De acordo com uma pesquisa realizada pela University Medical Center, em Amsterdã, as mulheres trans têm cerca de 47 vezes mais chances de desenvolver câncer de mama do que os homens cisgênero (aqueles que se identificam com o gênero corresponde ao que lhes foi atribuído no nascimento).
“O câncer de mama pode atingir as mulheres trans na medida em que elas são hormonizadas, são os hormônios que estimulam o botão mamário”, explica o mastologista Carlos Ruiz, que também já foi presidente da Sociedade Brasileira de Mastologia (SMB), entre 2011 e 2013.
O mastologista diz que a prótese mamária não influencia em nada no desenvolvimento de um possível câncer. Com a adoção da hormonioterapia, as mulheres trans passam a desenvolver a glândula mamária. “Já as próteses são usadas apenas para dar volume aos seios”, insere a médica Ana Thais Vargas, especializada em ginecologia endócrina e atendimento da população LGBTQIA+.
A questão hormonal é mais importante quando o assunto é o desenvolvimento do câncer. Além disso, Ana Thais compartilha que o histórico familiar também deve ser considerado. “Quem não hormoniza, a chance de desenvolver é igual a de um homem cis, a qual é superbaixa”. Homens cisgênero têm menos de 1% de chances de serem acometidos pela doença, segundo o estudo da University Medical Center.
A prevenção e o tratamento
A médica Ana Thais compartilha que a prevenção para mulheres trans pode ser feita depois de cinco anos fazendo a hormonioterapia. Todavia, se já houver um histórico de outras mulheres com câncer de mama na família, esse rastreio deve ser feito antes desse período.
“Fazer ultrassom de mama e a mamografia é superimportante, mas a mamografia é a partir dos 40 anos. Além disso, pode haver diferença nessa idade, pois se a pessoa começou a se hormonizar mais cedo, a prevenção também deve ser feita mais cedo, e sempre considerando o histórico da família.”
Já o tratamento é feito de maneira igual. “Lembrando que a incidência de câncer de mama em mulheres trans é menor do que em mulheres cis, mas se isso acontecer o tratamento é igual”, pontua o mastologista Carlos Ruiz.
O tratamento é feito conforme o estágio e o tamanho do câncer; se for um tumor local: cirurgia e radioterapia (além de reconstrução mamária), e se o tumor for maior: quimioterapia, hormonioterapia e terapia biológica.
Carlos também enfatiza haver uma baixa incidência de câncer de mama em mulheres trans porque elas não chegam até a idade de desenvolver a doença. “A expectativa de vidas delas é de 35 anos, então nem dá tempo de desenvolver, porque existe uma série de questões ligadas a homicídio, suicídio e as violências que essa população é exposta.”
As mulheres trans e a saúde
Ambos os médicos também destacam que a procura por exames de mamografia por parte da população transfeminina ainda é superbaixa.
“As mulheres trans mal são atendidas por ginecologistas. Elas têm baixíssimos acesso aos serviços de saúde. Elas não procuram porque também não sabem e não são atendidas. Os serviços de saúde são extremamente transfóbicos, homofóbicos, misóginos e machistas em sua grande maioria”, argumenta Ana Thais.
Carlos também expõe que ainda há poucos serviços desenvolvidos nesse sentido. “Em São Paulo , existem alguns serviços, mas eles estão em estágios iniciais de desenvolvimento, com o Hospital das Clínicas sendo possivelmente o mais antigo nesse aspecto.”
“Ainda não existe um preparo adequado para a realização desses exames, há bastante preconceito e tabus, mas já existe a procura, mas os números são muito pobres”, completa o mastologista.
Ana Thais também destaca que, embora se fale sobre o assunto hoje, há 10 anos quase não se discutia isso. “Alguns médicos estão cada vez mais preocupados com a população trans e se fala mais sobre o tema, mas as campanhas, como o Outubro Rosa, continuam direcionadas principalmente para mulheres cis”, conclui.
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