Bella Prudencio é uma mulher bissexual, autora do livro “Camille & Camila”
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Bella Prudencio é uma mulher bissexual, autora do livro “Camille & Camila”


Historicamente, as histórias e vivências lésbicas, pansexuais e bissexuais foram apagadas, bem como o direito das mulheres de viverem a própria sexualidade e terem a vida amorosa vista de forma natural . Com o intuito de desmistificar essa questão, a cultura produz conteúdos representativos que são fundamentais para fomentar debates e fornecer às próprias pessoas  LGBTQIA+ algo em que se espelhar e se reconfortar diante de exclusões recorrentes no cotidiano.

A escritora Bella Prudencio é autora do livro “Camille & Camila” . A história narra o romance entre duas mulheres de personalidades marcantes e resgata tópicos muito importantes, como cuidados com saúde mental, enfrentamento do preconceito e o dilema da busca de aceitação, tanto interna quanto externa. Bella é uma mulher bissexual e revisita as próprias experiências por meio do livro. Ao iG Queer, a autora comentou sobre a sexualização – e paradoxalmente invisibilização – dos  relacionamentos sáficos (entre duas mulheres). 

iG Queer: Como mulher bissexual, você teve referências literárias e artísticas de maneira geral com relação às pessoas sáficas durante a infância e adolescência? Como foi esse processo?

Camille & Camila
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Capa do livro "Camille & Camila", de Bella Prudencio

Bella Prudencio: Minhas referências sempre foram péssimas. Eu amava T.a.t.u. na infância e descobrir que elas eram falsas sáficas na vida adulta. Foi a mentira mais dolorosa da minha vida. Depois disso, quando eu tinha dezesseis anos, assisti ao filme “Azul É A Cor Mais Quente”. Me apaixonei pela trama e me inspirei na cor diferente de cabelo de uma das protagonistas para fazer a Camila do meu livro. Mas depois de descobrir a série de abusos durante o filme, fiquei profundamente decepcionada. Aos 13 anos, eu achei um livro chamado “Amor Entre Meninas” na livraria, ele explicava várias das minhas dúvidas sobre minha sexualidade. Li escondido durante muito tempo, nunca cheguei a comprar. Só fui realmente consumir conteúdo sáfico depois, na vida adulta.

iG Queer: A seu ver, quais são os principais estereótipos acerca de relações sáficas?

Bella Prudencio: A relação entre mulheres é cercada pelo fetichismo do imaginário masculino (entre os estereótipos que rondam as pessoas heterossexuais) e da heteronormalidade (dentro da própria comunidade LBGTQIA+). É bem comum, por exemplo, meninas desfem [que não apresentam características e estereótipos socialmente lidos como “femininos”] não ficarem com meninas do mesmo estilo. Acontece, mas na mídia, no Instagram e no TikTok, não vemos isso com frequência.

iG Queer: Na sua concepção, o que leva tantas pessoas a sexualizarem mulheres lésbicas, bissexuaise e pansexuais?

Bella Prudencio: A pornografia tem uma mão pesada nisso. Mulheres são comumente vistas como objeto sexual para homens, isso é fato, e são poucos os que realmente nos enxergam em pé de igualdade. Pergunte por exemplo para um homem cis-hétero quantas mulheres ele admira que não são parentes dele. Acho que muitos ficariam sem resposta.

iG Queer: Como a falta de representatividade de relacionamentos sáficos contribui para o aumento dos estereótipos e essa constante sexualização?

Bella Prudencio: Quando quis publicar “Camille & Camila” senti muita falta de outros romances sáficos, no entanto romances aquileanos (entre homens) existiam aos montes. Essa foi minha maior bandeira quando busquei. Há também uma falta de romances lésbicos no mainstream também, e isso contribui com a ideia que a sociedade em geral tem sobre mulheres sáficas.

iG Queer: Enquanto escritora, como você descreveria a importância de ter mais livros com relações sáficas sendo representadas de maneira real?

Bella Prudencio: Uma coisa que eu quis trazer com “Camille & Camila” foi a sensação de cotidiano, algo fácil de ser identificado na rotina. Sinto muita falta disso, de romances com cara de coisas palpáveis, de sentimentos reais, rotineiros. Sinto falta dessa sensação de algo que vai além do extraordinário.

iG Queer: A seu ver, como está o cenário da literatura brasileira com relação à representatividade sáfica? O que precisa melhorar?

Bella Prudencio: Infelizmente, em sua maioria, é tomado por autoras internacionais. Tenho seis livros sáficos de ficção na minha estante, mas deles dois são de autoras brasileiras. Isso é frustrante. Elayne Baeta, em “Oxe Baby” e “O Amor Não É Óbvio”, e Clara Alves, em “Conectadas”, fazem um trabalho grandioso, mas falta o foco das grandes editoras nas autoras que escrevem histórias sáficas. Eu mesma passei quatro anos tentando publicar “Camille & Camila”, e quando o fiz foi em uma editora independente. Atualmente tenho um novo projeto de livro sáfico. Estou apenas esperando minha oportunidade de ouro.

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