A morte do cantor e líder do Legião Urbana completa 25 anos nesta segunda-feira (11).
Essa é uma das definições mais usadas para se falar em Renato Russo, seja por admiradores ou pela crítica. O cantor se preocupava em falar sobre assuntos políticos e sociais atemporais; entre eles, a sexualidade. Renato se assumiu bissexual em 1990, mas deu indícios sobre sua orientação sexual por muito tempo, seja para familiares ou em composições.
Vamos começar pela edição 116 da Revista Bizz, publicada em 1995, em que Renato foi capa. Lá foi a primeira vez em que ele verbalizou sua atração por homens e mulheres. “Eu estava precisando me assumir havia muito tempo. Mas fica aquela coisa, filho de católico, ‘você é doente’ etc. Sei que sou assim desde os 3, 4 anos”, disse o cantor.
Muito antes de se assumir, a canção lançada em 1985 no álbum de estreia de Legião Urbana retrata um romance proibido entre dois homens. Renato posiciona seu eu lírico em um quartel com outro soldado, assim como ele, e aborda sentimentos de desejo mesclados com medo e culpa: "Não sei armar o que eu senti / Não sei dizer que vi você ali / Quem vai saber o que você sentiu?"
Um ano depois, no álbum “Dois”, voltou a falar sobre um relacionamento proibido. O cantor canta momentos de afago e carinho que são estilhaçados logo em seguida, mais uma vez, pelo medo: “Faço nosso o meu segredo mais sincero / E desafio o instinto dissonante / A insegurança não me ataca quando erro”
"Eu gosto de meninos e meninas", canta Renato. A canção apresenta de forma mais latente o desejo do cantor de expressar sua orientação sexual; além de abordar a sensação de deslocamento que sentia: “Quero me encontrar, mas não sei onde estou /Vem comigo procurar algum lugar mais calmo / Longe dessa confusão e dessa gente que não se respeita / Tenho quase certeza que eu não sou daqui”.
Dona Carminha Manfredini, mãe de Renato, já descreveu anteriormente o momento exato em que Renato se assumiu para ela. Carminha conta que, no fim dos anos 1980, o cantor pediu para conversar. “Pensei que ele finalmente anunciaria seu noivado com uma namorada que ele tinha há muito tempo, mas ele afirmou: ‘Não vou me casar com ela, vou me assumir. Quero me relacionar com homens e mulheres’.”
Em entrevista à Agência Brasil, Carmen Teresa, irmã de Renato, diz que ele também se assumiu para ela. “Meu irmão era, na verdade, bissexual. Essa impressão foi inclusive corroborada pelo psiquiatra dele, de que o Renato queria, até do ponto de vista artístico, levantar a bandeira em favor da liberdade de as pessoas serem o que quiserem ser”, contou.
Na mesma entrevista, Marcelo Beré, amigo de Renato, diz que ele foi além e já disse ser pansexual, em uma época em que o termo sequer existia. “Renato sempre falava que era pansexual, que transava com a natureza, com o rio, com homem e mulher ou com tudo que despertasse nele o tesão pela vida e por estar aqui e agora. Nunca tive problema nenhum com as opções que ele fez da vida. Acho que fazia bem a ele”, afirmou o amigo.
Em uma entrevista em vídeo, Renato fala sobre a homossexualidade no Brasil e questiona o local dos bissexuais. “A gente tem uma sexualidade tão bela, tão absurdamente louca. Todo mundo transa com todo mundo. Então como que a gente vai separar essa questão de ‘eu sou gay’, ‘eu sou hétero’? Onde que tá a linha que define isso? Nós somos um espectro muito grande”, pensou o cantor.