O influenciador, policial civil e ativista transmasculino Paulo Vaz morreu na última segunda-feira (14) e causou uma onda de comoção entre a comunidade LGBTQIA+ na internet. A morte dele é tratada como suicídio. Também conhecido como Popó, Paulo era famoso por falar sobre a vida, principalmente as experiências de ser uma pessoa trans, de forma descontraída nas redes sociais e por ser um dos principais ativistas transmasculinos do Brasil atualmente.
A confirmação da morte de Paulo foi dada pela Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra). O ativista era natural de Minas Gerais, tinha 37 anos e foi casado com Pedro HMC, criador do canal LGBT Põe na Roda – que tem conteúdo do qual o próprio Popó fez parte. Além de ativista e produtor de conteúdo, era modelo.
Paulo tirou a própria vida após receber diversos ataques transfóbicos na internet após um vídeo íntimo do marido ser publicado no Instagram com um ator pornô – ambos tinham um relacionamento aberto. Diversas organizações LGBTQIA+, famosos e ativistas lamentaram o falecimento de Popó e ressaltaram a importância do trabalho do ativista. Homens trans e pessoas transmasculinas também reforçaram o quão relevante foi a caminhada de Paulo para que pudessem entender a própria transgeneridade.
Na nota de pesar, a Antra descreveu como "uma alma doce", "um coração lindo demais" e uma pessoa "querida e amada por todos a sua volta". "Ativista engajado e dedicado à luta trans, sempre fez questão de construir pontes, atuar no enfrentamento da transfobia e em defesa das pessoas transmasculinas", reforçou a associação.
“Para muitos de nós, homens trans, o Popó foi uma das primeiras inspirações no processo de descobrimento. Lembro que o conheci no ensino médio depois de ver um vídeo do Põe na Roda, achei ele sensacional. O Popó é símbolo de luta e vai ser lembrado para sempre por todes. Será sempre um cara que abriu muitas portas para o autoconhecimento de muitos homens trans”, escreveu o internauta esposiito no Instagram. "Infelizmente perdemos Paulo. Que ele encontre paz onde estiver. Devastador", escreveu Stefan Costa, ativista e criador de conteúdo.
“Paulo era muito querido, era meu fã, sempre me tratava com carinho quando trocávamos ideia. Muito triste essa notícia”, lamentou Liniker. “Estou devastada. Ele era muito querido e é uma tristeza que tenha nos deixado. Desejo muita força e solidariedade”, escreveu Erika Hilton.
“Meu querido Popó, você foi mais uma vítima da maldade humana. Dessa sociedade nojenta. Espero que cada um possa sofrer as consequências. [...] Haters, vocês são o câncer deste mundo. Vocês ceifaram com a crueldade de vocês a vida de mais uma pessoa, uma pessoa digna, cheia de amor e caráter”, disse Ariadna Arantes.
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“Paulo era uma luz potente para todos que o seguiam, o tinham por perto. Era um prazer acompanhá-lo e, mais que isso, estar ao lado dele nessa nossa luta diária. [...] É muito doloroso escrever isso sabendo que poderia ter sido diferente, que ele ainda poderia estar aqui nos trazendo sua luz, sabedoria e vivências diárias. É imensurável a dor de pensar no quão curta foi a vida de Paulo”, afirmou Hello Bielo, alertando sobre a expectativa de vida de uma pessoa trans no Brasil ser de 35 anos.
Muitos internautas aproveitaram para criticar de forma veemente cyberbullying e os ataques transfóbicos sofridos por Paulo, que podem ter causado gatilhos que motivaram a causa da morte do ativista.
“A transfobia nos mata, nos executa, nos adoece e nos suicida. Você não tá sozinhe, transmasculine, mesmo que pareça quando tudo está desmoronando, mesmo que a cisgeneridade e o cistema nos façam nos perder de nós mesmos. É desesperador o quanto somos suicidados, o quanto a transfobia diária que nossos corpos enfrentam nos adoecem, mas a gente não tá sozinhe“, afirmou o jornalista e ativista transmasculino Caê Vasconcelos.
“A internet nunca foi um ambiente seguro para pessoas trans. Nossa saúde mental sempre foi alvo do ódio de vocês. Hoje perdemos mais um dos nossos e essa responsabilidade é sua cara pessoa cis”, escreveu Giovanna Heliodoro.
“Nós, pessoas trans e travestis, precisamos andar com um colete à prova de balas o tempo todo. Bala a pior arma que existe: o preconceito. E não podemos ficar sem ele nem no lugar que era para ser nosso refúgio, a comunidade, pois muitas das vezes são os primeiros a nos matar”, ressaltou Pepita.
“Não consigo, não vou e nem quero especular o que levou a morte do Paulo Vaz. Só consigo sentir a dor de saber que mais um amigo viu na morte a solução para a angústia que sentia. E Deus sabe como eu o entendo. É revolta e uma profunda tristeza que só quem vive a transfobia sabe”, afirmou também Bryanna Nasck.
"Até quando vamos continuar nessa falta de união, dividindo ou até mesmo comparando forças, reafirmando masculinidade, desprezando os que estão começando a se entender? Temos apenas UM único homem trans na política para falar por nós e nem assim temos representatividade, nem assim temos voz. Passou da hora de nos acolhermos, de curarmos nossas feridas e irmos para a batalha juntos fora desta caverna que nos enfiaram e que acabamos desenvolvendo medo de sair", afirmou o internauta Leonardo Guedes.