Linn da Quebrada durante a festa do líder Lucas esta semana
Reprodução/Globo
Linn da Quebrada durante a festa do líder Lucas esta semana

Mais um episódio de transfobia dentro da casa mais vigiada do Brasil mobilizou as redes sociais. Nesta quinta-feira (24), após a festa do líder da semana, Lucas, Linn da Quebrada utilizou o Raio-X para desabafar sobre uma ocasião específica envolvendo o próprio líder durante a madrugada. Em meio à festa, ele tentou interagir com Lina, como é conhecida dentro da casa, e Natália, dizendo “vêm dançar vocês dois”. A cantora logo revidou com “vocês dois?”. Essa não é a primeira vez que algum participante chama Linn pelos pronomes errados.

Logo após a entrada da sister na casa, a participante Eslovênia chegou a chamar Lina de “ele” . Em várias ocasiões a artista falou abertamente sobre as próprias experiências como mulher trans. “No pós-festa vêm várias sensações e eu vou tentar ser bem objetiva com o que eu estou sentindo porque eu já acordei sentindo isso. Ontem eu tive uma situação com o Lucas que, inclusive, acabou se desdobrando um pouco com algumas outras pessoas em relação à troca do pronome que eu quero ser tratada”, disse Lina a cantora. “E devo que me chame mais atenção porque já estamos na metade do programa e a cada dia que passa eu sinto que é isso. Por quanto tempo mais eu vou amenizar o que eu estou sentindo para tornar mais leve para o outro?”, desabafou. 

Durante a festa, a participante Jessi comentou sobre o episódio com Lucas, que foi se desculpar com Linn. “Pelo amor de Deus, me desculpa. Você sabe que eu amo vocês”, disse ele. A cantora rebateu: “Não dá mais para errar isso no meio do programa”.

Ainda durante a madrugada, Lina chegou a conversar com Eslovênia sobre o ocorrido e desabafou “você está tentando aliviar a dor dele”. A estudante de marketing então cobriu a boca da sister com a mão, mas Lina afastou a palma: “Não tapa a minha boca!”. “Jamais”, respondeu Eslovênia. “E quando vão me acolher? Quando vão me acolher? Quando que minha dor vai valer alguma coisa? Quando que cada vez que me matam vai valer alguma coisa? Porque cada vez que fazem isso é como se ignorassem a minha existência. Você sabe o que é isso? Eu sei”, declarou Lina. 

O episódio em si e os respectivos desdobramentos repercutiram bastante nas redes. Não é de hoje que se fala sobre a importância de respeitar os nomes e pronomes das pessoas trans, mesmo que seja um assunto interpretado como banal do ponto de vista cisgênero. Patrícia Borges da Silva, mulher trans e assessora parlamentar, explica que errar o pronome de uma pessoa transgênero é o ponto de partida para várias outras violências experimentadas ao longo da vida por essa população. 

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“As pessoas trans sofrem várias violências que começam no pronome. Para uma pessoa cisgênero, o nome não é algo importante porque lhe foi dado, mas para nós, pessoas trans, é a nossa origem, é quem somos e como nos colocamos em sociedade. Lutamos por esse direito, então quando alguém erra é o mesmo que errar toda a nossa luta e nossa existência, nos descapacitar é humilhar. Automaticamente, a sociedade se move para negar quem somos. Se a pessoa não sabe, pergunta”, declara. 

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Além disso, ela também comenta sobre o caso específico de Linn e como a transfobia enraizada torna-se evidente devido às circunstância dela dentro do reality. “Nesse caso em específico, a Linn tatuou ‘ela’ na testa, então é uma transfobia estrutural, uma cultura que quer nos matar e exterminar. Isso precisa ser mudado e dialogado. A sociedade tem que se preparar para as diferentes ‘mulheridades’ que somos. O pronome para uma pessoa trans é tudo”, diz. 

Sobre a angústia sentida por Lina após o episódio, a também mulher trans e assessora parlamentar Amanda Paschoal explica quais são os sentimentos que atingem uma pessoa transgênero quando ela tem os pronomes desrespeitados e negligenciados.

“É um sentimento de desrespeito e impotência”, começa. “É como uma invalidação da sua identidade. Isso tem muita relação com como a pessoa está no momento, pois geralmente é algo que acontece repetidas vezes. Em vista disso, é um desgaste que vai estar sempre tocando na mesma ferida, como no caso da Lina no BBB. As pessoas desrespeitam usando uma justificativa que não cabe, e o que fica é o resgate desse sofrimento”, comenta. 

O ator Tarso Brant, homem trans, ressalta o recurso da retificação – que permite que pessoas trans alterem nome e gênero na certidão de nascimento – como um mecanismo por meio do qual essa parcela da população pode finalmente ser reconhecida da maneira correta, pelo menos do ponto de vista mais burocrático. Em vista disso, ele reafirma a importância que esses nomes e pronomes sejam devidamente atendidos. 

“Hoje temos a adequação do nome, e é uma das coisas que entendemos como evolução do nosso comportamento enquanto seres humanos e a descoberta de novas identidades que podemos ter. Essa é a importância de identificar alguém pelo nome: é como ela se vê. Se você chamá-la de outra coisa que não seja a forma como ela se enxerga, é o mesmo que não estar falando com ela”, pontua.

** Estagiário das editorias Queer, Canal do Pet e Turismo desde 2021, Miguel Trombini já passou pelas editorias Delas e Receitas. Produz majoritariamente para a página LGBTQIAP+ do iG e utiliza um pouco da experiência como homem trans e gay para oferecer o conteúdo mais completo possível acerca da diversidade sexual e de gênero.

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