Wendy Carlos em uma foto de 2007
Reprodução/ Site da Wendy Carlos - 08.02.2023
Wendy Carlos em uma foto de 2007

Embora Kim Petras seja certamente a primeira em muitos aspectos,  na verdade, foi Wendy Carlos, uma mulher trans e pioneira da música eletrônica, sendo a primeira a usar sintetizadores, na década de 1970, que primeiro conquistou uma  vitória do Grammy para a comunidade.

Nascida em 1939, a musicista estudou música e física na Brown University de 1958 a 1962, depois se formou na Columbia University com mestrado em composição musical antes de conhecer Robert Moog — cuja invenção do sintetizador Moog em 1964 mudou o curso de sua vida.

A musicista ganhou três Grammy’s em 1970 por seu álbum inovador de 1968 ‘Switched On Bach’, no qual uma compilação das obras de Bach foi executada no instrumento inovador de Moog.

O álbum eletrônico lançou a invenção musical para o mainstream, e logo foi adotado pelos Rolling Stones, Beatles e The Doors, entre muitos outros.

Wendy Carlos até desenvolveu suas adaptações ao lado de Moog dentro do movimento do sintetizador, aprimorando os bancos de filtros do instrumento, controles deslizantes de afinação e até um teclado sensível ao toque.

Paralelamente a essa revolução musical, Carlos passava por uma transformação própria: ao longo da década, ela passou por sua transição e se afirmou para o mundo.

Assim como muitos membros da comunidade LGBTQ+, Carlos se assumiu pela primeira vez para amigos próximos e familiares em 1968. Aos olhos do público, no entanto, ela não tinha se revelado, colando até costeletas no rosto para dar entrevistas.

Isso também significava que ela ainda não havia comunicado abertamente ser uma mulher trans quando recebeu sua prestigiosa vitória no Grammy.

Em 1979, Carlos concedeu uma entrevista exclusiva à revista Playboy, refletindo sobre sua identidade como mulher trans, sua relação com a música e muito mais.

“Lembro-me de estar convencida de que era uma garotinha, sem saber por que meus pais não viam isso com clareza”, disse ela à revista. “Não entendia porque insistiam em me tratar como um menino”.

Embora Carlos tenha enfrentado muitas dificuldades pessoais, ela continuou a prosperar em sua carreira, contribuindo para algumas das trilhas sonoras mais icônicas da segunda metade do século, como o filme ‘Laranja Mecânica’ e ‘O Iluminado’.

Foi nessa época que Carlos começou a passar por sua transição física, sem o conhecimento de Stanley Kubrick. A artista viria a brincar que o diretor estava tão envolvido no seu filme que nem notou nada de diferente em Carlos, e que mesmo que ela aparecesse para trabalhar “totalmente nua”, ele teria simplesmente perguntado “se ela estava com frio".

Carlos também explicou que ela encontrou um livro do Dr. Harry Benjamin chamado ‘The Transsexual Phenomenon’, que a ajudou a lidar com os seus pensamentos suicidas.

“Isso me deu um pouco mais de coragem para me aceitar e parar de reprimir meus sentimentos”, disse ela na época. “Isso me forneceu uma explicação para todos os sentimentos que tive desde minhas primeiras memórias”.

Apesar de suas proezas musicais, sua identidade de gênero infelizmente acabou impactando sua carreira, desde ser forçada a mascarar seu verdadeiro eu até ser nomeada como morta e explorada na mídia.

No entanto, em entrevistas, desde a Playboy, fica evidente que Carlos se preocupa infinitamente mais em compartilhar seu conhecimento da indústria da música e suas próprias inovações do que discutir sua identidade.

Além disso, muitos de seus trabalhos antes de saírem, precisavam ser reimpressos posteriormente para refletir seu verdadeiro nome. E, infelizmente, ela lentamente desapareceu como destaque ao longo das décadas

O trabalho de Carlos também é notoriamente difícil de ser consumido digitalmente, com apenas algumas partes de suas várias trilhas sonoras de filmes disponíveis no Spotify.

Agora com oitenta anos, Carlos ressurgiu lentamente aos olhos do público, documentando sua vida e sua verdadeira paixão: a música, em  seu site. Mais recentemente, ela foi imortalizada em uma biografia de sua vida por Amanda Sewell, ‘Wendy Carlos: A Biography’. 

Seu site oferece uma visão rara de sua vida fascinante, com inúmeras entrevistas aprofundadas revelando sua jornada musical pioneira — dentro da música eletrônica e na comunidade trans. 

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