Considerado progressista, o Papa Francisco já deu declarações polêmicas relacionadas à população LGBTQIAPN+ em várias ocasiões nos últimos anos, e vem causando estranhamento junto à ala mais conservadora da Igreja Católica.
Nesta segunda-feira (8), um documento elaborado pela Igreja condenou a suposta “teoria de gênero”, além de considerar cirurgias de redesignação sexual uma forma de “concessão à tentação milenar de fazer-se Deus”.
O documento surgiu em resposta às várias declarações e atitudes do papa a favor da união homoafetiva. Confira abaixo cinco vezes em que o Papa Francisco causou polêmica com atitudes e declarações direcionadas a pessoas LGBTQIAPN+.
1. Encontro com Juan Carlos Cruz
Em 2018, o Papa Francisco recebeu Juan Carlos Cruz, um homem trans chileno que foi abusado durante anos por padres católicos. No encontro, o pontífice disse ao homem que “você [Juan] precisa ser feliz com quem é. Deus o fez assim e o ama assim, e o Papa o ama assim”.
Juan Carlos, em relato escrito por ele próprio sobre o ocorrido para a National Catholic Reporter em 2023, também disse que Francisco foi sincero e que “o tirou do túmulo”.
Em resposta, a ala mais conservadora da Igreja católica elaborou um documento intitulado “Masculino e Feminino Foram Criados Por Ele”, que defende que a liberdade de gênero “aniquila as noções da natureza”. O documento foi assinado pelo Papa.
2. "Eles são filhos de Deus”
No filme “Francesco”, lançado em 2020 e dirigido por Evgeny Afineevsky, o Papa deu uma das declarações mais explícitas a favor dos direitos das pessoas homossexuais. "Eles são filhos de Deus e têm direito a uma família. Ninguém deve ser excluído ou forçado a ser infeliz por isso”, disse ele.
No mesmo filme, o Papa também expõe a opinião de que "os homossexuais têm direito a formar uma família" e que é a favor de uma legislação para regulamentar a união civil homoafetiva. “Eles têm direito a estarem legalmente protegidos. Eu defendi isso”, declarou.
Em 2021, porém, em resposta às falas do papa, o Vaticano elaborou um documento — também assinado pelo pontífice — em que declara que “Deus não abençoa o pecado”, em referência a uniões entre pessoas de mesmo gênero.
3. Apoio a filhos homossexuais
Em janeiro de 2022, em audiência semanal, Francisco declarou que pais e mães devem apoiar seus filhos se não forem heterossexuais. Em sua fala, o papa disse que os pais devem acompanhar e procurar entender seus filhos, em vez de “se esconder atrás de uma atitude de condenação”.
Na ocasião, o papa também disse que, apesar de não poder apoiar o casamento homoafetivo, a Igreja pode apoiar leis de união civil que garantam o direito desses casais — como pensões, saúde ou heranças.
4. “Deus nos ama como somos”
Em julho de 2023, durante participação em podcast, o papa acolheu uma mulher trans católica, que em mensagem enviada para o programa, confessou se sentir “dividida pela dicotomia entre a fé [católica] e a identidade transgênero”.
Na ocasião, Francisco respondeu que “o Senhor sempre caminha conosco. Mesmo que sejamos pecadores, Ele se aproxima para nos ajudar. O Senhor nos ama como somos, este é o amor louco de Deus”.
No mesmo podcast, ele disse ainda “quem sou eu para julgar”, diante de uma pergunta direcionada especificamente a pessoas homossexuais. Trechos do podcast foram oficialmente publicados nas redes sociais do Vaticano.
5. Bênção a casais homossexuais
Em dezembro do ano passado, em atitude inédita e mais um aceno para a comunidade LGBTQIAPN+ , o papa autorizou que os padres da Igreja Católica possam abençoar relacionamentos de pessoas do mesmo gênero.
O documento que oficializa a atitude também diz que a benção “nunca deverá ser concedida em simultâneo com as cerimônias de uma união civil, e nem mesmo em conexão com elas. Nem pode ser realizado com roupas, gestos ou palavras próprias de um casamento”.
Após a emissão do documento, o papa também declarou que “posições ideológicas inflexíveis” podem impedir que a Igreja Católica avance em pautas sociais. A declaração veio junto de uma crítica aos conflitos entre católicos progressistas e conservadores, em sua tradicional saudação de Natal aos membros da corte papal.