A Netflix decidiu banir uma funcionária que se manifestou contra o especial de comédia “The Closer”, do comediante norte-americano Dave Chappelle. O motivo seriam as falas transfóbicas ditas pelo ator durante o show, que não tem agradado a diversas organizações LGBTQIAP+ nos Estados Unidos.
No especial, Chappelle decidiu abordar as falas polêmicas proferidas pela autora J.K. Rowling, escritora britânica de Harry Potter, de cunho transfóbico. "Cancelaram J. K. Rowling. Meu Deus. Efetivamente, ela disse como gênero era um fato e a comunidade trans ficou furiosa, e começaram a chamá-la de feminista radical trans-excludente [TERF]. Eu sou time TERF. Concordo, gênero é um fato”, disse Chappelle no especial.
A engenheira de software Terra Field, uma empregada trans da plataforma de streaming, escreveu um tweet no dia 6 em que afirma que o especial ataca a comunidade LGBT+.
“Eu trabalho na Netflix e ontem nós lançamos outro especial de Chappelle que ataca a comunidade trans e invalida a transgeneridade. Tudo isso enquanto tenta nos colocar contra outros grupos marginalizados. Vocês vão ouvir falar muito sobre ‘ofensa’. Nós não estamos ofendidos”, afirmou.
Leia Também
As falas de Tierra viralizaram no Twitter e começaram a levantar debates relacionados à cultura do cancelamento e liberdade de expressão. Segundo o The Verge, Tierra e dois outros funcionários da Netflix levaram suspensões por supostamente tentarem comparecer a uma reunião com um dos diretores em que não estavam convidados. Um deles pediu demissão da empresa por ter permitido que o show fosse ao ar.
Procurados pela redação do The Verge, a Netflix afirmou que não suspendeu Tierra ou outros funcionários devido a discordâncias no catálogo, já que “todos os funcionários são encorajados a discordar abertamente” do conteúdo. A conduta dos funcionários trans e aliados foi de questionar a Netflix o motivo pelo qual esse especial iria ao ar e quais seriam os critérios usados pela empresa para avaliar falas violentas em seus conteúdos.
Além de funcionários, instituições como a Gay & Lesbian Alliance Against Defamation (GLAAD) e a Coalizão Nacional Negra por Justiça apontam erros nas falas de Chappelle. “O novo especial de Chappelle se tornou sinônimo de ridicularizar pessoas trans e outros grupos marginalizados”, afirmou a GLAAD. “Perpetuar transfobia é perpetuar violência. Netflix deveria retirar ‘The Closer’ de sua plataforma imediatamente e se desculpar à comunidade trans”, disse a coalizão.
No dia 8 de outubro, Ted Sarandos, um dos CEOs da Netflix, enviou um e-mail interno aos funcionários em que afirma que “não é bom machucar as pessoas, especialmente nossos colegas”. “Vocês também devem saber que alguns talentos podem pedir que removamos o especial nos próximos dias. Nós não vamos fazer isso”, sinalizou.
O motivo pelo qual o show não seria banido estaria relacionado a alta procura aos shows de Chappelle e de stand ups em geral pelos assinantes da Netflix.
“Empregados trans da Netflix estão fazendo reuniões com executivos há anos para tentar educá-los sobre o impacto do conteúdo transfóbico”, afirmou. Ele também aponta no e-mail sobre filmes do catálogo que praticam transfake
(quando um ator cisgênero interpreta uma pessoa transgênero) e que têm pensado em conteúdos que sejam confortáveis para todos.