O ativista Lazarus Rise estudou justiça criminal forense por alguns anos, o que o levou a investigar antigos casos de sua região. Entre eles estava um caso de décadas, envolvendo uma mulher desaparecida, que as autoridades chamaram de Julie Doe (nome dado a pessoas sem identidade conhecida, o equivalente a “Maria Ninguém”) e acreditam ter sido morta em 1988, na Flórida. Os investigadores originalmente pensavam que ela era cisgênero e só souberam que ela era uma pessoa trans após a realização de testes de DNA em 2015, o que fez com que o caso mudasse de cenário.
Lazarus não conseguiu concluir a graduação, no entanto, ele ainda queria utilizar as habilidades que tinha aprendido. O caso de Julie Doe ficou com ele, e o fez pensar quantas outras vítimas de assassinatos, potencialmente trans, tinham sido mal interpretadas, quando sua identidade de gênero pode ter sido a razão dos assassinatos.
"Quantas outras pessoas estão lá fora assim - não identificadas - que poderiam ter sido trans, mas você nunca sabe disso porque elas não podem mais falar por si mesmas", disse em entrevista à KUSA. "Então, isso realmente começou a me fazer pensar em todas as pessoas que desapareceram e não foram identificadas que ninguém jamais notou ou se importou com isso".
Lazarus abriu uma página no Facebook em abril de 2020 e examina uma série de casos, incluindo os que já estão fechados e engavetados há décadas, além dos que ainda estão sob investigação.
Recentemente, a página destacou os casos de pessoas desaparecidas de mulheres indígenas de 25 anos, Aubrey Dameron, e James “Baby” Bernard Dawson, ambos trans. E aponta: enquanto a página cobre casos LGBT+, ela tem atenção especialmente "forte em indivíduos desaparecidos transgêneros/não-conformes de gênero".
"Há tanta falta de representação, especialmente com pessoas queer, negras e pardas", disse Lazarus, que é trans à 9News. "Ninguém realmente se importa, e é uma injustiça enorme. Portanto, se eu pudesse fazer qualquer coisa para apenas expor meus artigos e fazer com que as pessoas leiam e falem sobre isso, então eu estou fazendo meu trabalho".
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Ao menos 50 pessoas trans, não-binárias e não-conformes de gênero, a maioria delas negras, morreram vítimas da violência nos Estados Unidos este ano, fazendo de 2021 o ano com maior mortalidade registrada para as pessoas trans, de acordo com a Campanha de Direitos Humanos.
Uma questão global
A violência transfóbica fatal é monitorada pelo TMMP (sigla em inglês para Projeto de Monitoramento de Assassinatos Trans). Este ano, o projeto registrou 375 mortes de pessoas trans e de pessoas com diversidade de gênero, um recorde. Isto representa mais de uma pessoa morta por dia e é um aumento de 7%, em comparação a 2020.
Como as pessoas trans são muitas vezes mal interpretadas na morte, mesmo este número assombroso é, provavelmente, subestimado. Um relatório divulgado no mês passado pela Human Right Campaign (Campanha de Direitos Humanos) constatou que em cerca de 80% das mortes relatadas desde 2013, as vítimas trans eram inicialmente mal interpretadas pela mídia ou pela lei.
Lazarus espera que a página assegure que pessoas trans desaparecidas e não identificadas sejam referidas usando seus pronomes e nomes corretos. Até o momento, ele afirma que ainda há muito trabalho a ser feito.
"Pessoas trans, elas lutam muito por suas identidades e seus nomes, então é o mínimo que eu poderia esperar é devolver isso, na esperança de que possam ser respeitadas na morte", concluiu.