PrEP1519 existe há quatro anos e em nova fase terá PrEP sob demanda e injetável, além de permitir a participação de pessoas não binárias e homens trans
Colagem iG Queer
PrEP1519 existe há quatro anos e em nova fase terá PrEP sob demanda e injetável, além de permitir a participação de pessoas não binárias e homens trans

Uma das formas de se prevenir a infecção pelo vírus HIV é a PrEP, a Profilaxia Pré-Exposição  e ela consiste em tomar comprimidos antes da relação sexual, que permitem ao organismo estar preparado para enfrentar um possível contato com o HIV. A pessoa que utiliza a PrEP com regularidade realiza acompanhamento regular de saúde, com testagem para o vírus e outras Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST).

No Brasil, A PrEP começou a ser oferecida no Sistema Único de Saúde (SUS) no final de 2017, de forma gradual, para pessoas maiores de 18 anos e com maior chance ou histórico de contrair a infecção, como homens gays, bissexuais e outros homens que fazem sexo com homens (HSH), pessoas trans ( mulheres transgêneros , travestis, homens trans e pessoas não binárias), profissionais do sexo ou pessoas que eventualmente recebam dinheiro ou benefícios em troca de serviços sexuais e pessoas que estejam se relacionando com uma pessoa vivendo com HIV (casais sorodiferentes).

Em março de 2019, uma uniciativa de diversas entidades ligadas à saúde criou um sistema focado na aplicação da Profilaxia Pré-Exposição ao HIV para o público adolescente de 15 a 19 anos. O projeto, que recebeu o nome de PrEP1519 , foi desenvolvido em três capitais brasileiras, Salvador (BA), Belo Horizonte (MG) e São Paulo (SP), entre adolescentes que se identificassem como mulheres transexuais ou travestis ou como homens cisgêneros gays, bissexuais ou que fazem sexo com outros homens (HSH).

“A intervenção com atendimentos para adolescentes para prescrição de PrEP começou em 2019, mas antes disso já havia um trabalho sendo realizado para conhecer essa população. Durante o ano de 2018 realizamos a pesquisa formativa. Essa pesquisa permitiu que conhecêssemos a população com a qual desejávamos trabalhar”, explica Priscilla Caires, coordenadora clínica do PrEP1519 em Salvador.

O trabalho é fruto da parceria entre o Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal da Bahia (ISC/UFBA), a Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (FM-UFMG) e a Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FM-USP), com apoio do Departamento de Doenças de Condições Crônicas e Infecções Sexualmente Transmissíveis (DCCI) do Ministério da Saúde, e da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).

“O objetivo mais abrangente do PrEP1519 é contribuir com a diminuição da incidência do HIV na população alvo do estudo”, comunicam no site.

Durante a pesquisa, as pessoas que participaram realizavam avaliações clínicas, psicossocial e exames laboratoriais, e possuíam, ainda, a oportunidade de escolher pelo uso de PrEP e/ou outras medidas de prevenção do HIV e de IST.

O estudo foi finalizado com sucesso em dezembro de 2021, mas agora entrou em sua segunda fase e segue em funcionamento, mas ainda apenas nas cidades de Salvador, São Paulo e Belo Horizonte, e com o mesmo modelo de atuação.

O projeto, além de oferecer a PrEP via oral, oferta também materiais informativos (impressos ou via mídias sociais), aconselhamento sobre HIV e outras ISTs, preservativos, gel lubrificante, Profilaxia Pós-exposição ao HIV (PEP) , encaminhamento para vacinação contra hepatites virais (A e B) e papilomavírus humano (HPV) na rede municipal de saúde.

“Em 2021 encerramos a coleta de dados da fase um do projeto, mas as pessoas seguiram sendo acompanhadas. As pessoas que participaram da fase um seguem sendo acompanhadas ou pelo projeto ou pelo SUS, isso depende da realidade de cada sítio do estudo. Em Salvador, nós optamos por manter todas as pessoas em acompanhamento conosco, pois no momento existem poucos serviços disponíveis para PrEP na cidade”, afirma Caires.

Agora, entrando na segunda fase, será ofertado também a PrEP sob demanda e a injetável, considerada uma das inovações mais recentes na prevenção ao HIV. Ela é composta pelo medicamento Cabotegravir de ação prolongada (CAB-LA) e não é ofertada pelo Sistema Único de Saúde.

Além disso, seguirá oferecendo aos participantes um conjunto de ações de cuidado com a saúde sexual, como testagem para detecção de HIV, incluindo o autoteste, e testagens para outras IST (sífilis, hepatite B e C, clamídia e gonorreia).

Outra novidade é que pessoas não binárias  e homens trans poderão fazer parte do projeto, como já acontece com adolescentes homens que fazem sexo com homens (HSH), travestis e mulheres trans com idade entre 15 e 19 anos.

“Ainda é um desafio chegar às pessoas trans e trazê-las para o projeto, então temos um número bem maior de pessoas em seguimento que se declaram homens cisgênero do que de pessoas trans. Nosso desejo é de promover maior acesso à PrEP para pessoas trans e pessoas não binárias, vamos trabalhar para melhorar esse número nessa segunda fase do estudo”, enfatiza a coordenadora.

A Unitaid, agência das Nações Unidas (ONU), é financiadora do projeto, que conta ainda com apoio do Ministério da Saúde e de Secretarias de Saúde, que disponibilizam os medicamentos da PrEP, além de antibióticos, vacinas e outros insumos de prevenção do HIV e outras infecções sexualmente transmissíveis (IST).

“Nosso público é jovem, por ser justamente o público onde a taxa de detecção do HIV tem aumentado. É o grande desafio que se coloca nesse momento da epidemia de HIV no Brasil: reduzir as taxas de detecção em pessoas mais jovens, especialmente homens gays e outros homens que fazem sexo com homens e mulheres trans e travestis”, pontua Caires. 

Como ter acesso às ações do projeto PrEP1519?

Para participar é necessário ser uma pessoa de 15 a 19 anos que se identifique como mulher trans, travesti, pessoa não binária, homem cis ou trans (que seja gay, bissexual ou que faz sexo com outros homens), tenha atividade sexual, e more na região metropolitana de Salvador (BA), Belo Horizonte (MG) ou São Paulo (SP).

Preenchendo esses requisitos, há como se inscrever on-line por meio do  Messenger do projeto com a ajuda da Amanda Selfie . Após responder algumas perguntas, a pessoa pode decidir se quer agendar a primeira conversa ou deixar um contato para a equipe entrar em contato e realizar o agendamento posteriormente. Outra opção é chamar no WhatsApp ou ir direto onde o estudo acontece nas cidades de São Paulo, Belo Horizonte e Salvador.

Quem é Amanda Selfie?

Amanda Selfie é uma assistente virtual travesti usada tanto para o projeto PrEP1519 quanto para o Estudo Combina
Reprodução/Facebook - 26.04.2023
Amanda Selfie é uma assistente virtual travesti usada tanto para o projeto PrEP1519 quanto para o Estudo Combina

A Amanda Selfie é primeira assistente virtual travesti do Brasil. Ela funciona por meio do chatbot on-line no Messenger do Facebook e nasceu para ser uma das estratégias virtuais de recrutamento de pessoas na prevenção combinada com ou sem uso de PrEP, e também para ajuda-los a terem acesso e vinculação com os serviços de saúde.

Qualquer pessoa pode conversar com a Amanda para tirar dúvidas sobre sexo, pegação, prevenção, HIV, IST e também sobre cultura LGBTQIA+, gênero, orientação sexual e outros temas. A Amanda é usada para dois projetos no Brasil, o Estudo Combina e o projeto PrEP1519.

Diferentemente do PrEP1519, o Estudo Combina  é para o público em geral; ele tem a finalidade de avaliar como as pessoas usam os métodos de prevenção ao HIV disponíveis nos serviços públicos de saúde e atua em São Paulo, Ribeirão Preto, Curitiba, Porto Alegre e Fortaleza.

Benefícios do PrEP1519

Entre os benefícios para os participantes estão: vinculação com serviços de prevenção de IST; informação e aconselhamento sobre métodos de prevenção, incluindo a PrEP; diagnóstico precoce e tratamento de HIV e IST; suporte psicológico; avaliação clínica, laboratorial e comportamental; ajuda na obtenção do cartão SUS; encaminhamento para o SUS (quando necessário). Além disso, os resultados da pesquisa podem contribuir para a redução da infecção por HIV entre adolescentes.

Quem participa do PrEP1519 tem direito a receber, gratuitamente, orientação profissional e métodos para prevenção combinada do HIV e outras IST. A participação é totalmente voluntária, mas há a possibilidade de receber auxílio-transporte e/ou auxílio-alimentação como ajuda de custo para os dias em que for participar de atividades do projeto.

Além disso, é possível participar do estudo e optar pela não utilização da PrEP, pois existem duas formas de participar do projeto: a primeira inclui o uso de PrEP, já a segunda é para quem não quer usar PrEP, mas quer acessar outros métodos de prevenção e receber acompanhamento do projeto.

Quais são as diferenças da PrEP?

A PrEP (Profilaxia Pré-Exposição) é a combinação de dois medicamentos (tenofovir + entricitabina) que bloqueiam alguns “caminhos” que o HIV usa para infectar o organismo. Existem duas modalidades de PrEP indicadas e ofertadas pelo SUS, a PrEP diária e a PrEP sob demanda, ambas vias orais.

PrEP diária: consiste na tomada diária dos comprimidos, de forma contínua, indicada para qualquer pessoa acima de 18 anos (que não faça parte do estudo PrEP1519) em situação de vulnerabilidade ao HIV.

PrEP sob demanda: consiste na tomada da PrEP somente quando a pessoa tiver uma possível exposição de risco ao HIV. Deve ser utilizada com a tomada de 2 comprimidos de 2 a 24 horas antes da relação sexual, + 1 comprimido 24 horas após a dose inicial de dois comprimidos + 1 comprimido 24 horas após a segunda dose.

A PrEP sob demanda é indicada para pessoas que tenham habitualmente relação sexual com frequência menor do que duas vezes por semana. E que consigam planejar quando a relação sexual irá ocorrer. 

PrEP injetável: ainda não é ofertada no SUS, mas é considerada a mais recente inovação para prevenção do HIV, pois se mostrou mais eficaz que a PrEP oral diária na redução de risco de infecção pelo vírus com apenas seis injeções por ano.

A PrEP injetável utiliza um medicamento chamado Cabotegravir de ação prolongada (CAB-LA).  Neste caso, o indivíduo toma uma primeira injeção e, após quatro semanas, recebe uma segunda dose. A partir daí utiliza uma injeção a cada oito semanas para prevenção da infecção pelo HIV.

O novo método também ajuda a mitigar o medo de que os comprimidos sejam interpretados como “tratamento do HIV” e façam com que o usuário sofra estigma, discriminação ou violência.

Confira os endereços e demais contatos:

Salvador, Bahia:

Casarão da Diversidade – Rua do Tijolo, 8, Pelourinho, 2º andar. Atendimento de segunda à sexta-feira, das 9h às 15h. WhatsApp: (71) 99640-9030. Instagram:  @preparasalvador

Belo Horizonte, Minas Gerais:

Centro de Referência da Juventude – Rua Guaicurus, 50 – Centro. Atendimento segunda-feira, das 18h às 21h, e de terça a sexta-feira, das 14h às 17h30. WhatsApp: (31) 99726-9307. Instagram:  @nodeumatch

São Paulo, São Paulo:

WhatsApp: Cidade Tiradentes – (11) 91023-7396, Centro – (11) 96842-6535 ou Bela Vista – (11) 91023-7178

CTA Henfil: R. Líbero Badaró, 144 – Centro. Telefone: (11) 3106-5352 ou 98209-2911 (WhatsApp). Atendimento de segunda a sexta-feira, das 10h às 18h30

Clínica Social da Casa 1: R. Lettiere, 65 – Bela Vista. Dias de atendimento: segunda-feira (16 às 21h), quarta (18h às 21h), sexta (17h às 21h) e sábado (13h às 18h). Telefone: (11) 91023-7178

OSIP - Organização Social Identidade Periférica: R. Sara Kubitscheck, 165b – Cidade Tiradentes. Prédio azul ao lado do terminal Cidade Tiradentes. Dias de atendimento: segunda-feira (16 às 21h), terça (17 às 21h), quinta (18 às 20h) e sábado (13 às 18h). Telefone: (11) 91023-7396. Instagram:  @vcprepsp

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** Julio Cesar Ferreira é estudante de Jornalismo na PUC-SP. Venceu o 13.º Prêmio Jovem Jornalista Fernando Pacheco Jordão com a pauta “Brasil sob a fumaça da desinformação”. Em seus interesses estão Diretos Humanos, Cultura, Moda, Política, Cultura Pop e Entretenimento. Enquanto estagiário no iG, já passou pelas editorias de Último Segundo/Saúde, Delas/Receitas, e atualmente está em Queer/Pet/Turismo.

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