Thiessa Woinbackk é atriz, influencer digital e formada em biolgia
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Thiessa Woinbackk é atriz, influencer digital e formada em biolgia

E aí, meus tchutchucos! Como é que cês tão? Cês tão beleza?

Sim, eu sou uma  mulher trans e hoje estou aqui para contar para vocês sobre quando eu tinha algo a mais entre as pernas: já adianto que ter um pênis era terrível para mim. Ainda bem que existe uma cirurgia chamada redesignação de gênero  que resolve isso.

Antes de passar pelo procedimento, fazer sexo com alguém e ter um pênis era horrível. Você fica naquele desconforto, não gosta do que está lá e se torna algo muito constrangedor. Isso se chama disforia , quando alguma parte do seu corpo não condiz com sua cabeça e isso traz um trauma muito difícil de superar.  

Vale lembrar que muitas pessoas têm o costume de achar que só é mulher trans quem fez essa cirurgia, mas a história não é bem essa, viu. Ser mulher trans e travesti não depende de um procedimento cirúrgico.

Eu sempre gostei de viver a minha vida, namorar, mas eu não falava para todo mundo que eu ficava que sou uma mulher trans e, quando eu estava transando com um boy, ou um peguete, algumas vezes o clima esquentava muito e aquele negócio que estava no vão das minhas pernas dava sinal de vida. Era meio complicado porque você vai disfarçar como, né?

O pior é que, além de ter de contar que sou uma menina trans, tinha de falar que tinha um piruzinho. Era bem complicado. Ainda bem que era pequeno e eu conseguia disfarçar (Risos). Geralmente um cara hétero não está acostumado a transar com uma mina que tenha algo no meio das pernas.

Certa vez, eu estava ficando com um garoto, ele não sabia que eu era trans, o clima estava esquentando, ele me arrastou para o quarto dele e eu comecei a pensar “estou fodida porque eu não contei nada pra ele. Agora que tudo vai por água abaixo”. Enquanto a gente se beijava, ele me colocou na cama, veio por cima, então comecei a rezar e me perguntar “meu Deus, por que eu tenho isso?” Eu estava tão nervosa e tive a ideia de mudar a situação: virei uma verdadeira dominatrix, deitei ele na cama, subi sobre ele e, nessa posição, eu tinha mais controle sobre o que estava acontecendo. Eu conseguia ficar de um jeito que meu quadril não tocava o dele.

Como eu já tinha bebido bastante naquela noite, eu pedi para ir ao banheiro e falei que estava passando mal para poder ir embora.

Já na balada, quando você está beijando um boy, tem sempre uns desgraçados que sempre vão com a mão lá, achando que têm liberdade. Teve um deles que chegou a colocar a mão inteira e eu só rezava para que ele não percebesse que eu tinha algo a mais ali. A minha sorte é que nunca perceberam. Com tantos casos de violência contra pessoas trans , o medo sempre foi muito grande.

Alguns anos atrás, eu já tinha feito a minha cirurgia de redesignação e estava namorando um garoto. Nessa época, eu ficava na faculdade o dia inteiro, levava meu notebook para todos os lados e minha vida inteira estava ali dentro. Tinham muitas histórias ali, mas eu não me lembrava disso.

Eu estava preparando um vídeo para o meu canal do Youtube para  falar sobre hormonização e lembrei que no meu velho notebook tinham algumas coisas que eu já havia pesquisado e poderiam me ajudar. Pedi ao meu namorado que procurasse os arquivos para mim e ele foi fuçar tudo até que ele me chama no WhatsApp dizendo “então, amor, deixa eu te contar uma coisa: olha isso aqui”.

Quando ele me mandou o arquivo, eu gelei até a espinha. Era um nude que eu tinha naquela máquina da época antes de ter feito a cirurgia.

Eu não gosto que as pessoas vejam meus nudes antigos, até porque era um órgão que eu não gostava. Me dá algo ruim. Criei um climão na minha cabeça, fiquei morrendo de vergonha, mas ele ficou de boa com isso. Eu fiquei muito nervosa, não vou negar. Eu não curto e é claro que eu deletei tudo.

O meu namorado era alguém muito tranquilo, desconstruído, então não teve problema algum, mas confesso que fiquei com vergonha. Era o meu passado exposto e não tinha algo a fazer.

Na vida também tem aquelas pessoas que te perguntam “mas você é operada?”, como se isso importasse realmente para alguém. Se você não vai ter um relacionamento com uma pessoa, não tem que perguntar. Ninguém pergunta para uma pessoa cisgênero “como está seu pinto” ou “sua pepeca”. Então por que vai perguntar isso para uma pessoa trans?

Acho que as pessoas trans precisam ter mais respeito. Se não tem intimidade, não pergunte sobre a intimidade dela porque isso pode fazê-la sofrer. Vamos ter um pouco mais de humanidade. Guarde suas curiosidades sobre ela em outro lugar.

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