, na qual contava a história da própria vida até se tornar um artista, se envolver com o meio LGBTQIA+ e entrar no BBB.

“Era um espetáculo biográfico. Nesse meio tempo, eu também fiz 'As filhas da mãe', no Teatro Bibi Ferreira (SP). Também fiz o 'Elas São Loucas', que eu escrevi e dirigi. Foi bem bacana. Depois veio a pandemia e fiquei 10 meses sem trabalho de teatro e na noite LGBT. Ninguém ia mais”, conta.

Para se reinventar e se manter financeiramente, já que as boates e os teatros fecharam em todo o Brasil, Dicésar trabalhou em uma loja de amigos no Largo do Arouche, na cidade de São Paulo, por quase um ano.

“A gente tem que se virar nos ‘quarenta’ porque eu tenho mais de 40 anos (risos). Então, eu fiquei como vendedor fixo na loja de um amigo. Pedi para ser vendedor mesmo. Perguntei para ele quanto ganhavam o gerente – que ele queria que eu fosse – e quanto ganhava para ser vendedor. Gerente era o dobro mais comissão, mas mesmo assim eu disse que não me colocasse como gerente. Eu não sei cuidar de caixa, dinheiro dos outros, eu não sei mandar as pessoas embora. E foi assim que fiquei durante 11 meses. Inclusive bati a cota de melhor vendedor. Para mim, foi muito bacana. Me ajudou muito. Sou grato”, diz.

Ao mesmo tempo, Dicésar ainda conseguia trabalhar com maquiagem, dando cursos online e fazendo lives. “A gente se vira”.

A drag queen Dimmy Kieer foi uma das primeiras a trabalhar como hostess nas boates brasileiras, recepcionando o público. Dimmy trabalhou assim por muitos anos
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A drag queen Dimmy Kieer foi uma das primeiras a trabalhar como hostess nas boates brasileiras, recepcionando o público. Dimmy trabalhou assim por muitos anos



Discriminação
O ex-brother lembra que ficar nacionalmente conhecido não o protegeu de comentários preconceituosos. Apesar disso, ele afirma que nunca foi vítima de violência física motivada por discriminação.

“Estar no BBB e ficar nacionalmente conhecido nos faz receber abraços, beijos, mas tem muita gente homofóbica para todos os lados. Não é só luxo e glamour. Eu finjo que não escuto porque se eu for ficar me irritando, eu vou ficar brigando com todo o mundo. Faço a minha parte, cumprimento todo o mundo, converso e tiro foto, mas já ouvi coisas assim: 'o viadinho do BBB, a bichinha da televisão'”, descreve.

“Outro dia, estava na fila de um banco quando uma pessoa falou assim para mim: ‘Nossa, você é tão sério. Achei que você era tão bacana, tão divertido’. Respondi ‘amado, estou pagando três contas de condomínio atrasadas. Você acha que eu deveria estar gritando ‘oi, piu, pagou tudo. Ai, que luxo’. Tô pagando uma conta. Eu tenho que ser uma pessoa focada e do jeito que a sociedade pede, às vezes. Eu não posso estar pintosa numa fila de banco, sendo inconveniente. Eu sei a hora de entrar e a hora de sair. A gente tem que ter limites porque, infelizmente, há ataques homofóbicos”, completa.

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