A procura de homens pelos serviços de manicure se mostra uma tendência crescente, ao passo que, principalmente nas redes sociais, debates sobre estereótipos de masculinidade e a própria masculinidade tóxica estão sendo diariamente questionados. “Começou como algo bobo, para uma fantasia que eu ia fazer, mas quando eu fiz pela primeira vez já peguei gosto. Acima de tudo, porque achei a estética delas interessante. Com o tempo, fui descobrindo que talvez expressasse mais do que apenas estética, e nesses três anos já passei por muita coisa por conta delas, mas não me arrependo de nada”, conta Gabriel Lira, homem cis pansexual, sobre a experiência pintado as unhas.
Assim como ele, outros homens estão, aos poucos, explorando novas possibilidades de se expressarem pelas unhas. Vivian Mata, Nail Designer da Reiki Instituto de Beleza, diz que é cada vez mais comum encontrar homens no salão, sentados junto das manicures.
“Muitos homens agora parecem dar mais importância à aparência física, especialmente na faixa etária de 18 a 34 anos. Creio que o aumento foi gradativo, já que muitos influencers homens têm o costume de manter as unhas pintadas e tratadas, independente da orientação sexual, ajudando a quebrar esse tabu enorme. Ainda existe muita resistência, mas os jovens estão renovando as energias, já que eles têm a cabeça mais aberta a ‘mudanças’. Tenho notado um aumento muito maior de meninos e homens nas manicures, mas claro, ainda vejo muita gente torcendo a cara por isso”, conta.
Assim como Vivian citou, influenciadores nacionais e celebridades globais já apareceram com as unhas pintadas, sejam eles LGBT ou não, inspirando ainda mais esse movimento e a desconstrução gradual dos estereótipos e imposições.
A nail designer diz ainda que a maioria dos homens passa por um processo gradual, evoluindo no cuidado e na vaidade com as unhas aos poucos, conforme vão se acostumando e conhecendo novas possibilidades. Além disso, a atenção com as unhas dos pés também pode ser destacada dentro dessa tendência.
“Muitos rapazes passam por um processo gradativo, de apenas cuidar da saúde das unhas sem usar nem uma base, depois colocam uma cor, depois várias cores, até vir os mais específicos como alongamentos com gel ou fibra. É bem legal ver vários rapazes se aventurando nas possibilidades, já que até pouquíssimo tempo atrás, um homem de unhas pintadas era motivo de chacota, ou tinha a orientação sexual questionada. Além dos homens que vêm puramente pela saúde das mãos e pés, principalmente aqueles que usam sapatos fechados o dia inteiro, a pedicure pode ser um grande alívio”, explica.
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Dois métodos citados pela profissional valem um adendo: o alongamento com gel ou fibra. No primeiro caso, são unhas feitas à base de um gel fino e transparente, material que pode ser colocado sobre a unha e modelado em tamanho e forma conforme a pessoa preferir. Já o segundo caso, com a fibra, consiste na aplicação de fibras de vidro e gel para moldar o alongamento das unhas naturais e precisa ser seca com o auxílio de uma luz UV LED. Esse método permite que a fibra de adapte à unha de modo que o formato fique mais natural.
Gabriel conta que sua rotina de cuidados com as unhas é básica e sem segredos, mas suficiente para lhe deixar mais satisfeito com o próprio estilo. “Eu corto elas com uma certa frequência e faço apenas a esmaltação. Geralmente não demoro muito para escolher um esmalte, não tenho marcas favoritas nem nada. O que vale para mim é a cor me agradar. Geralmente as cores que mais escolho, por combinar com as roupas que uso, são escuras. Ou preto, ou algum tom de azul escuro”.
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Vivan ressalta que essa manutenção básica (corte de unha e retirada da cutícula) é bastante procurada pelo público masculino, bem como o cuidado com as unhas dos pés, citada anteriormente. "Muitos homens têm tendência a terem inflamações na região das unhas, então tirar a cutícula com uma certa frequência é essencial. Temos muita procura também no ‘spa dos pés’, que trata dos pés por um todo, com hidratações, reparação das unhas e reparação de calos”, explica ela.
Quanto aos esmaltes em si, a nail designer diz que a procura varia entre dois extremos e a preferência por parte dos homens tende a não ser fixa. Enquanto alguns optam por algo mais discreto, outros gostam de cores mais chamativas e estilos mais despojados. “Muitos gostam de pintar as unhas com base fosca, sem nenhum tipo de brilho e bastante discreto, mas tem a outra parte que ama brincar com as tonalidades de cores pastel (uma cor diferente em cada unha), além dos viciados em unhas pintadas de preto. Costumamos brincar com essa situação chamando de ‘os dois lados da moeda’”.
Diego Oliveira, homem cis bissexual, assim como Gabriel, tem o hábito de pintar as unhas e conta que o ideal seria que todos os homens se desprendessem dos rótulos que limitam as formas de ser e se expressar. “Seria muito bom se alguns homens se libertassem da masculinidade frágil e começarem a usar o que realmente querem porque a sociedade nos coloca rótulos e não devemos seguir isso, mas sim fazer e vestir o que realmente gostamos. Na rua nunca sofri nada [por usar esmalte], mas dentro de casa meu pai não gosta, então, às vezes, ele solta comentários desnecessários”.
Gabriel também relata que já ouviu palavras rudes e desrespeitosas apenas por ter o costume de pintar as unhas. Ele aprendeu a lidar com os comentários preconceituosos ao ponto de não permitir que isso afete a forma como ele expressa a própria masculinidade.
“Praticamente toda semana eu ouço as mesmas coisas: ‘Isso é coisa de viado, isso é coisa de mulher, homem de verdade não pinta a unha’, entre algumas outras, mas com o passar do tempo passei a simplesmente ignorar. Quando eu entendi que a visão dos outros não vale de nada se vem dessa forma, eu só passei a deixar de lado. Aprendi que responder esse tipo de comentário na rua com gentileza gera uma resposta ainda pior para a pessoa. Geralmente só elogio alguma coisa na aparência da pessoa que comenta essas coisas e automaticamente recebo um pedido de desculpas pelo comentário”, relata.
Ele ressalta ainda o quanto a quebra dos estereótipos atrelados ao “o que é ser homem” pode beneficiar os indivíduos, principalmente se tratando da liberdade individual e em como explorar a si mesmo e os próprios gostos de maneiras mais plurais, além, é claro, de garantir a saúde das mãos. “Ao gerar o interesse inicial como estética, se abre um leque para mostrar que esse cuidado, por mais básico que seja, pode trazer benefícios à saúde das mãos, que agora estarão mais bem cuidadas”
Vivan Mata reitera a questão da saúde das unhas e deixa claro que esse cuidado vai muito além da estética em si. “Fazer as unhas deixa o aspecto das mãos muito mais saudável, e isso vai muito além de pintar elas de alguma cor ou não, já que muitos homens apenas passam base nas unhas. O preconceito acaba impedindo esse homens de se aventurar em um "cuidado" com o corpo, que pode ser benéfico além da estética”, diz.
E para aqueles que estão começando a se aventurar nos cuidados com a unha, a profissional chama a atenção para alguns fatores aos quais é importante se atendar para realizar a rotina de maneira segura e correta, oferecendo assim maior bem-estar e satisfação pessoal.
“Sempre priorize o cuidado com a pele e com as unhas. Use sempre material esterilizado, limpo e com muito cuidado para não se machucar. Depois de fazer as unhas, é legal passar um hidratante nas mãos e evitar água muito quente nos primeiros dois dias, já que a região ainda estará sensível”, conclui.