As laces ganharam destaque nas discussões do mundo da beleza principalmente após o BBB 21, quando a integrante Camila de Lucas utilizou o recurso. Após dois meses de confinamento, a participante se despediu de suas tranças, ficou algumas horas com o cabelo natural e depois deu as caras utilizando uma lace, acessório semelhante à peruca, mas com truques específicos na hora de aplicar -- usando cola própria ou fitas adesivas. Essa modalidade foi incorporada no dia a dia de muitas celebridades, como Nicki Minaj, Beyoncé e Ludmilla, entre outras.
A maior dúvida com relação a esse recurso é: "qual a diferença entre lace e peruca?" O principal diferencial é que as laces possuem uma telinha que simula o couro cabeludo e os fios são costurados um a um, dando um acabamento mais realista. No mercado são muitos os tipos de lace disponíveis, cada uma com características próprias.
Front lace: somente a telinha na parte da frente é fio a fio.
Full lace: completamente fio a fio na telinha.
360: a lace fica em volta e, no meio, ficam as tiras de cabelo.
Repartição 4x4: só o topo e os lados possuem tiras de cabelo.
13x4/13x1: se referem ao tamanho da tela, mas basicamente são laces feitas sob medida, de acordo com a necessidade de cada pessoa.
A versatilidade das laces permitem que sejam adotadas diferentes cores e penteados sem comprometer o cabelo natural, além de impulsionar a autoestima de muitas mulheres, incluindo mulheres trans. Valentina Sá, mulher trans e drag queen, tem as laces muito presentes em seu cotidiano e conta como elas são importantes.
“As laces, para mim, são de extrema importância. Eu uso perucas regularmente e adquiro laces principalmente para o meu trabalho como drag queen. Algumas coloridas e algumas de fibra sintética, mas tenho outras de cabelos humanos para o meu uso diário. São componentes que não podem faltar na minha vida, pois preciso usá-las para suprir a minha necessidade de ter um cabelo mais próximo dos estereótipos femininos”, explica.
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Valentina destaca ainda como as laces são importantes para a vida e a socialização de mulheres trans, principalmente por suprirem a necessidade que elas podem sentir de ter um cabelo comprido e, consequentemente, mantém a autoestima dessas mulheres.
“Elas [as laces] contribuem para que as mulheres trans tenham empoderamento, pois muitas geneticamente não conseguem ter um cabelo nos parâmetros femininos, então as laces suprem essa necessidade. Ela reproduz com muita fidelidade o cabelo humano como ele é, por ter uma tela invisível, permanecer na cabeça por mais tempo e ser uma prótese no lugar de uma peruca comum”, explica.
A procura desse público pela aplicação de laces, porém, ainda é tímida. Renata Pacheco, especialista em alongamento adesivado, método exclusivo de mega hair desenvolvido por ela, explica que o mercado ainda alimenta muitos preconceitos e, por isso, é comum que o público trans não se sinta inclinado a procurar pelos profissionais.
“O que se nota é que não temos muita procura porque é um mercado no qual as pessoas têm muito preconceito, então o público não vai atrás de profissionais que já estão inseridos nesse meio. Precisa-se abordar mais a questão porque as pessoas trans acabam tendo medo de procurar determinados salões. Todas as mulheres trans que já atendemos relataram a falta de carinho no atendimento. Mesmo as que têm condições de pagar reclamam da falta de carinho e dos olhares tortos”, conta.
Além da posição estruturalmente marginalizada em que são colocadas, Renata chama a atenção para a importância das transformações físicas para muitas mulheres trans, bem como a importância de que os profissionais da beleza saibam acolher e atender todos os públicos perante suas especificidades.
“O mercado brasileiro está totalmente despreparado. A população trans vive à margem e esses profissionais de beleza são importantes, pois elas precisam dessa transformação física. Não quer dizer que elas necessariamente precisam ter cabelos longos para serem ‘mais mulheres’, mas para muitas é isso que dá forças e as associa ao padrão feminino -- que também é um problema. Se identificar enquanto mulher vai muito além de se vestir e se ‘parecer’. O país está despreparado, vemos preconceito em todos os ambientes. Os salões de beleza grandes ainda não estão aptos para atendê-las”, declara.
Valentina reitera a falta de preparo dos profissionais, baseando-se em nas próprias experiências na área. Ela destaca que o meio visa muito mais o lucro do que o bem estar da cliente. “Os profissionais querem trabalhar com o público trans, mas falta um preparo humano, perceber as necessidades reais da pessoa. Acho que existe muito mais o foco no lucro do que a atividade humanizada. Sei que estamos em um mundo capitalista, mas se formos falar dentro dos parâmetros das ciências humanas, creio que ainda está mais voltado para o capital do que para o social”.
Dentre os obstáculos no acesso a este recurso há o preço das laces, que muitas vezes não cabem no orçamento de mulheres trans. Valentina ressalta isso: “O valor de uma lace é muito alto e nem todas as meninas têm a possibilidade de adquirir uma. Se fossem mais baratas, o acesso seria maior”.
O valor da lace pode variar, principalmente pela pluralidade de comprimento, texturas e cores. Uma lace curta feita de cabelo humano, por exemplo, pode custar a partir de R$ 800. Detalhes mais específicos, como o material utilizado na tela da lace também influenciam no preço; uma full lace lisa, de cabelo humano, 55 cm de comprimento e tecido macio no interior pode custar até R$ 5 mil. Já as de material sintético normalmente são mais baratas, custando a partir de R$ 400. Em todo caso, além de pesquisar pelos melhores preços, é fundamental ter informações sobre a reputação do estabelecimento e a qualidade dos produtos.