“É o início de todas as coisas”. Essa foi a frase que a drag queen Miranda Lebrão disse quando apareceu pela primeira vez no universo de Drag Race . A artista do Rio de Janeiro foi uma das quatro finalistas do programa “Drag Race Brasil” , em 2023, e retornou ao multiverso no spin-off “RuPaul’s Drag Race Global All Stars”, para representar o Brasil ao lado de outras 11 competidoras de diferentes nacionalidades. O programa estreia nesta sexta-feira (16) na WOWPresent+.
Em entrevista ao iG Queer, a drag queen é categórica em dizer o que o público pode esperar dela na nova temporada: “Caríssima”. “Uma das grandes diferenças que o All Stars traz para a nossa vida é o tratamento VIP. É algo de outro nível, absurdo. E é uma delícia ser VIP. O investimento da produção que tivemos também foi muito maior, e isso se reflete nas passarelas e na confiança”
Global All Stars
Miranda abriu o jogo e contou como foi receber o convite para participar do spin-off com drags do mundo inteiro e ser a primeira brasileira a ser julgada por RuPaul: “No dia em que me falaram isso no estúdio, eu quase desmaiei. Eu estava pronta para entrar quando o produtor falou: ‘Você está pronta para ser a primeira brasileira na frente da Ru?’ E eu, assim: ‘Não, gente. Já teve alguém antes, né?’ E ele: ‘Não, não teve. É você, baby.’ E nesse momento eu pensei: 'Então okay, a gente já ganhou, Miranda'”.
A artista explica que estava calma e confiante até o momento em que virou a ponta da passarela e viu a idealizadora da franquia de sucesso sentada na bancada de jurados.
“Foi ali que realmente me dei conta do que estava acontecendo. Até segundos antes, eu estava muito tranquila, me alongando e pensando: 'Está tudo bem, vai ser lindo.' Quando olhei para a cara dela e ela olhou para a minha, pensei: 'Moleque, isso é real, né?' Foram 17 anos assistindo às franquias internacionais, e coube a mim ser a primeira brasileira na frente dela!”
Preparação
Se no Brasil, uma das coisas mais memoráveis de Miranda foi sua interpretação da advogada Jezebel no terceiro episódio, é evidente que em uma nova temporada fosse posta uma lupa sob sua comicidade. Porém, desta vez, dois empecilhos surgem: a barreira de estar fazendo comédia em uma outra língua e para um país com um timing diferente do Brasil.
E essa foi uma preocupação da artista quando se preparava para a competição. “Coloquei muito pensamento nesse processo, especialmente nesse sentido específico. Uma das coisas que talvez eu não tenha conseguido mostrar tanto no ‘Drag Race’, mas que faz parte do meu trabalho aqui no Rio de Janeiro, é como eu sou uma boa comunicadora. Uma das coisas que mais facilita meu trabalho é o meu pensamento rápido. Quando mudamos de idioma, o ‘timing’ também muda, e eu precisava descobrir qual era o meu ‘timing’ em inglês”.
Entre entender o que estavam dizendo — principalmente levando em consideração que tinham pessoas ao qual a língua materna não era o inglês — e conseguir responder de forma adequada foi um trabalho difícil, mas que ela se sente confiante no resultado.
“Foi um jogo de cintura bem pensado. Para mim, não foi tão difícil porque tive uma educação bilíngue extensa, então a gramática e a fala do idioma não eram tão complicadas. Mas a questão era entender qual era o meu "timing" em inglês, porque ele é diferente. Em espanhol também é diferente, e em francês seria outro "timing" ainda. Mas funcionou, viu? Gostei bastante de mim em inglês!”
Quando questionada a primeira coisa que faria com o prêmio de US$ 200 mil, Miranda diz rindo sem pensar duas vezes: “Eu iria em um rodízio japonês, com certeza absolutamente!”
Uma Miranda Lebrão cara
Miranda diz que, na sua participação no “Drag Race Brasil”, ela fez o que sabia fazer, pautada na criatividade e nas limitações que o seu estúdio permitia. Uma “criatividade precária”. Agora, ela não pretende abandonar a estética “craft”, mas ressalta que é bom estar no “VIP”.
“Eu não abro mão da minha estética, às vezes criativamente mais barata, porque ela fala sobre a minha cultura, sobre o Rio de Janeiro, sobre o transformismo brasileiro e como a gente faz isso. Mas é claro que todo mundo quer estar com uma roupa de um designer renomado, todo mundo quer estar vestindo algo de primeira linha. Poder fazer isso, pelo menos uma vez na vida, é uma das grandes diferenças.”
Do Brasil para o mundo
Miranda mostra toda a sua força ao dizer que as drag queens brasileiras possuem um diferencial dos demais países: elas não possuem medo de dar a cara a tapa. “Acho que isso é algo que compartilho com o espírito brasileiro. A gente não tem receios, não se prende. A gente quer fazer, então vai lá e tenta. Se precisar tentar de novo”.
Ela continua: “Você acha que eu tenho medo de comentários na internet, de julgamento, de críticas? Sabe do que eu tenho medo? Eu tenho medo de machucar meu braço e nunca mais conseguir me maquiar. Tenho medo da mudança climática, de jogar o Rio de Janeiro em um cenário de seis graus negativos. Tenho medo dessas coisas reais. O resto? Nem um pouco!”
Ela ainda ressalta como inspiração o nome de Lorna Washington, a “Fernada Montenegro do mundo drag”. Transformista carioca, ela teve uma carreira de mais de 40 anos no Rio de Janeiro, e morreu no final de 2023.
“Ela é, sem dúvida, a minha maior inspiração, e eu queria muito que as pessoas conhecessem o nome dela. O mundo precisa conhecer o legado dela, porque uma das maiores facetas de uma drag queen é aquela que aprendeu a colocar seu discurso à frente da sua aparência, da sua maquiagem e da sua performance.
Quem é Miranda Lebrão?
Natural do Rio de Janeiro, a drag queen é formada em atuação e engenharia naval. Atualmente, Miranda trabalha como apresentadora, drag queen e comunicadora. Em seu vídeo de apresentação, ela se descreve como “alguém que está tentando quebrar muitos silêncios e descobriu na drag uma possibilidade de falar”.
Em 2023, Miranda compôs o elenco da primeira — e muito aguardada — edição do “Drag Race Brasil”, a versão brasileira da competição de drag queens “RuPaul’s Drag Race”. A artista chegou a final, com uma vitória nas costas e um histórico de competição forte, se destacando principalmente em desafios de atuação e costura.
Miranda não conseguiu agarrar a coroa brasileira, que acabou sendo conquistada pela colega de cena drag, Organzza. Porém, esse não foi a sua última chance de entrar para o “Hall the Fame” das vencedoras: ela foi convidada para representar o Brasil na nova aposta de RuPaul Charles.
“RuPaul’s Drag Race: Global All Stars”
O elenco do primeiro “RuPaul's Drag Race: Global All Stars”, que estreia no Brasil no dia 20 de setembro na Paramount+, foi divulgado. Doze queens de diferentes países competirão pelo título de "Queen of the Mothertucking World", um prêmio de 200 mil dólares e uma vaga no "Drag Race Hall of Fame". RuPaul Charles, Michelle Visage e Jamal Sims compõem o painel de jurados, com convidados internacionais. Em parceria com a All Out, a franquia doará 100 mil dólares ao fundo "Drag Saves the World" para apoiar os direitos LGBTQIAP+ globalmente.