Papa Francisco cumprimenta o premier húngaro Viktor Orbán em rápida visita à Hungria
Reprdução/Agência O Globo
Papa Francisco cumprimenta o premier húngaro Viktor Orbán em rápida visita à Hungria



Durante a sua primeira viagem internacional após uma  cirurgia no intestino grosso, o Papa Francisco utilizou uma rápida visita a Budapeste para pedir aos bispos húngaros que abracem a diversidade, enviando também uma mensagem ao primeiro-ministro do país, o nacionalista de direita Viktor Orbán, de que Deus não é alguém que silencia inimigos e que as raízes religiosas, mesmo que vitais a um país, também permitem abrir os braços e extendê-los "a todos".


Na visita de sete horas no país, Francisco esteve em uma missa de encerramento de uma conferência internacional sobre a eucaristia em Budapeste neste domingo, com dezenas de milhares de pessoas presentes. A ida à Hungria ocorre antes de uma visita de quatro dias à vizinha Eslováquia. A disparidade no tempo entre os dois países levou diplomatas e a mídia católica a sugerirem que o Papa está dando prioridade à Eslováquia e até esnobando a Hungria.

Orbán vem se retratando como um defensor da Europa cristã, aumentando suas conexões com tradicionalistas da Igreja Católica, muitos dos quais são críticos de Francisco, faltando menos de um ano para as eleições legislativas de abril de 2022. O encontro entre o Papa e o premier durou cerca de 40 minutos e teve a presença do presidente húngaro Janos Ader, de outras autoridades civis e de funcionários de política externa do Papa em um salão aberto no Museu de Belas Artes.

O premier húngaro tentou aproveitar politicamente a visita, publicando fotos cumprimentando Francisco nas suas redes sociais, escrevendo que pediu ao Papa "que não permitisse que a Hungria cristã morresse". A questão da imigração, a qual Orbán sempre adotou linha dura, aparentemente não surgiu na reunião, segundo o Vaticano. No entanto, Francisco abordou a questão em seu encontro na sequência com um grupo de bispos húngaros.

"Seu país é um lugar onde pessoas de outras populações vivem juntas há muito tempo", disse ele. Várias etnias, minorias, religiões e imigrantes também transformaram este país em um ambiente multicultural.

Francisco disse que, no início, “a diversidade sempre causa algum medo porque põe em risco a segurança adquirida e perturba a estabilidade alcançada”, mas acrescentou que ela também foi uma grande oportunidade de alcançar a fraternidade.

"Diante da diversidade cultural, étnica, política e religiosa podemos ter duas reações: fechar-nos em uma defesa rígida de nossa chamada identidade, ou abrir-nos para encontrar o outro e cultivar juntos o sonho de uma sociedade fraterna", afirmou Francisco.

Parte do sucesso de Orbán no país, que governa desde 2010, é devido à sua linha dura contra a imigração. Em uma conferência internacional na Eslovênia na semana passada, Órban disse que os imigrantes de hoje "são todos muçulmanos" e que apenas "a política familiar cristã tradicional pode nos ajudar [referindo-se à Europa] a sair dessa crise demográfica".

Francisco, por outro lado, muitas vezes criticou o que vê como um ressurgimento de movimentos nacionalistas e populistas, apelou à unidade europeia e criticou os países que tentam resolver a crise migratória com ações unilaterais ou isolacionistas.

Orbán, no entanto, viu a agenda da imigração recuar nos últimos meses e voltou suas atenções às questões ligadas a gênero e sexualidade. Ele tem se tornado cada vez mais radical na política adotada contra os direitos das pessoas LGBTQIAP+, a qual diz ser uma luta para salvaguardar os valores cristãos tradicionais da influência do liberalismo ocidental. Em julho, o Parlamento húngaro aprovou uma lei que proíbe a divulgação em propaganda e nas escolas de conteúdos que supostamente promoveriam a pornografia, a homossexualidade e a mudança de gênero.

A nova Constituição húngara, aprovada em 2011 já com o Parlamento sob controle do Fidesz — partido liderado por Órban —, define o casamento como a união entre um homem e uma mulher, e abriu margem para a proibição do casamento gay e outras restrições aos direitos LGBT+.

Neste domingo, a mídia húngara, que é muito influenciada por Orbán, afirmou que o premier deu a Francisco uma cópia de uma carta enviada por um rei húngaro do século 13 ao Papa na época. No documento, o rei reclamou que os apelos à igreja por ajuda contra uma invasão dos exércitos mongóis resultaram apenas em palavras vazias.

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