Os homens trans, até pouco tempo, eram invisibilizados na sociedade quase que por completo. A mídia e as redes sociais foram contudores de avanço porém, por outro lado, estes homens passaram a ser objeto de desejo e curiosidade do público. O influenciador Dante Olivier, de 27 anos, afirma que é corriqueiro o assédio em suas redes sociais.
"É até comum aparecerem comentários que beiram ao lugar de fetiche, mas é nas DMs [mensagens diretas no Instagram] que surgiram as abordagens mais inconvenientes", afirma ele. "Tem cara falando na lata que quer 'me comer', que quando 'me pegar' vai fazer 'isso', 'aquilo' e 'aquilo outro' comigo. Muitos são bem insistentes e extremamente 'criativos' com a descrição dos atos sexuais que querem praticar com a minha pessoa".
O influenciador ainda conta que já recebeu fotos íntimas, os famosos nudes, não solicitados. "Eu só ignoro tudo, não sei o que essas pessoas esperam que eu responda, talvez um ‘ah que legal! Vamos para o motel agora mesmo então moço, eu amei!’?, ironiza ele.
Naturalização do assédio virtual
Dante ainda faz uma crítica e diz que o termo "assédio nas redes" foi banalizado, o que atrapalha uma discussão séria sobre o assunto.
"Fiquei pensando que naturalizamos esse termo 'assédio nas redes’ como se fosse algo legal. Eu já estava pensando em me justificar e explicar que receber esse tipo de comentário não é bacana, que é assédio, e que mesmo que você ignore, se sente invadido porque eu não pedi para receber esse tipo de mensagem", afirma.
Ele conta que com a maturidade, alinhada à terapia , hoje consegue se blindar desses comentários inapropriados e por vezes criminosos, mas faz uma ressalva que nem todas as pessoas conseguem lidar com este tipo de situação: "É muito ruim pensar que estamos numa sociedade onde as pessoas acham que podem falar assim com as outras sem a menor licença".
Hiperssexualização de homens trans
No episódio "Esperamos que vocês não nos julguem (vcs vão)", do seu podcast "Coisas Quaisqueres", o influenciador refletiu sobre sua transição de gênero que coincidiu com o período em que houve um aumento do debate sobre
corpos transmasculinos
na sociedade brasileira.
"Os pouquíssimos homens trans que estavam sendo enaltecidos [na época] eram [colocados] num lugar de fetiche, de supervalorização do corpo, de interesse pelo exótico, de curiosidade. Não percebemos e acabamos absorvendo, internalizando isso", refletiu Dante. "Por muito tempo achei que esses elogios eram bons, que se as pessoas me desejassem nesse lugar era algo legal e levou um tempo para eu perceber que esse não era um lugar de afeto, mas sim, problemático".
O influenciador acredita que existam diversos culpados por essa hiperssexualização de homens trans, e apontou no podcast o machismo como um deles.
"Sinto que [a transfobia] vem dessa esfera da fetichização do corpo feminino cisgênero que é profundamente enraizada e naturalizada há séculos e se perpetua no corpo do homem trans, que também tem vulva e as pessoas não deixaram de nos enxergar assim, elas se sentem na mesma liberdade de observar e intervir nos nossos corpos."
Dante ainda denunciou que os assédios que recebe vêm da própria comunidade LGBT+ - de homens cis gays e bissexuais -, o que ele credita ao "problema da masculinidade cis".
"Tem todo tipo de fetichista, aquele que já chega falando diretamente o que quer de forma bem sebosa; aquele que quer tanto mostrar que não é transfóbico que passa a elogiar e exaltar a gente de uma maneira que fica esquisito e não natural, mas forçado; aquele que no começo tem um papo tranquilo, mas basta um pouco de ousadia e ele já quer 'o braço inteiro', deixando claro que na real só estava ali falando contigo para sanar um desejo, uma curiosidade."
Agora você pode acompanhar o iG Queer também no Telegram , então entre no nosso grupo! Siga também o perfil geral do Portal iG.