Durante as comemorações do Holocausto deste ano em Berlim, que prestam homenagens às vítimas da Alemanha Nazista (1933-1945), pela primeira vez o parlamento alemão fez menção às pessoas mortas que faziam parte da comunidade LGBTQIAPN+. O governo também reconheceu que houveram décadas de perseguição pós-Segunda Guerra Mundial contra pessoas queer na Alemanha.
Há mais de 20 anos, ativistas trabalhavam para que as vítimas LGBT+ fossem incluidas nas citações da cerimônia. A presidente da câmara baixa do parlamento (conhecido com o Reichstag), Bärbel Bas, reconheceu que os sobreviventes queer do Terceiro Reich tiveram que esperar muito tempo pela saudação.
“Este grupo é importante para mim porque ainda sofre discriminação e hostilidade”, disse Bas à agência de notícias Agence France-Presse.
Horror e tortura
Homens gays presos foram assassinados, castrados ou usados em experimentos médicos torturantes em campos de concentração. Nesses campos, milhares de lésbicas, pessoas transgêneros e profissionais do sexo também foram detidos em condições brutais, além de serem rotulados de “degenerados”.
“Os destinos mais duros foram sofridos por muitos milhares de mulheres e homens que foram deportados para campos de concentração como resultado de sua sexualidade. Às vezes sob falsos pretextos. Eles se encontravam no degrau mais baixo da chamada ‘hierarquia do campo’ e eram expostos à violência constante sem absolutamente nenhuma proteção”, disse Bas na câmara do Reichstag para uma audiência que incluía o chanceler alemão Olaf Scholz e seu gabinete.
“Lembramos de todas as pessoas que foram perseguidas roubadas, humilhadas, marginalizadas, torturadas e assassinadas pelos nacional-socialistas [...] Para que nossa sociedade se lembre, é importante contarmos as histórias de todas as pessoas perseguidas, para destacar suas injustiças e reconhecer seu sofrimento”, completou a presidente.
Desde 1996, a Alemanha celebra o Dia Internacional da Memória do Holocausto com cerimônias solenes no Bundestag e eventos em todo o país, lembrando os mais de seis milhões de judeus mortos sob Adolf Hitler.
Alemanha era um lugar seguro para pessoas LGBT+ antes do nazismo
Como as autoridades alemãs raramente aplicavam leis envolvendo a homossexualidade antes da ascensão dos nazistas, as comunidades LGBTQ+ prosperaram em lugares como Berlim e outras cidades alemãs. Contudo, sexo entre homens era proibido desde 1871 nas regiões.
A Alemanha endureceu suas leis sobre o sexo entre homens em 1935, durante o período nazista, com condenação de dez anos de trabalhos forçados. Estima-se que entre 6.000 e 10.000, dos cerca de 60.000 homens presos por violações desta lei, foram enviados para campos de concentração e forçados a usar uniformes adornados com triângulo rosa.
A presidente da câmara baixa do parlamento, Bärbel Bas, disse que era uma “desgraça” que na Alemanha, mesmo após a Segunda Guerra Mundial, as pessoas LGBTQ+ ainda enfrentassem perseguição. A Alemanha Oriental revogou sua proibição de sexo entre homens em 1968, enquanto a Alemanha Ocidental não revogou totalmente a proibição até 1994.
Em 2017, parlamentares alemães votaram para anular as condenações de mais de 50.000 gays condenados por homossexualidade e pagar-lhes reparações. “No momento em que houve reparações, muitas (vítimas) não estavam mais vivas”, disse Bas à AFP.
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