Elayne Baeta nasceu na Bahia, é lésbica e tem dois livros publicados, sendo o primeiro deles, “O Amor Não É Óbvio”, o primeiro romance lésbico juvenil a integrar a lista de mais vendidos da revista "Veja". A história foi publicada anteriormente pelo Wattpad, plataforma on-line em que autores independentes compartilham suas histórias. Em 2019, o livro foi publicado pela editora Galera Record. Já “Oxe, Baby”, é a obra mais recente e também primeira coletânea de poesias de Elayne.
Em “O Amor Não É Óbvio”, o leitor entra em contato com Íris, uma adolescente de 17 anos viciada em novelas e que é apaixonada em segredo por um colega. A jovem então conhece Édra Norr e o romance girará em torno dos sentimentos e descobertas da juventude. Segundo Elayne, um dos principais motivos que a motivou escrever foi o fato de não encontrar representatividade enquanto crescia. “Eu lia romances heterossexuais fingindo que eram sobre meninas que gostam de meninas. Não me enxergava em nada e isso me motivou”, diz.
A autora revela que a falta de representatividade em produtos culturais no geral, podem contribuir para que pessoas LGBTQIA+ demorem para entender quem realmente são. O processo de aceitação, desse modo, é postergado, visto que crianças e jovens não possuem nenhum tipo de referência.
“Não havia onde me refugiar, nem em quem me inspirar. Sempre que eu perguntava se existia algum romance lésbico jovem nas livrarias para eu ler, a resposta era não. Isso fez com que eu perdesse o interesse aos poucos pela leitura de alguns gêneros, como o romance. Apenas pela exaustão de ter que imaginar, de ter que fingir, de ter que esperar que algum livro daqueles tivesse a audácia de ser sobre mim. Sobre garotas como eu”, revela.
Foi nos livros que Elayne encontrou uma forma de desabafar e contar sobre quem ela era. A autora pontua que escreve desde a infância, e mais tarde, como não lia nenhum romance lésbico, decidiu escrever o próprio.
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“Sempre mantive caderninhos de poemas guardados e ideias mirabolantes de livros. Escrevi algumas coisas que nunca terminei no Orkut e, quando me descobri, a falta de representatividade me levou a voltar a escrever na internet. Dessa vez, pela plataforma do Wattpad. Dessa vez, sem medo. Dessa vez, sobre meninas que gostam de meninas”, afirma.
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“Sempre gostei de ler, sempre gostei de livros. Quando eu não sabia ler, eu abria livros sem gravuras e inventava uma história na minha cabeça, fingia que estava lendo o que eu nem entendia das páginas. Meu avô foi um grande símbolo na minha jornada com livros, ele era assinante de clubes de livros. Chegavam pilhas e mais pilhas em casa. Quando ele ficou cego em decorrência das diabetes, precisava de olhos emprestados para manter a paixão por livros acesa. Eu fui os seus olhos por muito tempo”, conta.
Para ela, livros com temática LGBTQIA+ são extremamente necessários, ainda mais para a nova geração de leitores. “A grande maioria das pessoas se descobrem muito cedo. E nessa fase de descoberta é crucial ter onde encontrar abrigo, representatividade, refúgio, modelos a seguir, informação e companhia. Livros conseguem transmitir tudo isso. Alguns livros guardamos dentro do armário, talvez lá dentro também esteja alguém precisando muito deles. Isso muda absolutamente toda a experiência de auto-aceitação e de descoberta”, pontua.
Elayne, que também marca presença constante nas redes sociais, comenta que recebe inúmeras mensagens de leitoras agradecendo pela coragem demonstrada nas páginas. “Eu trabalho com inúmeros projetos entrelaçados e todas as ideias que coloco em prática na internet tem a intenção de disseminar a arte e a minha voz enquanto mulher lésbica, para que chegue nas meninas que gostam de meninas em forma de companhia. Estou constantemente gritando para elas por meio de tudo o que eu faço de que elas não estão sozinhas. E é sempre bom quando elas gritam um 'nós sabemos' de volta”, salienta.
Para Elayne, escrever um romance juvenil com protagonismo lésbico veio em decorrência da necessidade que tinha de uma narrativa leve. De acordo com a autora, a escassa representatividade que existia mostrava apenas um lado triste e violento da realidade de uma pessoa LGBTQIA+. “Eu queria dar a uma protagonista se descobrindo lésbica um final feliz, um romance digno de novela, um beijo de cinema, diferente da imensa carga de meninas que gostam de meninas tendo finais trágicos nas poucas representações que tínhamos na época. Eu queria ver meninas se apaixonando de um jeito doce e feliz. Sem falsa representatividade, sem hipersexualização da nossa sexualidade, sem que alguma de nós morresse no final”, finaliza.