Brasil registra 316 mortes de LGBTQIA+ em 2021
Rosemary Ketchum/Pexels
Brasil registra 316 mortes de LGBTQIA+ em 2021

No ano passado, o Brasil teve ao menos 316 mortes de forma violenta de pessoas LGBTQIA+ , um aumento de 33,3% em relação ao ano anterior, segundo o levantamento do Observatório de Mortes e Violências contra LGBTI+, divulgado nesta quarta-feira e elaborado a partir de uma parceria entre a Acontece Arte e Política LGBTI+, a Associação Nacional de Travestis e Transexuais (ANTRA) e a Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Intersexos (ABGLT). Entre os crimes recorrentes no ano passado estão homicídios (262 casos, representando 82,91% do total) e latrocínios (23, o que corresponde a 7,28% dos casos). Isso significa dizer que cerca de cinco pessoas LGBTQIA+ foram assassinadas no país a cada semana.

O dossiê é baseado em levantamento de notícias encontradas em jornais e portais eletrônicos, por causa das lacunas de estatísticas oficiais sobre esses crimes. A população de homens gays foi a mais vitimada, com 45,89% dos óbitos. O segundo maior grupo foi de travestis e mulheres trans (44,62%). Lésbicas somam 3,8% das vítimas, enquanto homens trans são 2,53% dos casos. Pessoas bissexuais e outro segmento somaram sete mortes (1,9%).

O suicídio foi identificado como a segunda maior causa de morte de LGBTQIA+, com 26 casos registrados. De acordo com a pesquisa, o número “evidencia possíveis danos causados pela LGBTIfobia estrutural, que pode levar a um intenso sofrimento ou mesmo à retirada da própria vida por pessoas em situação de vulnerabilidade social”.

Segundo o coordenador do observatório, Alexandre Bogas, que é diretor executivo da Acontece Arte e Política LGBTI+, o que pode explicar o aumento de casos de violência extrema é o afrouxamento do isolamento social após a vacinação e o crescimento dos ideais conservadores na sociedade.

"Com o recuo da pandemia, as pessoas começaram a sair e ficarem mais expostas ao preconceito. Com a polarização de ideias conservadoras, muitas pessoas se sentem livres para violentar pessoas LGBTQIA+. A ausência de políticas públicas também ajuda no número crescente de casos e na sua subnotificação, pois infelizmente não conseguimos captar todas as mortes pelo país", diz Bogas.

Apesar da idade das vítimas variarem de 13 a 67 anos, a maioria das mortes ocorreu com jovens entre 20 e 29 anos. Em relação à raça, 127 dos casos ocorreram com pessoas brancas e 112 com pretos e pardos.

O Nordeste e o Sudeste apresentaram 116 e 103 mortes violentas, respectivamente. As demais regiões tiveram em torno de 30 mortes cada uma. Entre os estados que apresentaram maior número de casos estão São Paulo (42), Bahia (30), Minas Gerais (27) e Rio de Janeiro (26), justamente os quatro estados mais populosos do Brasil.

"Entre 2000 e 2021, 5.362 pessoas morreram em função do preconceito e da intolerância de parte da população e do descaso das autoridades", afirma Bogas.

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