Os 100 anos da Semana de Arte Moderna: Mário de Andrade era bissexual?

Veja os debates e conclusões acerca da sexualidade de um dos fundadores do movimento modernista no Brasil

Mário de Andrade, autor de 'Macunaíma'
Foto: Reprodução
Mário de Andrade, autor de 'Macunaíma'


Neste dia 11 de fevereiro de 2022 completa-se 100 anos do evento feito no Theatro Municipal de São Paulo em 1922 que recebeu a Semana de Arte Moderna, símbolo de uma série de renovações na arte brasileira que causou polêmica desde a abertura e continua perpetuando uma das principais referências culturais do século 20. O episódio em si foi influenciado pelas vanguardas europeias, tanto na linguagem plástica quanto na motivação revolucionária.

Questões políticas nacionais possibilitaram que as transformações ocorressem. Nas obras, ficava evidente a desigualdade social e as violências que tanto incomodavam os artistas na época – além de serem problemáticas que perpetuam até hoje. Todo esse cenário foi discutido por meio da estética e das obras. Pode-se definir como grupo organizador do evento os artistas Oswald de Andrade, Anita Malfatti, Ronald de Carvalho, Graça Aranha, Di Cavalcanti, Paulo Prado e Mário de Andrade. 

Este último, Mário Raul de Morais Andrade, nascido em 9 de outubro de 1893, em São Paulo, foi um poeta, romancista, musicólogo, historiador de arte, fotógrafo e crítico brasileiro. Um dos fundadores do modernismo no Brasil, praticamente criou a poesia moderna com “Pauliceia Desvairada”, em 1922. Teve grande influência na literatura, e como estudioso foi pioneiro na área da etnomusicologia – que estuda a música de diversos grupos étnicos e comunidades culturais ao redor do mundo. 

Por 20 anos, Andrade foi a figura central do movimento de vanguarda de São Paulo. Além de “Pauliceia Desvairada”, Mário de Andrade também criou outras obras que ficaram marcadas na literatura brasileira, como “Amor, Verbo Intransitivo" e o famoso "Macunaíma", publicado em 1928 e considerado um dos maiores romances do modernismo. Essa obra é uma rapsódia sobre a formação do Brasil, na qual vários elementos nacionais cruzam-se em uma narrativa que conta a história de Macunaíma, o herói sem caráter.

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Um ponto alto sobre a história de Mário de Andrade são os debates acerca da sexualidade do artista. Mesmo que ele nunca tenha se assumido explicitamente e não existam evidências acerca da vida sexual dele, muitos amigos dele relataram após a sua morte – em 25 de fevereiro de 1945 – que ele decerto se interessava por homens.

Em 2015, o Instituto de Estudos Brasileiros (IEB-USP) liberou cartas do correspondente do escritor para serem consultadas e analisadas. Um dos primeiros a ter acesso a isso foi o escritor Jason Tércio; desde o final dos anos 90, ele planejava elaborar a biografia de Mário de Andrade, que resultou no livro "Em busca da alma brasileira – Biografia de Mário de Andrade”, publicado pela editora Sextante. 

De acordo com a biografia desenvolvida com ajuda das correspondências trocadas, pode-se dizer que Mário era bissexual. Ele se envolveu com homens e mulheres ao longo da vida. Ainda na escola, Mário apaixonou-se por Maria da Glória, filha de um amigo da família, e também se relacionou com “H” – Jason Tércio oculta o nome na biografia porque o homem em questão tornaria-se um homem famoso no futuro.

A paixão mais marcante e conhecida de Mário de Andrade foi a pintora Anita Malfatti. A exposição de telas dela em 1917 encantou o escritor, que chamou de “expressionismo tropical”. O casal formou um núcleo que posteriormente criaria a Semana de Arte Moderna, chamado “Grupo dos Cinco”.

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** Estagiário das editorias Queer, Canal do Pet e Turismo desde 2021, Miguel Trombini já passou pelas editorias Delas e Receitas. Produz majoritariamente para a página LGBTQIAP+ do iG e utiliza um pouco da experiência como homem trans e gay para oferecer o conteúdo mais completo possível acerca da diversidade sexual e de gênero.